Disco: “Woman”, Rhye

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2013

Rhye
R&B/Indie/Soul
http://www.rhyemusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Rhye

O lançamento de Coexist (2012), segundo registro em estúdio do The XX pareceu dividir os seguidores do trio inglês. De um lado, àqueles que conseguiram entender a necessidade da banda e buscar pela novidade – ainda que irregular no resultado final do disco. No outro oposto, os saudosistas, público que parecia encontrar em cada ruído sintético ou tendência ao Dream Pop uma barreira para aceitar a nova proposta da banda. Talvez a medida de calmaria, erotismo e melancolia que os velhos ouvintes estavam em busca tenha se escondido no recém-lançado primeiro disco do grupo californiano Rhye, Woman (2013, Republic/Innovative Leisure). Continuação menos tímida do que a banda inglesa conquistou com XX em 2009, o disco trata do mesmo minimalismo assumido pela tríade além-mar, substituindo o medo e a dor por certa dose de malícia.

Espécie de Portishead sem roupas, o disco se ausenta das batidas eletrônicas de Geoff Barrow para manter apenas os vocais (em uma versão jovial) de Beth Gibbons e as guitarras sedutoras de Adrian Utley. De implicações quase eróticas, Woman é a trilha-sonora para um jantar à luz de velas que inevitavelmente terá seu desfecho na cama. Se por um lado as letras de forte incorporação sombria tendem ao clima sorumbático, por outro lado o ritmo envolvente cultivado por guitarras suaves, vozes e teclados empurram o projeto para um outro direcionamento. O mesmo tipo de estrutura que marca que marca grandes obras do R&B/Soul. De Marvin Gaye à Sade, passando por toda a nova safra de representantes do mesmo gênero, a dor para o Rhye também conta com um fundinho de prazer.

Contrário a outros trabalhos de composição volumosa, o recente álbum é um registro que foge dos excessos cotidianos e carece de tempo até ser inteiramente absorvido. É necessário entrega para mergulhar no erotismo em preto e branco que a banda esculpe lentamente com o passar da obra, marca que possibilita o aflorar do jazz em One of Those Summer Days e até é capaz de brincar com o synthpop e a Disco Music de forma renovada nos instantes que marcam a adorável 3 Days. Uma variedade de sons e diferentes marcas sonoras que se fossem corrompidos pelo clima épico resultariam na mesma temática de Devotion, estreia de Jessie Ware, ou se caíssem nos abusos químicos poderiam facilmente dar vida ao primeiro álbum do Hercules and Love Affair. Tudo é questão de controle.

 

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Acomodado confortavelmente em uma cama de sonorizações brandas, o álbum até consegue se passar por um registro de razões minimalistas aos ouvidos despreparados, porém, está longe de representar apenas isso. O disco é apenas um trabalho comportado, recheado por arranjos de alcance amplo, mas que se mantém dentro de uma atmosfera doce, quase silenciosa. Exemplar mais coeso de todo esse resultado, Open se movimenta dentro de um jogo de soluções musicais que até parecem voltadas à grandiosidade dos atos (vide os arranjos de cordas ao fundo da canção), mas em poucos instantes declina e volta ao formato original de plena timidez.

Pensado como uma linha que se desenrola por entre as brechas de tudo o que foi acumulado nos lançamentos do último ano, o registro de estreia parece longe do mesmo propósito eletrônico que cativa a boa fase de Miguel, Frank Ocean ou mesmo os ruídos de How To Dress Well. Trata-se de um disco que se orienta pelo uso funcional dos instrumentos, e não os exageros (por vezes intencionais) de uma grande produção sintética. Basta observar a maneira como Verse e Shed Some Blood são trabalhadas para perceber que o que separa os californianos da obra de Justin Timberlake ou de outros gigantes é a escolha por um resultado de acertos confortáveis, sons pavimentados para o suspiro e não para o canto. O mais surpreendente de tudo isso é perceber que mesmo sussurrando  a banda consegue “falar” tão alto do que qualquer outro projeto em execução.

Ao mesmo tempo em que transpira referências e marcas bastante específicas do passado, com Woman a banda de Los Angeles alcança um feito raro: está longe de parecer nostálgica. Talvez sejam as pequenas manifestações eletrônicas, ou até as recordações climáticas ao trabalho do Radiohead (da fase Amnesiac), mas ao observar o disco é difícil entendê-lo como uma obra que se apega ao passado. Claro que Mike Milosh e Robin Hannibal, as duas mentes no comando do projeto, estão longe de ocultar suas referências inicias, mas mesmo assim o teor de novidade que impulsiona o álbum acaba sendo maior. Dessa forma, Woman talvez seja o primeiro registro da nova leva artistas interessados em reviver a Soul Music que realmente consegue acrescentar um toque de novidade.


Woman

Woman (2013, Republic/Innovative Leisure)


Nota: 8.6
Para quem gosta de: Jessie Ware, The XX e Haim
Ouça: The Fall, One of Those Summer Days e Verse

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.