Disco: “Wounded Rhymes”, Lykke Li

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2011

Lykke Li
Swedish/Indie Pop/Female Vocalists
http://www.myspace.com/lykkeli

Por: Cleber Facchi

Da belíssima estreia com Youth Novels em 2008 até Wounded Rhymes (2011), o mais novo lançamento de Lykke Li se passariam três anos, tempo mais do que suficiente para a sueca hoje com 24 anos se aventurar por diversos caminhos do mundo da música. De participações especiais nos discos do Röyksopp, passando por N.A.S.A., Charles Hamilton e Drake, o que não faltaram foram novas experiências para a garota que começou a carreira em 2007. Se na estreia os vocais e os rumos dados ao álbum denotavam certo ar de inocência, com o novo trabalho Li surge como uma mulher adulta e completamente ciente de si.

A acertada produção de Bjorn Yttling, membro do grupo Peter Bjorn and John (sim, os caras que cantam Young Folks, a “música do assovio”), tal qual no debute da cantora aqui também se faz presente. Enquanto no primeiro disco o produtor e músico sueco Lasse Mårtén também mostrava as caras e dava seus complementos ao projeto, aqui Bjorn brilha categórico e marca visivelmente o trabalho. Ao começar pelas batidas percussivas e o ritmo do disco, que muito lembram o som do álbum Living Thing (2009) da banda de Yttling. Há também uma visível abertura da sonoridade presente no álbum, enquanto no disco de estreia um clima mais fechado, melancólico e intimista se faz presente, nesse segundo disco vê-se uma maior espontaneidade e energia.

A forma doce e levemente amargurada de Youth Novels mostra-se claramente abandonada dentro do novo trabalho (tudo bem, em alguns momentos é até possível encontrar essas referências), já na faixa de abertura Youth Knows No Pain torna-se perceptível a forma mais direta dada as composições. A fluência da música dotada de uma excelente bateria e solos de teclado jogam o ouvinte para dentro de um ritmo dançante e que acaba intensificado pelos vocais fortes de Lykke Li. E quem pensa que a coisa para por aí I Follow Rivers joga a sueca para dentro de uma levada dançante meio carregada pelo Hip-Hop (influência dos trabalhos externos com os diversos rappers?).

Talvez um dos pontos mais interessantes dentro dos trabalhos da sueca seja o fato dela se aventurar por campos da música distintos em seus discos sem que acabe soando enfadonha. Mesmo classificar seus sons é uma tarefa difícil. Love Out Of Lust, por exemplo, começa de maneira climática, com um “q” de música românica dos anos 80, se converte em uma canção pop desconstruída para depois se transformar em um indie pop policromático. Já Unrequited Love entrega Li em um formato nada tradicional, mostrando seus dotes com a música country (!). Detalhe para a forma “diferente” dada a percussão da faixa.

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Se ao enveredar por um caminho mais experimental a garota demonstra habilidade e distinção, quando se entrega ao lado mais pop de suas criações o resultado é ainda mais satisfatório. Em Get Some a garota entrega um dos momentos mais dançantes do álbum. As batidas cativantes e a instrumentação detalhista ao fundo culminam em um momento excêntrico e ao mesmo tempo fácil. Os vocais nada pacatos da cantora em nenhum momento demonstram algum tipo de laço com a forma acomodada desenvolvida por Li em seu disco de estreia. Dos vocais ao ritmo a cantora surge quase como uma diva pop, com a diferença de que em nenhum momento Lykke pende para um resultado descartável em suas composições.

Talvez um dos poucos problemas dentro de Wounded Rhymes seja o número reduzido de momentos intimistas ou de compenetração no decorrer do trabalho. Mesmo I Know Places e Silent My Song vêm carregadas por uma sonoridade mais intensa. As músicas que começam tranquilas e compactas, logo se transformam em algo quase monumental, dotado de peso, percussão e instrumentos em excesso. Em Youth Novels até quando dava maior vazão ao seu som e aos vocais eles vinham de maneira reclusa, tímida e isso sem dúvidas faz uma falta enorme dentro do novo álbum. É claro o amadurecimento da cantora dentro desse novo disco, mas alguns momentos que relembrem as velhas canções não trariam danos a essa “nova fase”.

Ao contrário da conterrânea Robyn ou de outras artistas como Eliza Doolittle, I Blame Coco, Florence and The Machine ou Marina & The Diamons Lykke Li parece seguir por um caminho diferente. Não vem dotada do mesmo envolvimento com a eletrônica, não é deliberadamente pop e não é tão radiofônica quanto as colegas citadas. Seu som flui numa convergência de elementos, texturas e fórmulas que tomam conta de todas as suas canções. De Youth Knows No Pain na abertura do disco, passando por Rich Kids Blues até o termino com Silent My Song a sueca despeja um número enorme de possibilidades em seu trabalho.

É bem provável que essa percepção diferente no modo de fazer música venha por conta de suas diferentes estadias ao redor do mundo. Desde muito cedo Li foi arrastada pelos pais para diversos lugares no planeta, que acabaram servindo como sua morada. De Marrocos à Portugal, de Nova Iorque à Índia o que não faltaram foram lugares e elementos para que a garota buscasse referências. E seu trabalho segue assim, um misto variado de tons e formas que quando agrupados dão origem ao que fica classificado como um som puramente dela, um tipo de música que define o que é Lykke Li.

Wounded Rhymes (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: I Blame Coco, Robyn e El Perro Del Mar
Ouça: Sadness Is A Blessing

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.