Disco: “Without Your Love”, oOoOO

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2013

oOoOO
Electronic/Witch House/Experimental
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Por: Cleber Facchi

oOoOO

Chris Dexter caminha pelas trevas. Sem medo de brincar com as manifestações mais sombrias da música eletrônica, o produtor californiano passou os últimos cinco anos brincando em meio a inventos soturnos, fruto de uma adolescência impulsionada por grandes obras da música industrial, clássicos do cinema de horror, além de doses nada tímidas de Hip-Hop. Grande mente nos comandos do projeto de Witch House oOoOO, o artista finalmente apresenta ao público a obra que vem esculpindo ao longo dos anos, Without Your Love (2013, Nihjgt Feelings), trabalho que mergulha nas sombras para resgatar o que há de mais doloroso na mente e nos sentimentos do artista.

Construído em cima de uma oposição clara ao que abastece a Chillwave e outros inventos solares da eletrônica norte-americana, o trabalho de 11 faixas resgata nas propriedades melancólicas da década de 1980 um estímulo climático de natureza amarga. Enquanto Toro Y Moi, Neon Indian e Washed Out brincam com sonorizações matutinas, Dexter vai em busca da noite, primando na composição sombria da obra a mesma carga de elementos nostálgicos que se esparrama pela sonoridade de jovens produtores. A diferença está na maneira como o artista lida com isso, diminuindo vozes e batidas em uma medida de esforço essencialmente atmosférico.

Longe de igualar a mesma composição que impulsiona o trabalho de Balam Acab, Holy Other e outros artistas que partilham de um mesmo pensamento, oOoOO traz no descompromisso pop uma manifestação viva de identidade. Por mais que o álbum seja todo construído em cima de uma carga obscura de representações ambientais, Dexter em nenhum momento permite que o disco se perca em experimentos exagerados. É como se Cold Cave ou mesmo outros representantes da Dark Wave fossem diluídos em um mesmo bloco de sons, menos acelerado, claro, porém, de natureza similar.

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Durante todo o percurso o produtor utiliza dos vocais como um elemento guia para o ouvinte despreparado. À medida em que as batidas, ruídos ou mesmo camadas de sintetizadores vão se agrupando delicadamente, Dexter espalha as vozes como um efeito nítido de direção, impedindo que o ouvinte se perca no labirinto sombrio que é iniciado logo na abertura do álbum. O resultado está na construção de músicas que lidam com a voz de forma instrumental, como Mouchette, e faixas que incorporam o mesmo elemento como um atributo de manifestação acessível, como se o produtor raspasse involuntariamente em um som de beleza radiofônica.

Último grande representante da primeira leva de artistas da Witch House a lançar um disco, oOoOO mostra porquê levou tanto tempo tanto tempo a finalizar o primeiro álbum. Concentrado em uma estrutura homogênea, o disco é tão bem amarrado que em diversos momentos fica a sensação de que estamos presos a uma mesma faixa. Um exercício letárgico e até mesmo angustiante em alguns pontos, como se as sobreposições sombrias e batidas densas impostas pelo produtor fossem capazes de sufocar o espectador – o que até acontece em alguns momentos do trabalho.

Vindo de uma sequência bem sucedida de lançamentos orientados por uma mesma sonoridade, Without Your Love corre em vários momentos a chance de soar atrasado. A julgar pela sequência de lançamentos prévios de Chris Dexter – que ainda acumula um valoroso catálogo de remixes e parcerias -, é exatamente isso que álbum representa. Entretanto, a maestria do produtor em pular as redundâncias é o que garante a boa formação do disco, que mesmo sem grandes surpresas ou possíveis transformações, praticamente suga o ouvinte para dentro de um universo detalhado e particular.

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Without Your Love (2013, Nihjgt Feelings)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Balam Acab, Salem e Holy Other
Ouça: Mouchette e Without Your Love

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.