Disco: “Volume, 1”, Impuro

/ Por: Cleber Facchi 20/11/2012

Impuro
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://soundcloud.com/impuro

Por: Cleber Facchi

Ainda que bastem as rimas fortes e consistentes que residem em cada um dos trabalhos de nomes recentes do rap nacional – como Rashid, Projota, Xará entre outros – a simplicidade como é explorada a sonoridade de cada um desses álbuns deixa inevitavelmente a desejar. Talvez com exceção do último registro de Criolo (Nó na Orelha) e Emicida (Doozicabraba e a Revolução Silenciosa), de forma geral o flow melódico e bem elaborado dos rappers é o que acaba por decidir o rumo dos lançamentos, quase sempre trabalhados em cima de batidas convencionais, bases simples e samples raros que de fato garantam notoriedade ao trabalho.

Interessante notar que mesmo dotado de poucos privilégios e fazendo uso do mesmo baixo orçamento que decide os rumos de qualquer registro do gênero, o paulistano Impuro alcança novo resultado dentro do primeiro álbum da carreira: Volume, 1 (2012, Independente). Trabalhado de forma leve e acessível dentro de um pequeno grupo de composições, o álbum assume o mesmo eixo atrativo deixado por Projota em Não Há Lugar Melhor No Mundo Que o Nosso Lugar no último ano, substituindo a visão ampla (e com foco na crítica social) do paulistano para tratar da individualidade transferível. Dessa forma, mesmo versando sobre si próprio, o rapper vindo de Jundiaí converte todas as situações em recortes cotidianos que se encaixam na vida de qualquer ouvinte.

Com uma produção bem delineada – créditos divididos nas faixas Escolhar Certa e Carta às Crianças, parceria com DJ Keels – e versos que atraem sem grandes esforços, Impuro (como o próprio nome já aponta) dá um passo além, fazendo parte de um universo distinto e quase individual do estabelecido desde a retomada do rap brasileiro. Quebrando os versos e o olhar cinza sobre a periferia, o rapper encontra na vontade própria de crescer a engrenagem que movimenta toda a extensão do registro. Um disco que beira a autoajuda em alguns pontos, mas que carrega na mensagem forte das palavras a força para engrandecer cada faixa revelada.

Sem neurose, a vida é essa, e o estresse não alivia/ Viva o hoje, esquece o resto, não importa o que havia”. Dentro desse jogo de palavras instaladas em músicas como Fone e Moletom, Impuro de forma alguma se desvencilha das mazelas, apenas converte o trabalho e as palavras que o cercam em um sustento ou talvez reforço para quem vive de forma desgastada às margens da sociedade – não apenas as periféricas. A proposta se repete ainda em músicas como O Preço (Mas amigo, eu já cresci vendo de fora sua estratégia/ E algum dia a minoria começa a rebelião) e Deus Nos Acuda – esta última se apropriando de uma sonoridade que muito lembra os experimentos herméticos de Clams Casino.

Dentro da multiplicidade de registros que circulam pela produção nacional, Impuro talvez seja o que assuma a proposta de maior distinção, não apenas sonora, mas principalmente lírica. Sem medo de provar do apelo pop, o rapper aproveita grande parte do trabalho para exaltar referências honestas à cultura pop. Se no decorrer de Uzumaki Naruto o artista presta uma “homenagem” consciente aos realces filosóficos do personagem de desenho animado que carrega o mesmo nome, em Fun Fun Fun o rapper vai um pouco além. “O que? Ce quer um magrelo tosco fã de indie rock? Firmão! Sigo meus passos sem esquecer do Edi Rock”, rima Impuro, que ainda aproveita para falar sobre Rebeca Black, NOFX, Ray Ban e outras referências não convencionais para o estilo no decorrer da faixa.

Mesmo reforçado por vocais que talvez desagradem – não há como evitar as comparações com a voz do carioca De Leve -, o registro mantém até o último instante a boa condução, fazendo com que Impuro apresente sua proposta e conquiste as devidas atenções logo nos primeiros inventos da obra. Ainda que seja capaz de entregar a mensagem ao ouvinte antes do encerramento do trabalho, Volume, 1 e o caráter sequencial expresso no título do álbum tornam claro que rapper vai voltar. Mantendo ou não a mesma proposta, Impuro já conseguiu criar e ocupar o próprio espaço, daqui pra frente a ascensão parece um rumo quase óbvio.

Volume, 1 (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Projota, Ogi e Kamau
Ouça: Carta Às Crianças, Fone e Moletom e Uzumaki Naruto

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.