Disco: “Warpaint”, Warpaint

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2014

Warpaint 
Dream Pop/Indie/Female Vocalists
http://warpaintwarpaint.com/

Por: Cleber Facchi

Warpaint

Hype. Em 2010 quando The Fool, álbum de estreia do Warpaint foi entregue ao público, em poucos instantes o grupo californiano foi transportado para o topo dos grandes representantes do Shoegaze-Noise-Dream Pop de todos os tempos. Um erro. De visível insegurança, a estreia das garotas de Los Angeles mais parece um ruído insignificante perto da imensidão de obras como Teen Dream, da dupla Beach House, ou mesmo Halcyon Digest, do Deerhunter, lançadas no mesmo ano. Sem se deixar envaidecer e capaz de romper com os próprios limites autorais, o quarteto faz do segundo registro em estúdio um passo que só não pode ser interpretado como “seguro”, pois arremessa o espectador para um plano etéreo e totalmente letárgico.

Manipulado do princípio ao fim por uma nuvem de ruídos atmosféricos e massas densas de distorção, o novo projeto é a entrada definitiva do público no cenário particular da banda. Vozes mergulhadas em cargas de ruídos, linhas de baixo sufocadas e letras que mais parecem um agregado instrumental. Do pedido de desculpas instalado na faixa de introdução, até a chegada da derradeira Son, cada música edifica o que parece ser um imenso labirinto sensorial. É como se toda o alicerce magro do debut fosse acrescido por uma sobredose de arranjos e novas estéticas. Uma imersão em blocos tão próximos quanto distantes de referências musicais.

De fluidez naturalmente lenta, o grupo força o regresso do espectador ao começo da obra por diversas vezes. Um sensação constante de que a música, mais do dialogar com o imediatismo do público, parece orquestrada de forma a provocar o espectador. Entre loops climáticos (Biggy) e versos que se retroalimentam (Love is to Die), o álbum desenvolve texturas imensas em que “começo” e “fim” são simplesmente postos de lado. Pontuado por uma leveza rara, o ouvinte inexplicavelmento se percebe no meio das faixas, como se as emanações brandas expostas pelo grupo fossem tratadas em uma engenharia quase hipnótica.

A comunicação com outros campos da música antes ocultos em The Fool, agora concedem parte da beleza autoral que sustenta o registro. Talvez a mudança mais latente esteja na aproximação entre o Dream Pop e a coleção de ecos que pontuam o Dub. Manifestação presente em toda a estética do álbum, o encontro de essências faz de Hi, quarta faixa do disco, o ponto de maior expressividade e transformação da obra. Com vocais maquiados pelos efeitos e o baixo sempre presente de Jenny Lee Lindberg, a canção em poucos instantes mergulha o trabalho em uma verve íntima do reggae, premissa para que o erotismo se apodere em totalidade do restante das canções. A mesma proposta reverbera ainda em Drive e Go In, como se a sobreposição de elementos fosse além da própria imagem de capa.

Talvez o mais curioso dentro do novo álbum seja a forma como as canções, herméticas e íntimas da nova estética da banda, ainda se manifestem capazes de dialogar com o grande público. O que antes parecia limitado ao trio Shadows, Undertow e Warpaint, agora se estende em evidência por toda a obra. Dos acordes densos de Biggy, ao jogo hipnótico de Drive, do ritmo dançante em Disco/Very, ao vocal imediato de Love is to Die, todas as peças do disco parecem organizadas de forma a manipular as exigências do ouvinte. Mesmo no enclausuramento de Teese ou na psicodelia experimental de Go In, desbravar a proposta do quarteto se revela como um exercício prazeroso – por vezes necessário.

Trabalhado em um sentido cíclico, cada pedaço do álbum parece fluir como um complemento autêntico para a construção final do registro. Peças de um imenso quebra-cabeça sonoro ou mesmo nuances que aos poucos são acrescidas por raras tonalidades. Sentida por toda a obra, a evolução do quarteto vai além de um mero acerto ocasional – ou louvor cego, como no primeiro disco. Responsáveis por parte da produção do novo álbum – dividida com o britânico Mark Ellis (Flood) e Nigel Godrich -, o quarteto não apenas testa os próprios limites, como usa do registro de forma a delinear um ambiente em plena expansão.

 

Warpaint (2014, Rough Trade)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Beach House, Melody’s Echo Chamber e Wild Nothing
Ouça: Drive, Biggy e Hi

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.