Disco: “Xóõ”, Xóõ

/ Por: Cleber Facchi 19/04/2016

Artista: Xóõ
Gênero: Rock, Alternative, Experimental
Acesse: http://projetoxoo.com.br/

 

As ideias ocupam toda a extensão do primeiro registro em estúdio do coletivo Xóõ. Entre versos marcados por temas existencialistas, conceitos políticos, medos e confissões sentimentais, uma chuva de ruídos, bases eletrônicas e experimentos orquestram de forma essencialmente instável o rumo de cada composição assinada pelo grupo. Caos transformado em música. Uma propositada ausência de ordem, estímulo para a construção do curto acervo que sustenta o disco homônimo da banda.

No time de músicos aos comandos do Xóõ – pronuncia-se chó-on -, Vitor Brauer (vocalista da banda mineira Lupe de Lupe), Bruno Schulz (produtor e músico que já trabalhou ao lado de Cícero), Cairê Rego e Felipe Pacheco (ambos integrantes do coletivo Baleia), Gabriel Barbosa (SLVDR, também membro da banda de Duda Brack), além de Larissa Conforto, Gabriel Ventura e Hugo Noguchi, estes três últimos, responsáveis pelo Ventre. Oito colaboradores. Oito canções inéditas.

Escolhida para apresentar o trabalho, a descritiva Passado Futuro encontra em fragmentos históricos – que vão da antiguidade à era da informação – um eficiente ponto de partida. Trata-se de uma colisão alucinada de ideias e textos narrados por Brauer. Versos que observam o nascimento do homem, discutem religião, guerras, evolução e tecnologia, fixando no verso inaugural — “A humanidade nasceu da morte” — uma base pessimista que serve de estímulo para o restante da obra.

Sem ordem aparente, cada música assume uma direção específica, torta e sempre provocativa. Em Gente Boa, por exemplo, enquanto as guitarras flertam com a obra de Deftones e Queens Of The Stone Age, nos versos, Brauer mergulha em um cenário cinza, dominado por personagens tão instáveis (e sujos) quanto os arranjos que invadem a canção. Um completo oposto do som apresentado em Eu Te Amo, um axé-rock distorcido, “pegajoso” e talvez a composição mais acessível de toda a obra.

É justamente dentro da mesma faixa que as confissões de Brauer alcançam o mesmo nível de exposição incorporado em Quarup (2014). Versos intimistas que ainda replicam grande parte das canções apresentadas no bem-sucedida álbum de estreia do Ventre, lançado no último ano. “E eu achei que estava amando, de verdade e com suor / É tanta gente que se ama que é fácil na hora falar / Desculpa”, despeja o vocalista, criando uma ponte para a também amarga Mudança — “E eu trepei com todas uma por uma / E eu fazia tudo que um dia eu fiz com você”.

Fruto da colisão de ideias, conceitos e experiências musicais de cada idealizador, Xóõ parece longe de fornecer ao público qualquer tipo de resposta. Trata-se de um curioso experimento. Da colisão de versos e eventos históricas que inauguram o trabalho, passando por faixas como Cansado e Gente Boa, até alcançar o texto de encerramento que pontua o álbum de forma honesta, todos os elementos se “organizam” de forma a estimular e bagunçar a mente do ouvinte.  

 

Xóõ (2016, )

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Ventre, Lupe de Lupe e Vitor Brauer
Ouça: Eu Te Amo, Mudança e Gente Boa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.