Disco: “What Did You Expect From The Vaccines?” The Vaccines

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2011

The Vaccines
British/Indie Rock/Alternative
http://www.thevaccines.co.uk

Por: Cleber Facchi

Pronto, os mais afoitos podem finalmente descansar em paz ao som dos “salvadores do rock” de 2011. Todas as apostas, os singles, os vídeos e as versões piratas que vazaram precocemente apenas incentivaram para que a tensão sobre o primeiro álbum dos britânicos do The Vaccines fosse um dos fenômenos deste ano (e do anterior). Os excessos da imprensa inglesa, que anualmente nos ataca através de milhares de informações (muitas delas desnecessárias) sobre algum artista ainda em fase embrionária, e que mais tarde se transforma em decepção apenas reforça a pergunta: será que o grupo tem tanto potencial assim?

Não é muito complicado separar a convergência de sons que juntos afirmam o que é o “espírito” do Vaccines. Há desde ecos mais caricatos do rock de garagem de décadas passadas, uma longa passagem pelo post-punk dos anos 80, toques esporádicos de Pixies, a visível contribuição dos nova-iorquinos do The Strokes aqui e ali, além de toda a temática surf com um jeitão propositalmente caseiro na forma de gravação das faixas, ou seja, tudo aquilo que já estamos tão acostumados a ver e ouvir.

O título do álbum já evidencia muita coisa What Did You Expect From The Vaccines? Exato, o que esperar de um quarteto de garotos, como tantos outros que a cada novo ano tentam ganhar a vida por meio de um som aparentemente descompromissado, mas que de maneira compromissada se assemelha a tantos outros? Enquanto em épocas anteriores Arctic Monkeys, Franz Ferdinand, Bloc Party e tantos outros brigaram por seu espaço na tentativa de recriar algo de maneira a soar inovadora, agora é a vez de Justin Young, Árni Hjörvar, Freddie Cowan e Pete Robertson virem até o publico para mostrar se merecem ou não toda a expectativa criada ao longo desse quase um ano de promoções midiáticas.

Talvez o que mais entristeça nessa estreia não seja a repetição rítmica e instrumental do grupo, afinal é disso que estamos vivendo há muito tempo, ou você vai atestar que a música (não em seu formato ou no método de distribuição) passou por uma mudança tão latente nos últimos anos? O que mais desmerece esse disco é a ausência de clímax, todas as boas faixas do álbum já estavam lançadas. Post Break-Up Sex, Blow it Up e Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra) já estavam aí para quem quisesse ouvir. Era só caçar algum streaming pela internet ou mesmo baixar o primeiro EP da banda lançado ainda em fevereiro.

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Quem ouvia Post Break-Up Sex tinha a clara sensação de que um batalhão de faixas calcadas no mesmo estilo e donas da mesma inspiração faria da estreia do quarteto britânico um álbum de balançar as estruturas. Porém, todo o resto parece apenas resto, mesmo que faixas como Norgaard com a banda mostrando o quanto é espirituosa acabam parecendo insignificantes perto de tudo que a banda lançou anteriormente. Tudo bem, pode ser até um erro cair no velho truque da “banda do ano”, mas a partir do momento que um artista solta uma tríade de faixas poderosas é de se esperar que eles deem sequência a um trabalho tão primoroso quanto essas pequenas mostras.

Enquanto os grupos de outrora pareciam se esforçar para lançar uma sequência tão surpreendente quanto sua faixa arrasa-quarteirões, atualmente a importância de uma única canção é o que parece realmente valer para a nova safra. Basta ver os escoceses do Franz Ferdinand, que mesmo após explodir cabeças com Darts of Pleasure EP em 2003 conseguiu se superar e fazer uma estreia formidável no ano seguinte. Descentralizando o que seria um peso único em Take Me Out e subdividindo em ótimos exemplares como This Fire, The Dark Of The Matinee e Michael, a banda conseguiu o que o The Vaccines não conseguiu nesta estreia: um trabalho redondo e sem enchimento de linguiça.

Talvez essa estreia do The Vaccines precisasse ficar um pouco mais no forno, evitando que faixas como A Lack Of Understanding chegassem de maneira tão comum e sem a mesma inspiração que outras composições trazem para dentro desse disco. É inquestionável como algumas canções como Wolf Pack (além das já mencionadas) consigam se destacar, o problema está no fato de que o disco não parece fluir de maneira única, falta alguma coisa que consiga untar as músicas com propriedade. Em alguns momentos o disco parece até como uma coletânea, mas sem que de fato ela traga os melhores hits da banda.

What Did You Expect From The Vaccines? Vai sem dúvidas pintar nas principais listas de melhores do ano (se depender da NME isso já está mais do que garantido), causará algum burburinho e depois vai simplesmente se dissipar em meio a outros lançamentos. Na dúvida entre ouvir ou não o disco da banda, dê preferência ao EP ou então se apegue a outros lançamentos, como a estreia do Yuck e o novo do The Pains Of Being Pure At Heart, que conseguem ser incrivelmente bons, sem que para isso precisem de todo um frenesi em cima deles. Talvez o grupo ainda nos presenteie com um ótimo disco futuramente, mas por enquanto vamos apenas deixar as expectativas de lado.

What Did You Expect From The Vaccines? (2011)

Nota: 6.8
Para quem gosta de: The Strokes, Yuck e Funeral Party
Ouça: Blow It Up

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.