Disco: “Wenu Wenu”, Omar Souleyman

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2013

Omar Souleyman
Electronic/Psychedelic/World
http://omarsouleyman.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Omar Souleyman

Para muita gente, o cantor e compositor Omar Souleyman talvez seja apenas um animal exótico apresentado ao mundo por Björk e domesticado por Kieran Hebden (Four Tet). Entretanto, quem resolveu deixar a própria zona de conforto e partir em busca do curto, porém, expressivo catálogo em estúdio do músico sírio, provavelmente encontrou no interior de obras como Dabke 2020 (2009) e Jazeera Nights (2010) mais do que um olhar curioso para o cenário musical árabe, mas um trabalho de linguagem e conceitos universais.

Profundo interessado nas interferências do jazz, eletrônicas, pop e, claro, de traços específicos da própria cultura, Souleyman firma no recém-lançado Wenu Wenu (2013, Ribbon) uma obra que parece pronta para alcançar o grande público – independente de barreiras linguísticas/culturais que ele possa esbarrar. Tratado em um fluxo ascendente de sons e versos que mais parecem mantras sintetizados, o registro de sete inéditas canções traz de volta aquilo que o músico conquistou na década passada, porém, em um efeito explícito de novidade e tramas instrumentais que, pela primeira vez, ecoam atrativos aos mais diversos ouvidos.

Parte natural desse encaminhamento acessível vem da presença de Hebden, produtor do álbum e o responsável por distanciar Souleyman dos ruídos artesanais a que estava submetido. Observado de forma atenta, Wenu Wenu – que em bom português pode ser traduzido como “onde ela está?” – ainda mantém traços específicos do que o músico sírio conquistou anteriormente, porém, em um sentido de limpidez que ecoa ineditismo. Marcado pelo acabamento de estúdio, o registro faz com que músicas como Warni Warni e Ya Yumma circulem em um formato audível, distanciando Omar do que parecia ser uma transmissão de rádio registrada em uma fita cassete nos discos passados.

Mais do que garantir o polimento necessário ao álbum, Hebden revela traços específicos de sua própria obra durante toda a construção do registro. Composição evidente disso está em Khattaba, música que atenua as batidas típicas de Souleyman em prol de transições pela eletrônica em um contorno pop, quase próximo do R&B. De todas as mudanças, a maior talvez esteja no fluxo essencialmente sintético da obra, afinal, mesmo o Mijwiz, flauta artesanal responsável pela sonoridade característica do disco parece emulada por sintetizadores. Mesmo as batidas eletrônicas ganham um reforço expressivo em cada música. A presença ativa de Four Tet, entretanto, em nada corrompe a estética original do músico sírio, pelo contrário, apenas distancia Omar do que poderia ser encarado de forma redundante em relação aos últimos discos.

Se por um lado a manifestação sintética do registro priva o ouvinte de músicas mais encorpadas, caso de La Sidounak Sayyada e Kaset Hanzal, do álbum de 2009, por outro lado a relação aproximada entre as faixas estimula o encantamento hipnótico do disco. Como se todas as canções fossem parte de um mesmo bloco de experiências instrumentais, Souleyman favorece ao disco um ritmo naturalmente frenético, fazendo com que mesmo as pequenas “pausas” – impostas em Khattaba e Mawal Jamar – sejam encaradas em um estado de coerência dentro do disco.

Com versos centrados em acontecimentos cotidianos, histórias simples de amor ou mesmo outras manifestações típicas da música comercial, Souleyman em poucos minutos derruba a personificação sisuda da própria imagem para se transformar em uma espécie de ícone pop – à sua maneira, claro. Primeiro registro em estúdio do cantor pelo selo Ribbon Music – um dos braços da britânica Domino Records -, Wenu Wenu é uma obra naturalmente pensada para apresentar o trabalho do artista a toda uma nova parcela do público. Ainda que não disponha das mesmas acessibilidade linguística de M.I.A. e outros artistas “próximos”, Souleyman em poucas faixas sobrepõe as próprias barreiras, trazendo no condensado dinâmico do registro um conjunto de músicas que convencem com facilidade o ouvinte – independente de bloqueis culturais.

 

Omar Souleyman

Wenu Wenu (2013, Ribbon)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: M.I.A., Four Tet e Björk
Ouça: Warni Warni, Khattaba e Wenu Wenu

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.