Disco: “Wit’s End”, Cass McCombs

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2011

Cass McCombs
Singer-Songwriter/Indie/Folk
http://www.myspace.com/cassmccombs

O sofrimento paira em Wit’s End (2011), novo trabalho do americano Cass McCombs, que encontra em seus lamentos amargurados a possibilidade de desabafo e de proporcionar ao público uma pequena coleção de composições entregues ao álcool, dramas e lágrimas. Depois da boa repercussão de Catacombs (2009), seu último disco, o californiano deixa a pegada voltada ao Alt. Country para trás em prol de sonorizações que praticamente descrevem um cenário a meia luz de um bar rodeado de figuras tão tristes quanto a do cantor.

McCombs é um verdadeiro nômade moderno. Desde que iniciou sua carreira em 2001, se apresentando em bares, parques, metrôs e os mais variados lugares, o músico tem se dividido entre Nova York, São Francisco, Baltimore e diversas outras localidades, sempre levando seu canto melancólico e sua instrumentação, normalmente fundamentada no uso de violões ou pianos, para onde quer que esteja. Com seu quinto disco de estúdio, o músico repassa esse mesmo aspecto nômade, mas quase de forma onipresente, como se em todos os lugares onde há alguém, lamentando a ausência da pessoa amada, lá ele estivesse.

Quase como uma espécie de “deus dos sofredores” (ou o pai de todas as dores de corno), Cass abre o trabalho ressoando de maneira quase solitária através da chorosa County Line, faixa que se constrói através dos vocais em falsete e dos arranjos preparados na mesma medida da tristeza de seu interprete. O baixo desaparece e retorna em meio a teclados suaves, quase imperceptíveis, enquanto o cantor despeja versos do tipo “você nunca tentou me amar” e demais palavreados, típicos dos que só quem já sofreu por amor consegue compreender.

A medida que o disco cresce, cresce também os sofrimentos e aumentas as lágrimas de McCombs. The Lonley Doll deixa o lirismo do compositor se derramar através de suas lágrimas, tanto nos versos destinados à musa (ou como ele prefere retratar, a boneca solitária), como na instrumentação, marcada pelo uso de um teclado adocicado, quase pueril, mas nem por isso menos sofredor e sincero. A candidez, porém é deixada de lado quando o músico despeja a pesada Buried Alive, faixa que soa como um lamento digno de figurar em algum dramalhão norte-americano dos anos 80.

Se até ai o sofrimento era ameno, a sequência formada por Saturday Song e Memory`s Stain derrubam qualquer um que não tenha derramado uma única gota de lágrima nas primeiras camadas do disco. Enquanto a primeira se desmancha em meio a uma instrumentação quase jazzística, repleta de acordes soturnos costurados por versos densos, a segunda sufoca o ouvinte com seus mais de sete minutos de teclas tocadas com uma sofreguidão carregada de emoção. Além do já tradicional piano, tocado de forma magistral e comovente, Cass deixa um bem inserido cravo tomar conta das parcas lacunas que vão surgindo ao longo da faixa.

O trabalho segue ainda com Hermit’s Cave, Pleasant Shadow Song e A Knock Upon The Door, três faixas que comprovam o quanto o sofrimento de McCombs é infinito. Porém, quem espera encontrar em Wit’s End um trabalho enjoativo, onde a tristeza parece não ter mais fim, encontrará em seus lamentos uma sinceridade pouco encontrada em trabalhos do gênero, em que pelo menos uma das oito sofridas composições devem provavelmente te tocar de alguma maneira.

Wit’s End (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kurt Vile, Bill Callahan e Destroyer
Ouça: County Line

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.