Disco: “With Light And With Love”, Woods

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2014

Woods
Folk/Psychedelic/Indie
http://www.woodsist.com/woods/

Por: Cleber Facchi

Desde a estreia, há quase uma década, cada trabalho lançado pelo quarteto nova-iorquino Woods funciona dentro de uma atmosfera de conforto e emanações típicas de uma fórmula própria. Seja na estrutura irregular de At Rear House (2007), um belo exemplar do movimento Freak Folk, ou dentro das emanações litorâneas de Bend Beyond, lançado em 2012, os inventos assinados pelo grupo norte-americano jamais rompem com um proposital limite estético. Um efeito que reverbera de forma continuada no recente With Light And With Love (2014, Woodsist), mas que curiosamente ecoa como novidade a cada doce melodia.

Ainda apontado para as décadas de 1960 e 1970, o oitavo registro em estúdio de Jeremy Earl, Jarvis Taveniere, Aaron Neveu e John Andrews usa da limpidez das formas instrumentais como um ponto de novidade. Rompendo com a produção continua do grupo, que desde 2009 vem lançando um novo álbum por ano, o registro de 10 faixas usa dos dois anos de produção como uma ferramenta transformadora. Sim, temos em mãos as mesmas experiências sonoras retratadas desde How to Survive In (2006), estreia do grupo, porém, a ausência de ruídos e a quebra das emanações caseiras entregam ao ouvinte um projeto renovado.

Na trilha de novatos, como o duo Foxygen, a banda nova-iorquina abraça a psicodelia sem romper os laços com o pop. Seja em canções efêmeras, caso de New Light, ou atos extensos como o da faixa título – com mais de nove minutos de duração -, cada composição explorada pela obra dança em um habitat sereno, a ser desvendado com parcimônia. De caráter homogêneo, o disco se movimenta em um senso de completude, como se a chave para cada canção fosse explorada na faixa que a antecede, e assim por diante. Trata-se de uma obra marcada pelas melodias – uma experiência que aprimora toda a essência da banda.

Como Size Meets the Sound, Cali In a Cup e demais faixas comerciais do trabalho passado já haviam anunciado, a busca do Woods em conquistar uma parcela ainda maior de ouvintes se revela de forma natural e cada vez mais frequente. Se em começo de carreira o interesse dos integrantes era o de “parecer estranho”, hoje pouco disso parece ter sobrevivido. Basta observar músicas como Full Moon e Moving to the Left, faixas que se adornam de pequenos clichês do folk/rock clássico em um linguagem hipnótica, quase fabricada para as massas. Uma exposição que mesmo evidente não distorce o tecido cuidadoso que se esparrama pelo álbum.

Observado com atenção, With Light And With Love é uma obra que mesmo abastecida por doces redundâncias e emulações do rock clássico, em nenhum momento se distancia do preciosismo autêntico que  há tempos acompanha o grupo. Dos sintetizadores em Leaves Like Glass ao solo convidativo que recheia a canção-título, o oitavo disco do Woods pode até fisgar pela fórmula evidente, mas faz crescer o (real) interesse do ouvinte por conta de argumentos – líricos e instrumentais – íntimos apenas da banda.

Delineado pela maturidade, o registro brinca durante todas as faixas com o tradicional conceito da “zona de conforto”. Ainda que as composições cresçam com liberdade e evidente limpidez acústica, nada do que ocupa o álbum afasta o Woods de um tratamento já reforçado nos últimos discos. O melhor de tudo é perceber como isso está longe de parecer um erro, afinal, mesmo dentro de um terreno já desbravado em totalidade, o grupo nova-iorquino prova que ainda é capaz de solucionar pequenas (e convincentes) surpresas para o espectador.

 

With Light And With Love (2014, Woodsist)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Foxygen, Real Estate e Kurt Vile
Ouça: With Light and with Love, Moving to the Left e Full Moon

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.