Disco: “XXX”, Danny Brown

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2011

Danny Brown
Rap/Hip-Hop/Alternative
http://www.myspace.com/dannybrownrd

 

Por: Fernanda Blammer

 

É muito provável que desde a explosão de Eminem no final dos anos 90 o panorama hip-hop de Detroit jamais tenha proporcionado outro exemplar de mesmo nível e originalidade. Pelo menos até agora. Desde que as primeiras músicas do novato Danny Brown – quase sempre lembrado por seu visual peculiar – passaram a circular pela rede, que seu nome passou a se manifestar como uma das grandes apostas do rap alternativo norte-americano, não apenas como um novo figurão no cenário em que está inserido, mas de forma geral dentro de todo o gênero o qual faz parte.

Por mais que The Hybrid (mixtape lançada em 2010) tenha catapultado o rapper para junto do núcleo de algumas das principais publicações musicais (sendo bem recebido inclusive além mar), o sucesso e as boas repercussões só começam a aparecer agora, com a chegada de seu mais recente trabalho, o maduro XXX (2011, Fool’s Gold). Tomado de letras meticulosamente ácidas (em seus múltiplos sentidos), o disco é facilmente um dos trabalhos voltados ao rap alternativo/underground mais interessantes lançados até o presente momento, fazendo de Brown não mais uma aposta, mas alguém que precisa ser ouvido agora.

Diferente do que parece estar em alta no rap norte-americano atual, em que cada vez mais indivíduos (incluindo veteranos) tentam traçar os mesmos versos e o mesmo estilo de vida levado por Tyler The Creator e seus parceiros do Odd Future, Danny transforma seu novo registro em um trabalho distinto, não apegado ao que outros rappers já vem tentando desenvolver (mesmo que em alguns momentos lembre o que fora produzido na década de 90), tramando tanto seus versos como as batidas que o cercam de forma agradável e inventiva na mesma medida.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=MiI_3qIiKo8?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=lEt0KPnJ8AI?rol=0]

Oposto de outros álbuns que seguem por um caminho tomado por uma batida anfetaminada ou um som excessivamente drogado – levando ao sono em alguns momentos -, Brown cria através do ritmo relaxado e ao mesmo tempo sóbrio o ambiente exato para que seus versos sarcásticos e repletos de referências ao abuso de drogas e sexo (o “XXX” da capa faz todo o sentido) possam se anunciar. É como se o disco se movimentasse dentro de um limite de tempo ou dentro de uma ambientação exata, própria, deixando que apenas Brown tenha noção certa de quando e como se pronunciar na fluência do álbum.

Logo que Monopoly, primeiro single do disco foi lançado há algumas semanas, todas as mudanças e os traços de maturidade do rapper já estavam anunciados. Os versos secos, disparados quase como se através de uma metralhadora derrubavam por completo tudo o que The Hybrid havia construído um ano antes, como se um rolo compressor passasse sem qualquer tipo de pena por cima do que já fora construído. Claro que imediatamente Brown chega transportando uma nova estrutura, alicerçando seus versos com um conjunto de samplers bem constituídos, aprisionando o ouvinte em seu castelo de sacadas complexas, joviais e repletas de despojo.

Dono de um som e versos que podem ser chamados de seus, Danny Brown abre e fecha o disco através de um universo de projeções nonsenses, repletas de humor negro e algumas doses de delírios, nada que se feche no mesmo estilo Kannye West de ser, apenas diferente, próprio. Talvez o disco não tenha o mesmo impacto em território tupiniquim, afinal, grande parte das composições referenciam aspectos e personagens da cultura pop norte-americana, passeando tanto pelos Simpsons quanto por Bob Esponja (o mais próximo da nossa realidade), entretanto, quem se arriscar em desbravar XXX sem dúvidas não sairá perdendo.

 

XXX (2011, Fool’s Gold)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kid Cudi, Das Racist e Big K.R.I.T.
Ouça: Monopoly

[soundcloud width=”100%” height=”360″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/playlists/1026072″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.