Disco: “Worm Love”, Chinese Cookie Poets

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2012

Chinese Cookie Poets
Brazilian/Experimental/Noise
http://chinesecookiepoets.bandcamp.com/ 

Por: Cleber Facchi

A necessidade em produzir um som de fácil diálogo com o público nunca pareceu como um objetivo ao trio carioca Chinese Cookie Poets. Desde que as primeiras composições do grupo começaram a tomar destaque no último ano, que a proposta da banda parecia bem planejada e assumida: brincar com os experimentos e ruídos como uma banda pop se diverte em produzir sons melódicos e versos cantaroláveis. Em pouco menos de um ano, entretanto, os caminhos da tríade se alteraram levemente, algo que o sujo, distante e excêntrico Worm Love (2012, Sinewave), trabalho de estreia do grupo, reforça com guitarras instáveis e fórmulas nunca óbvias.

As provas instrumentais distintas, os ruídos não programados e toda a soma de referências complexas que antes caracterizavam o EP Dragonfly Catchers and Yellow Dog, lançado no último ano, hoje soam distantes do que a banda apresenta nos pouco mais de 22 minutos do novo disco. Os toques jazzísticos e a atmosfera densa que antes aproximava o grupo de conterrâneos como o Sobre a Máquina, hoje parecem inexistentes quando nos deparamos com a série de 11 pedradas que o grupo arremessa agressivamente para cima do ouvinte. Os experimentos e toda a distinção instrumental de outrora ainda estão lá, porém, diluídos em um aspecto de crueza e até raiva em alguns instantes.

Saem as composições levemente extensas que se abrigavam no interior dos pequenos registros do grupo para fluir criações curtas, intencionalmente aceleradas e sujas. O free jazz se apega ao noise, o math rock se enrosca com a música ambiente, tudo de maneira sempre caótica, anárquica e que por vezes parece romper qualquer tipo de controle que Marcos Campello, Felipe Zenicola e Renato Godoy possam exercer. Como uma imensa pancada, o álbum acerta o espectador antes mesmo que ele possa compreender o que são todas aquelas estranhas formas sonoras que se manifestam na inicial Plastic Love, faixa que conduz (de maneira agressiva) o espectador até os instantes finais do disco.

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Worm Love é um disco inteiramente movido pela urgência. Enquanto antes a banda parecia incumbida a produzir músicas mais alongadas e por vezes mergulhadas em detalhes, hoje a necessidade é outra. Chinatown Blues é a única das composições que ultrapassa os três minutos, e mesmo assim a faixa em nada parece se relacionar com o que a banda parecia inclinada a produzir anteriormente, sendo ela uma composição coberta por guitarras que parecem gritar de forma desesperada e batidas nunca lógicas. No restante do projeto, apenas ruídos, cacofonias e métricas nunca lógicas.

Ao mesmo tempo em que o excesso de ruídos garante movimento e condução para todo o álbum, a estrutura esquizofrênica que se instala com o passar das faixas acaba por limitar Worm Love dentro de uma atmosfera tão própria que o disco passa a ser descartável e até cansativo. Tudo é tão rápido e seco que sequer é possível absorver qualquer tipo de informação presente dentro do registro, o que acaba construindo a sensação de que todas as faixas parecem iguais, separadas apenas por mínimos e quase imperceptíveis realces sujos em suas estruturas. São pouco mais de 20 minutos que até chegam a provocar o ouvinte por alguns instantes – como em En La Mano del Payaso -, mas que não conseguem em nenhum momento ir além disso.

Talvez a proposta da banda seja exatamente essa: impedir qualquer tipo de apego ou aproximação com o trabalho. Contudo, esse tipo de proposta parece afastar mesmo aqueles que pareciam relacionados com os anteriores projetos do grupo, álbuns que despertavam (por meio da mesma complexidade) a atenção do ouvinte de forma quase hipnótica. Por mais surpreendente que pareça a bateria desesperada de Godoy e as guitarras agressivas de Campello, o produto final soa menor do que as iniciais criações da banda, fazendo com que o disco se edifique como um registro amador em vários momentos. A necessidade em hoje acelerar tudo que fora produzido previamente faz com que a banda derrape e perca completamente a direção.

Worm Love (2012, Sinewave)

Nota: 6.8
Para quem gosta de: S.O.M.A., Battles e Sobre a Máquina
Ouça: En La Mano del Payaso

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.