Disco: “Volume 3”, She & Him

/ Por: Cleber Facchi 01/05/2013

She & Him
Indie Pop/Folk/Female Vocalists
http://www.sheandhim.com/

Por: Cleber Facchi

She & Him

Não são poucos os artistas que insistem em mergulhar nos sons dos anos 1960 de forma a materializar um pastiche de tudo o que foi testado há cinco décadas. Entretanto, é preciso concordar que ninguém assume tal proposta com tamanho gracejo e sutileza quanto a dupla She & Him. Contrariando a lógica de artistas superprotegidos pelo apelo cego do grande público, Zooey Deschanel e M. Ward chegam ao terceiro capítulo de sua própria aventura de forma a reverenciar o que há de mais nostálgico e naturalmente melódico em décadas de produção musical – tudo isso sem perder o carisma e um doce toque de convencimento.

Assim como nos dois registros que antecedem o presente álbum – Volume 1 (2008) e Volume 2 (2010) -, o esforço do casal consiste em resgatar marcas específicas da produção firmada entre 1950 e 1970, principalmente as melodias de vozes. São referências diretas ao trabalho de Brian Wilson na fase mais rica do The Beach Boys, composições esquecidas da música pop estadunidense e até um mergulho sombrio pelo concioneiro de raíz que amargou as primeiras gravações da música Country. Um composto embalado de forma comercial, seja pela presença ensolarada de Deschanel ou pelo  acerto de M. Ward em trabalhar com cuidado cada mínimo fragmento do disco.

Como assumido no título da obra, Volume 3 (2013, Marge) se apresenta como o terceiro e continuo ato de uma coletânea de registros movidos pela nostalgia. É quase como um daqueles especiais que você encontra em comerciais do estilo 0800. Cada vez mais consciente dos limites do próprio trabalho, Ward despeja uma solução instrumental delicada e límpida, um plano de fundo ilimitado que cobre todas as arestas deixas pelos vocais solares da parceira. Contrariando os altos e baixos do último disco, o presente álbum preza pela estrutura crescente das faixas, marca que auxilia a dupla a produzir um registro delimitado pela harmonia entre as canções e a capacidade natural de prender o ouvinte.


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O pop, assim como nos dois últimos álbuns, parece ser a base para cada relance apaixonado ou carinhosamente melancólico que sustenta o disco em completude. Versos fáceis, pianos harmônicos, guitarras fofas que crescem desmedidas e um estranho sorriso que se esparrama no canto da boca. Sem a previsão de um hit maior – marca previamente assumida por In the Sun e Why Do You Let Me Stay Here? -, a dupla trata do registro como uma obra única, efeito que gruda uma composição na outra, guiando o disco em uma sequência acalentada de vozes e líricas que tratam os sentimentos com doçura. Dessa forma, temos em mãos o resultado mais homogêneo de toda a curta trajetória do casal.

Mais uma vez o She & Him parece ser a única banda que fala de amor e término de relacionamento sem que para isso recorra aos dramas ou temáticas sofríveis do gênero. Assim como os personagens de Deschanel flutuam em uma medida graciosa entre o trágico e cômico, cada canção do novo disco parte do mesmo princípio. Seja na saudade desmedida de Hold Me, Thrill Me, Kiss Me ou na música de superação que é Never Wanted Your Love, tudo parece encarado como cenário para uma tímida comédia romântica. Um resultado que sustenta a previsibilidade dos versos, afinal, é possível antecipar o que Zoey canta em sequência, e consequentemente acolhe o ouvinte em uma identificação menos amarga para o próprio sofrimento. Sofrer por amor até parece algo benéfico no universo da dupla.

Por se tratar de um trabalho que resgata elementos específicos de uma época, exigir qualquer mudança dentro da estrutura da obra seria um erro, entretanto, Ward e parceira arriscam. Ele, pescando referências diversas que tocam o Soft Rock e até extensões mais recentes da música pop, ela, brincando com os vocais em um apelo cênico que funciona como um suspiro. Como resultado, nada mais natural do que encontrar um registro que respira coerência. Poderia ser apenas mais um álbum de nítido apelo passageiro, mais o detalhamento confeitado e as pequenas doses de açúcar que temperam o disco fazem de Volume 3 um trabalho que merece ser encarado não uma, mas diversas vezes.

 

She & Him

Volume 3 (2013, Marge)


Nota: 7.5
Para quem gosta de: M. Ward, Feist e Laura Marling
Ouça: I’ve Got Your Number, Son e I Could’ve Been Your Girl

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.