Disco: “Wait To Pleasure”, No Joy

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2013

No Joy
Shoegaze/Dream Pop/Noise Pop
http://nojoy.bandcamp.com/

 

Por: Fernanda Blammer

No Joy

Mesmo que o retorno de Kevin Shields com o My Bloody Valentine se mantivesse dentro de um entendimento mítico e nunca concretizado, as marcas construídas dentro do clássico Loveless (1991) seriam mantidas em uma infinidade de registros recentes. Caso evidente disso está no trabalho da dupla canadense No Joy. Herdeiras de tudo aquilo que o Shields conquistou no começo da década de 1990, Jasamine White-Gluz e Laura Lloyd trazem no abuso de guitarras saturadas e batidas encobertas a diretriz para alimentar um dos projetos mais complexos do rock norte-americano, proposito testado nas sonorizações de Ghost Blonde (2010) e agora aprimorado na extensão de Wait To Pleasure (2013, Mexican Summer).

Em busca de um som menos tímido do que o aplicado no registro antecessor, com o novo disco a dupla assume um ponto de continuidade, não em relação ao que fora testado há três anos, mas com o Negaverse EP, obra curta lançada em 2012. Cada música do presente disco parece alimentar a ambientação ruidosa da faixa seguinte, resultando em uma obra que mesmo orientada por diferentes marcas, reproduz um ambiente fechado e tem seus limites compreendidos em totalidade.

No meio dessa nuvem colorida de experimentos e sobreposições, os vocais femininos nada límpidos surgem como uma espécie de bússola, orientando o ouvinte durante toda a extensão do projeto. Desenvolvido em cima de uma proposta conceitual nada caseira – resultado facilmente observado no primeiro álbum -, Wait To Pleasure parece assumir experiências muito próximas das que orientaram os nova-iorquinos do The Pains Of Being Pure At Heart em Belong (2011). São composições que mesmo trabalhadas dentro de um proposito estritamente ruidoso e pouco comercial, trazem no apoio melódico das vozes um curioso exercício de contraste.


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Durante toda a extensão da obra, White-Gluz e Lloyd em nada parecem interessadas na formação de um trabalho de fundo comercial ou de mínimas associações com o pop. Entretanto, estranho perceber que é exatamente isso que elas encontram. Rompendo com o ambiente quase claustrofóbico do primeiro álbum, cada faixa do recente disco incorpora uma formatação atrativa, estrutura que faz de Hare Tarot Lies e Lunar Phobia pontos de aproximação para os não habituados a esse tipo de som. Logo, mesmo íntimas dos estranhos entrelaces ruidosos de outrora, as canadenses fazem dessa orientação uma estratégia para ampliar os limites da obra.

Ao mesmo tempo em que a exaltação dos vocais e pequenas tapeçarias sonoras aproximam a dupla de um novo propósito, não são poucos os momentos em que o No Joy preza pelo hermetismo e a resolução complexa que tanto orientou o trabalho passado. Blue Neck Riviera, por exemplo, traz nos condimentos eletrônicos uma curvatura esquizofrênica em relação a tudo o que a dupla vinha desenvolvendo. Logo à frente, em Wrack Attack, o apoio em um som de forte manifestação psicodélica mais uma vez altera os rumos das canadenses, que pouco a pouco se distanciam da obra de Kevin Shields para encontrar um caminho próprio.

Assim como a própria faixa de abertura já alerta, Wait To Pleasure traz na inexatidão das formas um exercício de descoberta constante. Jasamine White-Gluz e Laura Lloyd parecem ter compreendido que para livrar o No Joy das possíveis redundâncias já favorecidas no primeiro álbum seria necessário se reinventar, e é justamente isso que elas assumem em cada estranha faixa que se constrói e desmorona durante todo o álbum.


No Joy

Wait To Pleasure (2013, Mexican Summer)


Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Pains Of Being Pure at Heart e Warpaint
Ouça: Hare Tarot Lies, E e Wrack Attack

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.