Disco: “Vows”, Kimbra

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2011

Kimbra
Alternative Pop/Soul/Experimental
http://www.myspace.com/kimbramusic

Por: Cleber Facchi

Muito embora grande parte do público consumidor de música ainda insista em se afundar em sons repetitivos, cantoras novatas que fazem o mesmo tipo de música que circulava há 10 ou 20 anos e temáticas que mesmo gastas são apresentadas como algo incrivelmente “novo”, por mais incrível que pareça há sim espaço e pessoas que façam a música pop brilhar sem exatamente soar como uma grande massa sonora redundante. Um belo exemplo disso está em Vows (2011, Warner Bros.), registro de estreia da neozelandesa Kimbra Johnson, cantora que se valendo de elementos do jazz, soul e até da música experimental transforma seu debut em um álbum que mesmo acessível ao público passa longe das mesmas repetições do gênero.

Discípula de grandes veteranas do Jazz e da Soul Music, entre elas a memorável Nina Simone (por todos os lados ecoam referências ao que a jazzista desenvolveu ao longe do sua carreira), Kimbra faz de seu primeiro registro em estúdio um mergulho nas décadas de 1960 e 70, claro, dentro de uma linguagem essencialmente plástica e renovada. Contudo, longe de soar como qualquer novata britânica que utiliza das exatas mesmas referências, Johnson traz para junto de suas composições um tempero novo e por vezes inédito, uma especiaria rara vinda das frias terras islandesas, um elemento chamado Björk.

Não apenas pelo timbre de voz ou pela forma como a neozelandesa vai derramando seus vocais aos longo das 11 faixas do álbum, mas principalmente pela forma como as melodias instrumentais vão se posicionando dentro do registro. Por todos os lados batidas assíncronas vão se aconchegando no interior do trabalho, ditando assim a condução do não tão delicado álbum da cantora, que parece mudar sua forma de cantar ou de se impor em cada nova composição, às vezes até mesmo em cada novo segundo da faixa. É como se por todos os lados uma versão mais lenta do clássico Post pudesse ser encontrada, não de forma copiada, mas como uma referência mesmo.

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É notável a evolução tanto nos vocais quanto da instrumentação que cerca Kimbra desde que seus primeiros singles começaram a surgir em meados de 2005. Embora Deep For You e Simply On My Lips já trouxessem notáveis distinções quando posicionados ao lado de muito do que era promovido naquele momento, somente agora que a cantora parece ter alcançado seus melhores resultados, algo facilmente absorvido ao nos depararmos com Vows, um disco que cresce significativamente em cada nova audição e um trabalho capaz de modificar seu foco constantemente.

Johnson é inegavelmente parte de um seleto grupo de cantoras contemporâneas, como CocknBullKid e Robyn, que mesmo atreladas ao que há de mais convencional na música pop e radiofônica conseguem manter uma naturalidade e originalidade em suas composições, quebrando os constantes momentos de marasmo pelos quais o gênero acaba transitando. Principalmente nos momentos iniciais do álbum, através de faixas aos moldes de Settle Down e Good Intent (que tem um toque de Human Behavior), Kimbra deixa escorrer seus momentos de maior aproximação com o grande público, guardando para os mementos finais do disco suas doses de experimentação e busca por um som mais excêntrico, algo bem representado nos mais de cinco minutos de The Build Up.

Mesmo bem estruturado e dotado de uma instrumentação coesa, em alguns momentos do álbum Kimbra dá alguns claros tropeços, impedindo que o disco obtenha uma melhor execução, porém, algo facilmente compreensível por se tratar de um registro de estreia. Conforme o disco se desenvolve, a cantora abre duas frentes distintas e que podem definir os rumos de seus próximos trabalhos. A primeira é voltada essencialmente à música pop, enquanto a segunda aos sons puramente experimentais, sendo apenas dela a escolha de que caminho deve ser seguido futuramente. Caso opte pela segunda opção, aguardem por um provável grande lançamento.

Vows (2011, Warner Bros.)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Björk, Bat For Lashes e Lykke Li
Ouça: Settle Down e Good Intent

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.