Disco: “Wallk The River”, Guillemots

/ Por: Cleber Facchi 14/04/2011

Guillemots
British/Indie Pop/Alternative
http://www.myspace.com/guillemotsmusic

 

Por: Cleber Facchi

Ao que tudo indica 2011 é o ano escolhido por um relevante número de bandas para se desculparem por seus trabalhos “menos inspirados” (para não dizer coisa pior). Foi assim com o The Pidgeon Detectives, que acaba de lançar Up, Guards And At ‘Em! para se desculpar pelo fraco Emergency (2008), e o mesmo aconteceu com o I’m From Barcelona, que depois de decepcionar seus fãs com Who Killed Harry Houdini (2008) voltaram inspirados com Forever Today. E agora é a vez da multicultural Guillemots pedir desculpas pelo ambicioso Red (2009) com o lançamento de seu terceiro e gratificante álbum de estúdio.

Quem ainda desconhece a banda formada pelos ingleses Fyfe Dangerfield e Greig Stewart, o brasileiro MC Lord Magrão e a canadense Aristazabal Hawkes não sabe a beleza de melodias e das composições que está perdendo. Criado em meados de 2004 na cidade de Birmingham, o grupo impressionou o mundo pela maestria com que orquestrava suas faixas em Through The Windowpane (2006). Comovente, o registro borbulhava canções de uma beleza única, como Trains To Brazil (feita em homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia britânica em 2005), Annie, Let’s Not Wait e a épica Sao Paulo.

Entretanto, se ao estrearem a repercussão e o sucesso sobre o disco da banda foram mais do que merecidos, a sequência lançada três anos mais tarde seria um enorme e vergonhoso fracasso. Foram poucos os que ousaram defender Red, afinal, o disco é uma tentativa (falha) da banda em soar de maneira mais fácil, deixando fluir seu lado roqueiro, o que originou em uma série de canções fracas, com letras quase pueris e dignas de exemplificar a expressão “vergonha alheia”. Mas respirem aliviados, afinal, Walk The River (2011), novo disco do quarteto é uma sequência de faixas dignas de encher os olhos de lágrimas e constantes arrepios.

Durante pouco mais de uma hora, a banda britânica te convida a navegar por sua sonoridade sofrida e detalhista, brincando a todo momento entre o erudito e o pop, o rock e a música clássica, numa sucessão de faixas banhadas pelo lirismo feitas para quem já é fã de Arcade Fire (ou quem não é) se emocionar. Os erros – entre eles o trabalho solo de Fyfe Dangerfiled lançado em 2010 – felizmente ficaram para trás, o grupo retoma o curso do rio iniciado durante o debut e segue de forma magistral durante as doze canções do presente disco.

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O novo álbum fica marcado por dois tipos de canções bem definidas: as faixas dotadas de um contexto mais pop e acessível, e as entregues por inteiro dentro de uma temática profundamente orquestrada e tomadas por um contexto épico, quase operístico. Dentro desse primeiro grupo destacam-se tanto a faixa título, como a fácil The Basket (disparada uma das melhores composições de toda a carreira da banda), além da melancólica Slow Train, com seu refrão pegajoso (“Don’t Slow me Down”), tendo Dangerfield derramando seus vocais ao longo da canção.

Dentro do segundo grupo estão inclusas pérolas como Sometimes I Remember Wrong e Yesterday Is Dead, ambas com mais de oito minutos de duração, além de Inside e I Don’t Feel Amazing Now. Em todas as quatro canções torna-se perceptível a maneira com que a banda busca explorar sua instrumentação de forma detalhada, dando seguimento a um ritmo, que, embora belo, acaba se tornando facilmente redundante. Basicamente as faixas começam de forma ponderada, unindo acordes minimalistas a uma fluência crescente, até que finalmente a faixa exploda de forma incondicional, gerando uma catarse de vocais e instrumentos. Entretanto, por mais padronizadas que sejam, não há como desmerecer a beleza e a sinceridade com que as faixas são construídas.

Um dos maiores erros do trabalho anterior estava na maneira desordenada com que a banda construía suas canções, como se cada uma das faixas apontasse para uma direção diferente, demonstrando uma completa desordem musical. Já Walk The River é o completo oposto disso. Da primeira à última faixa vê-se que há uma espécie de linha, uma condução única que perpassa todas as doze canções, algo que nem o primeiro disco conseguia agregar, já que o quarteto apostava tanto no uso de sonoridades momentaneamente pacatas e reducionistas (Little Bear, Blue Would Still Be Blue e And IF All…), como na construção de faixas gigantes e festivas (Sao Paulo e We’re Here). Com o terceiro disco percebe-se uma padronização, um tipo de seguimento que garante toda a estabilidade do trabalho.

Assim como é recomendável que Who Killed Harry Houdini e Emergency sejam sumariamente deixados para trás, o mesmo deve ser feito com Red. O atual registro do Guillemots faz com que toda a fé que os fãs tinham com a banda simplesmente retorne, afinal, não há como escapar da assertiva condução do disco e sua sequência de composições genuínas, fazendo com que toda a sensação adquirida ao ouvir Through The Windowpane volte quase que imediatamente. Com Walk The River o quarteto pede suas mais sinceras desculpas sobre qualquer desvio de percurso que tenha realizado no passado. Saibam eles que esse pedido está mais do que aceito, afinal com esse novo disco o Guillemots foi mais do que perdoado.

 

Walk The River (2011)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Arcade Fire, Grizzly Bear e The Decemberists
Ouça: The Basket

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.