Disco: “Wracking Ball”, Bruce Springsteen

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2012

Bruce Springsteen
Rock/Singer-Songwriter/Folk
http://brucespringsteen.net/

Por: Cleber Facchi

Bruce Springsteen é uma das poucas unanimidades no campo da música. Desde o lançamento do clássico Born to Run em 1975 que o cantor e compositor de Long Branch, Nova Jersey vem se revezando na produção de uma série de memoráveis registros em estúdio, trabalhos capazes de agradar tanto comercialmente – ao todo ele já alcançou o topo das paradas norte-americanas oito vezes – como em conceito e inovação. Mais do que um ícone para toda uma gama de ouvintes, “The Boss”, como também é conhecido, soube como poucos fisgar a nova geração do público, proposta iniciada com o ressurgimento do músico em 2002 – por meio do álbum The Rising – e amplamente explorada no recente Wrecking Ball.

Décimo sétimo registro oficial do músico, o álbum vai de encontro ao que Springsteen vem testando desde o icônico Born in the U.S.A. (1984), com a construção de faixas sempre grandiosas, acessíveis ao grande público e marcadas por um sentimento genuíno que por vezes se faz inexistente na nova geração de músicos e compositores. Primeiro trabalho do cantor ao lado do desconhecido produtor Ron Aniello (que até o momento havia trabalhado com artistas menores da cena folk e country dos Estados Unidos), o presente disco afasta Bruce das guitarras, banhando o projeto com doses de um sentimentalismo folk e ares de música Gospel que há tempos acompanham o músico.

Repleto de canções rápidas e comercialmente enquadradas – tanto We Take Care of Our Own como “Rocky Ground”, primeiros singles do disco, alcançaram boas posições nas paradas de sucesso -, o álbum alcança os melhores momentos quando se orienta a revelar um artista não comercial e inclinado ao experimento. Com quase sete minutos de duração, Land Of Hope And Dreams, por exemplo, traz um músico sóbrio, incorporando elementos do jazz, country e mais uma vez a música gospel em um mesmo ambiente musical, tudo isso enquanto ecoa o convite para um mundo esperançoso e (talvez) fictício. “Encontre-me em uma terra de esperança e sonhos/ Eu te sustentarei/ E ficarei ao seu lado”, canta o músico enquanto a instrumentação cresce ao fundo.

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Assim como testado nos dois anteriores discos de Springsteen – Magic (2007) e Working On a Dream -, em Wrecking Ball cada composição parece se conectar com a música seguinte, não partilhando uma mesma estrutura lírica, mas sim uma mesma vertente instrumental, mecanismo que acaba por preencher todo álbum. A bateria lenta (e por vezes tomada pelo eco), os teclados climáticos, o naipe de metais, as guitarras quase épicas e o coro de vozes ao fundo contribuem para a construção de um disco amplo, uma espécie de trilha sonora fictícia para um mundo tocado ora pela melancolia (This Depression), ora pela esperança (We Take Care Of Our Own).

Bruce aproveita ainda para valorizar constantemente o espírito estadunidense, um dos grandes artifícios aplicados naturalmente pelo artista desde seus primeiros lançamentos e, consequentemente, uma das respostas para o estrondoso sucesso que ele faz em solo norte-americano. As canções presentes, entretanto, não se limitam apenas a isso, já que a linguagem trabalhada pelo músico vai além desse limite, fluindo de maneira quase universal e sendo facilmente adaptadas aos mais distintos públicos ou nações. Difícil não se deixar conduzir pela maestria e sensibilidade exposta em faixas como Rocky Ground e We Are Alive, músicas que parecem compostas e cantadas especialmente para o ouvinte, seja ele quem for.

Diferente de outros de sua geração, que simplesmente se deixaram apagar pelo tempo, Bruce Springsteen faz do presente álbum um trabalho tão rico e complexo quanto os primeiros registros de sua carreira. Em nenhum momento do disco – que ainda conta com Tom Morello (Rage Against the Machine) e Matt Cameron (Pearl Jam) – o cantor parece perder o fôlego ou a condução assertiva que se estende do princípio ao fim da obra. Wrecking Ball (nome dado para aquelas bolas de metal gigantes utilizadas em demolições) como o próprio título já assume, se apresenta como um trabalho forte e impetuoso, talvez uma metáfora para o próprio Springsteen, que aos 62 anos ainda é capaz de derrubar ou bater de frente contra muitos que talvez queiram ocupar o seu lugar.

Wrecking Ball (2012, Columbia)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Bob Dylan, Tom Petty e Neil Young
Ouça: Land Of Hope And Dreams

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.