Disco: “With Love”, Zomby

/ Por: Cleber Facchi 21/06/2013

Zomby
Electronic/Garage/Grime
https://myspace.com/zombyproductions

Romper com a própria essência e regressar a todo o instante ao princípio é um exercício que movimenta de forma involuntária as invenções do britânico Zomby. Misterioso, o artista traz na métrica frenética das batidas e reformulações sonoras constantes o único meio de aproximação com o público, exercício firmado sem timidez nas maquinações eletrônicas de Where Were Are You in ’92? (2008), posteriormente seguido no realce sonoro de Dedication (2011) e agora aprimorado na construção do imenso With Love (2013, 4AD). Grandioso e criativo em totalidade, o álbum amarra 33 inéditas composições, faixas agregadas em uma coluna cervical de propriedades nítidas, porém, de segmento individual.

Cada vez menos concentrado na produção de um som de natureza nostálgica – bem expresso na construção do primeiro álbum -, Zomby usa do novo registro como um projeto de plena identidade. Sem fugir da abertura urbana iniciada há cinco anos, o produtor usa de cada música como um percurso cinza e noturno, aprisionando o ouvinte em uma sequência crescente de faixas que se sobrepõem sem que haja qualquer excesso. Um esforço louvável por parte do britânico, ainda mais se levarmos em conta o catálogo imenso de canções que se acumulam até os instantes finais do disco. Faixas de até três minutos (ou menos) que se alinham de forma a transformar o álbum em um imenso bloco único de sons.

Seguindo exatamente de onde estacionou há dois anos, Zomby transforma With Love em uma extensão natural do que foi proposto em Dedication. Todavia, enquanto o segundo registro do britânico parecia se materializar de forma tímida em alguns aspectos, como se tudo não passasse de um pequeno experimento controlado, ao trilhar com sobriedade o percurso do novo álbum, o produtor encontra uma obra de grandeza criativa maior. Menos atento aos percursos e limites do Grime e UK Garage, há na expansão do álbum uma desenvoltura atenta ao R&B, experimentos que tendem à ambient music, além de um catálogo de colagens atmosféricas que forçam as paredes da obra prévia do produtor.

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Mesmo que as sirenes estejam espalhadas pela obra como uma assinatura e elo com os discos anteriores, a cada música o distanciamento de Zomby em relação ao próprio trabalho é evidente. Enquanto o debut sustenta a imagem de um ouvinte anfetaminado em uma festa rave no começo dos anos 1990, com o novo disco temos um completo oposto dessa manifestação. Mesmo que uma clara projeção dançante no som instalado no disco se faça visível, tudo é imposto de forma climática, ampla, como se as pistas fossem apenas um princípio, nunca o todo. Surgem assim músicas de natureza pacata em maior proporção, faixas como Black Rose e Rendezvous, que mais parecem instantes de respiro para o que explode na agitação sintética de 777, Overdose e outras músicas de velocidade ampliada.

Pela forma como se deixa conduzir, With Love é um trabalho que entrega ao próprio ouvinte o esforço de linearidade. Ainda que a organização do disco se dê em blocos específicos – em geral Zomby intercala faixas aceleradas com criações mais leves -, começar pelo fim, meio ou princípio da obra é uma escolha sem grande resolução significativa. Estratégia coesa para um álbum de tal formação e extenso cardápio de faixas, o álbum traz nessa irregularidade uma imposição de acerto e erro, afinal, ao se livrar de uma possível temática ou construção padronizada, o produtor deixa que o ouvinte flutue entre as faixas de forma aleatória, tornando o álbum descartável em alguns momentos.

Ponto de plena compreensão musical e ainda assim descoberta, With Love é um trabalho de coragem e riscos assumidos. Por mais que a essência de Zomby seja focada no experimento desde o primeiro discos, todas as movimentações enquadradas no disco ocupam um esforço de natural aproximação com o público médio, o que entrega o disco totalmente ao ouvinte, apreciador que pode transformar o álbum em uma obra de entendimento genial ou mero descarte.

Zomby

With Love (2013, 4AD)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Actress, Burial e Rustie
Ouça: Rendezvous, Overdose e Black Rose

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.