Disco: “Within and Without”, Washed Out

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2011

Washed Out
Electronic/Chillwave/Lo-Fi
http://www.myspace.com/thebabeinthewoods

Por: Cleber Facchi

Foram necessárias apenas meia dúzia de faixas para que o então novato Ernest Greene saísse do completo anonimato para tomar o merecido posto de “revelação” no nem tão distante ano de 2009. O agrupado de seis composições nostalgias e deliciosamente melódicas que se projetavam em Life Of Leisure EP (2009, Mexican Summer) não apenas introduziam o produtor de Perry, Georgia ao círculo da eletrônica norte-americana, como entregavam uma nova forma de fazer música, ensolarada, escondida sob uma grossa camada de poeira e uma revisão lo-fi da década de 1980. Passados dois anos e sob os olhares apreensivos do público e da crítica (que não poupou elogios em seu EP), agora Greene e seu Washed Out pretendem justificar toda a pequena fama que foi capaz de cultivar, estreando de maneira definitiva com Within and Without (2011, Sub Pop).

Podia até não parecer, mas na época em que lançava seu bem conceituado EP, Greene ao lado Alan Polomo (Neon Indian), Chazwick Bundick (Toro Y Moi) e Dayve Hawk (Memory Tapes) começavam a desenvolver as bases daquilo que mais tarde seria classificado como “Chillwave”. As reverberações preguiçosas, as batidas abafadas e as melodias envelhecidas que hoje saturam grande parte da música eletrônica alternativa, naquela época se revelavam como o máximo da inovação, servindo como uma boa resposta aos sons plásticos e pouco mutáveis que até o presente momento se estabeleciam. Embora seja um dos criadores é contra este mesmo panorama que Green luta em sua estreia, buscando se esquivar das mesmas repetições e excessos acumulados por seus seguidores ou aspirantes genéricos.

No começo de maio, quando os quase cinco minutos que compõem a faixa Eyes Be Closed caíram na rede eram comentários felizes e rostos satisfeitos que vinham expostos pelos fãs do Washed Out. O primeiro single do aguardado disco (que é também a faixa de abertura de Within and Without) trazia a mesma atmosfera construída há quase dois anos, com a leve diferença de que agora a sonoridade vinha em formato grandioso, ainda mais viajado e uma acústica muito mais detalhista que aquela entregue em Get Up, Hold Out ou Feel It All Around. Greene não estava apenas de férias ou executando esporádicas apresentações nos últimos tempos, mas estava desenvolvendo algo ainda mais ampliado do que aquilo proposto em seu primo EP.

Entretanto, como se confirmou ao longo de 2011, todo single deve ser ouvido com muita cautela, afinal, muitos deles surgem para ocultar algum lançamento vergonhoso, e a mesma atenção deveria ser dada ao Washed Out. Contudo, ao entregar a totalidade de sua estreia Greene nos proporciona alivio e a mais sincera satisfação, apresentando um registro que porta a mesma intensidade abordada em sua primeira faixa. Sob o aval do referencial selo Sub Pop, casa de artistas tão distintos como Nirvana, Cansei de Ser Sexy, Death Cab For Cutie ou The Shins, o produtor faz de suas nove faixas um acoplado de sons lisérgicos, desenvolvidos de forma precisa e que parecem seguir exatamente de onde o norte-americano parou há dois anos, porém, com uma única e essencial diferença: uma maturidade visivelmente aflorada.

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Lançado no mesmo ano em que Animal Collective, Grizzly Bear e Phoenix apresentaram seus melhores registros até então, sem contar nas estreias do The XX, Girls, The Pains of Being Pure at Heart e Fever Ray, Life Of Leisure trazia em suas seis singelas composições uma temática muito mais caseira e que transparecia a figura de Greene como uma espécie de aprendiz, algo que parece resolvido dentro de seu primeiro grande álbum. Enquanto o EP de 2009 soava como uma pequena coleção de hits aleatórios construídos pelo jovem produtor no enclausuramento de seu quarto, através de Within and Without (que desde já conta com uma das melhores capas e títulos de disco do ano) todos os sons expostos ganham uma funcionalidade bem resolvida, mantendo a mesma jovialidade de outrora, porém de maneira muito mais centrada e livre de qualquer tonalidade que transforme o registro em algo cansativo.

Havia, porém, através de faixas como Feel It All Around e Get Up uma espécie de quebra brusca dentro das melodias ou um tipo de batida muito peculiar entregues pelo Washed Out, um elemento que dava charme e destaque ao que o produtor construía e que parece infelizmente perdido dentro desse primeiro LP. Em todas as nove composições os sons são expostos de forma muito clara, agradável, porém distantes da mesma peculiaridade rítmica abordada por Greene em seus primeiros registros. Não há como contestar o quanto Eyes Be Closed, Soft ou Far Away se apresentam como rexemplares de pura maestria na obra do norte-americano, porém é como se tais composições não comportassem a mesma natureza e o tempero originalmente desenvolvido pelo músico. Talvez as faixas que mais se assemelhem ao que fora lançado em Life Of Leisure sejam Amor Fati e You and I, músicas que fluem confortavelmente por entre batidas quebradas e loopings excêntricos.

Em sua “estreia” o Washed Out aproveita ainda para trabalhar na construção de novos tipos de sons, frequências e temáticas que se diferenciem daquelas abordadas anteriormente e que talvez deem pistas do que os futuros lançamentos do projeto possam revelar. Um exemplo disso vem através da faixa A Dedication, no encerramento do álbum. Entregue ao uso de sons densos e uma fluência melancólica, a música se desvia bruscamente daquilo que parece conduzir todo o restante do disco ou mesmo os lançamentos de outrora. Carregada de delays sujos, pianos e uma condução amargurada a faixa em nada se assemelha com a climatização preguiçosa ou quente das demais faixas, trazendo para dentro do disco um espaço mesmo que pequeno de experimentações.

Within and Without traz a grande diferença entre a originalidade de Ernest Greene como um dos precursores de um gênero musical e as inúmeras cópias que diariamente eclodem inspirados nessa mesma proposta. A busca por desenvolver um registro coerentemente amarrado e musicalmente evoluido fez com que seu criador amadurecesse, perdendo alguns aspectos essenciais em sua obra, porém ganhando outros, tão intensos quanto as características já não mais existentes. Não é um trabalho revolucionário e nem é algo tão grandioso quanto alguns portais gringos tem anunciado nos últimos meses, simplesmente um registro que parece ter encontrado sua medida correta, nem mais e nem menos do que isso.

Within and Without (2011)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Toro Y Moi, Neon Indian e Memory Tapes
Ouça: Eyes Be Closed

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.