Disco: “Watch The Throne”, Jay-Z & Kanye West

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2011

Jay-Z & Kanye West
Hip-Hop/Rap/Electronic
http://kanyewest.com/
http://lifeandtimes.com/

Por: Cleber Facchi

Em outubro de 2000, um ano antes de apresentar sua obra-prima, The Blueprint, o rapper nova-iorquino Jay-Z convidaria para a produção da faixa This Can’t Be Life um ainda desconhecido Kanye West, artista que mesmo oculto do grande público caminhava ao lado de um bom número de lançamentos e projetos ligados ao rap norte-americano naquele momento. Embora fosse pífia a participação de West dentro do álbum, a parceria entre os dois se intensificaria a partir daquele momento, tanto que para a produção do conceitual registro seguinte West assumiria boa parte das faixas dentro do registro, inclusive seria ele o responsável pelo memorável hit Izzo (H.O.V.A.) além de uma série de outros lançamentos que viriam pelos versos do rapper.

Como não poderia ser diferente, ao lançar seu debut – The College Dropout – em fevereiro de 2004, West, mesmo produzindo a quase totalidade do disco convidou o agora parceiro Jay-Z para que este atuasse como produtor executivo do registro, ajudando o “iniciante” rapper na conclusão de sua primeira obra em estúdio. Daquele ponto em diante cada um dos dois produtores trocaria contribuições constantemente, gerando tanto álbuns memoráveis como The Black Album em 2003 ou Late Registration em 2005, quanto trabalhos pouco ou nada essenciais.

Enquanto Jay-Z se encaminharia cada vez mais para a produção de um som comercial, porém ainda assim criativo e singular, firmando-se como o rapper mais importante em território norte-americano, West seguiria em busca de uma sonoridade mais conceitual em seus registros, não poupando experimentos e exaltações ao seu ego. Destes dois caminhos distintos viria em 2007 o elogiado American Gangster do primeiro, e em 2010 My Beautiful Dark Twisted Fantasy, obra máxima do segundo, ambos trabalhos que mais uma vez sacudiriam a indústria musical.

Veio, entretanto, ao final de 2010 a espantosa notícia: West e Jay-Z lançariam um trabalho inteiro em conjunto. Embora essa não fosse a primeira vez que circulassem boatos do gênero, dessa vez era o próprio Kanye quem deixava o recado, anunciando a produção de um EP de cinco faixas que seria montado em colaboração entre os dois rappers. O que seria uma singela parceria lentamente foi tomando novas proporções, algo que com a chegada do primeiro single H•A•M no começo de janeiro apontou que a dupla presentearia o público com um álbum full length, disco que viria com o sonoro título de Watch the Throne.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=UtoHI0JEfDg?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=gqT0HiuUwUU?rol=0]

Por mais que ainda pairassem inúmeras dúvidas sobre a real qualidade do projeto é ao nos depararmos com a totalidade do álbum que quaisquer questionamentos acabam esquecidos. A parceria entre os dois rappers é de fato um grande cruzamento entre referências vindas dos dois lados do projeto. West que assume boa parte da produção do álbum traz um toque conceitual aos compostos comerciais e acessíveis do parceiro, enquanto Jay-Z parece evitar o tempo todo que o disco transite pela mesma sonoridade explorada por Kanye em seu último disco, materializando um álbum coeso, dividido entre o pop e o épico, entre o excêntrico e o radiofônico.

Acompanhados por uma série de outros produtores, como The Neptunes, The RZA, Q-Tip, 88-Key e Mike Dean, o álbum evita constantemente que a mentalidade (ou o ego) de uma das metades  predomine ao longo do disco, resultando em um projeto que involuntariamente se liga aos seus enunciadores, porém mantém constantemente um controle e um meio termo. Lembra American Gangster, contudo soa de forma mais melódica, remete ao clássico Graduation, porém não concentra a mesma grandiosidade e o caráter “rock de arena”, parece como um trabalho fechado, entretanto não manifesta com o mesmo hermetismo de Late Registration. Simplesmente um disco que parece seguir uma sonoridade e um ritmo próprio.

Se Watch The Throne não apresenta nenhuma mudança que possa estremecer o hip-hop norte-americano, pelo menos ele garante um vasto concentrado de hits e faixas que a todo momento alavancam o disco. Seja pela excelente participação de Beyoncé em Lift Off (que soa melhor do que qualquer faixa lançada em seu último álbum) ou a surpreendente Otis (faixa que presta uma espécie de homenagem ao cantor e compositor Otis Redding, morto em 1967), por todos os lados surgem composições que transformam o disco em um dos trabalhos mais intensos do ano. Sobra até para a dupla experimentar no decorrer do álbum, como em Who Gon Stop Me que estranhamente puxa o disco para o UK Garage, enquanto Gotta Have It brinca com suas batidas assíncronas, trazendo novidade ao trabalho.

Por mais difícil que isso seja, Watch The Throne é um registro que merece (e deve) ser ouvido sem que o ouvinte busque por um álbum revolucionário ou que se sobreponha em relação aos anteriores e individuais lançamentos dos dois rappers. É sem dúvidas um trabalho memorável, que em toda nova audição parece suprir cada mínima expectativa lançada desde que foi anunciado, contudo, a parceria entre Kanye West e Jay-Z está longe, muito longe, de ser uma obra-prima como alguns veículos de comunicação tem anunciado (e ainda vão anunciar). Mesmo aquém do que o duo poderia desenvolver, Watch The Throne feito a capa que ostenta é um trabalho grandioso, onde cada uma de suas composições reluzem feito ouro e de forma alguma envergonham ou prejudicam a elogiada carreira da dupla.

Watch The Throne (2011, Roc-A-Fella/Roc Nation/Def Jam)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Kid Cudi, Lil’ Wayne e Beyoncé
Ouça: Lift Off, Otis e Made In America

[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/19456444″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.