Disco: “Yellow & Green”, Baroness

/ Por: Cleber Facchi 13/07/2012

Baroness
Sludge/Progressive Metal/Post-Rock
http://baronessmusic.com/

Por: Cleber Facchi

A obra do Baroness sempre esteve envolta em conceitos próprios e temáticas instrumentais bem definidas. Desde a chegada do primeiro álbum da banda em setembro de 2007 que a proposta do grupo de Savannah, Georgia sempre foi de oposição ao que até então definia o Heavy Metal em suas inúmeras formas. Por vezes comparados a grupos como Mastodon e Kylesa, a banda chega ao terceiro (e quarto) álbum de posse de uma estrutura musical ainda mais ampla e bem definida. Entregues a uma proposta que por vezes abraça o Baroque Pop inaugurado em findos da década de 1960, absorvendo o que há de mais rico nos exageros do rock progressivo dos anos 70 até se encontrar com o Sludge Metal do novo século, a banda transforma o duplo Yellow & Green em um registro que sintetiza todos os inventos e até novos artifícios do grupo.

Concebido como uma obra única de dois atos, mesmo definido como um registro de caráter fechado, cada metade do trabalho passeia por universos distintos e bem definidos. A começar por Yellow, temos uma exata continuação de tudo que a banda promoveu com os dois registros anteriores – Red Album (2007) e Blue Album (2009) -, incorporando guitarras naturalmente pesadas, vozes fortes e batidas que muito os classificam como um grupo de Sludge Metal tradicional. A diferença está na maneira como o ritmo ascendente e os versos que por vezes beiram o pop garantem novo significado ao trabalho do grupo. Dos versos lamuriosos que definem a delicada March to the Sea ao desespero que caracteriza Eula, cada fração do registro aproxima a banda de um resultado pouco convencional dentro do gênero.

Seja pelos acordes detalhados que se derramam ao longo do trabalho (e ainda duram até o seguinte disco), ou pela forma acessível como os versos se aglomeram no miolo das faixas, nada faz lembrar os anteriores ou mesmo outros lançamentos do mesmo estilo. Em alguns momentos o álbum soa como se o Fleet Foxes do álbum Helplessness Blues acrescentasse uma dose extra de guitarras, ou talvez se o Mastodon do disco Blood Mountain se entregasse à calmaria e dialogasse com o Radiohead da fase OK Computer. Ao mesmo tempo em que a proposta deve afastar seguidores do grupo que esperam por um trabalho mais “convencional”, a produção primorosa e o toque melódico que se espalha pelo disco deve apresentar o grupo a um novo segmento de ouvintes. Yellow, assim como o registro irmão, é um trabalho distinto mesmo dentro da inventiva discografia do grupo.

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Se o primeiro disco simboliza a leveza e os momentos mais acessíveis de toda a recente história da banda, então Green aponta para um resultado de oposição e experimento. Parcela mais complexa de toda a trajetória do quarteto, o registro concentra nas nove faixas que o definem os momentos mais inventivos e de vanguarda dos estadunidenses, que se afastam das preferências ao sludge para incorporar uma série de elementos que vão do rock progressivo em formas mais convencionais, até cruzamentos eletrônicos que em uma primeira audição causam apenas estranhamento. Enquanto o primeiro álbum é um disco “mais Baroness”, o segundo torna visível a influência do produtor John Congleton (Modest Mouse, Okkervil River), que encaminha a banda para uma proposta menos óbvia. Da suavidade sintética que absorve Collapse à calmaria folk que se estende ao longo da adorável Stretchmarker, cada espaço do segundo disco incorpora uma série de artifícios talvez impensados quando voltamos novamente os ouvidos para o primeiro álbum da banda lançado há meia década.

Mesmo que o registro possibilite ao grupo agregar uma série de novos valores e experiências instrumentais que por vezes se aproximam do pós-rock, não são poucos os momentos em que um resultado mais “convencional” se faz visível no decorrer do álbum. Tanto The Line Between como Psalms Alive arrastam o quarteto de volta às origens, canções que estabelecem certo ponto de equilíbrio dentro da obra, impedindo que o trabalho soe demasiado complexo aos novos e velhos ouvintes. Entretanto, a necessidade de experimentar ainda é maior, preferência que já se anunciava desde o primeiro disco da banda (em faixas como Teeth Of A Cogwheel), mas que agora ganha maior espaço dentro das produções do grupo.

Embora a banda até possa atestar o contrário, Yellow & Green é sim um disco pretensioso. Contudo, enquanto o engrandecimento forçado de um registro por vezes traz malefícios a uma banda sem grandes preparos, nas mãos do Baroness a “ganância” se converte em um acerto. Mesmo de natureza grandiosa, o quarteto garante ao álbum uma leveza rara, permitindo que mesmo extenso o disco se dissolva de forma amena, proposta que se mantém tanto no clima comercial de Yellow, como nos experimentos e acertos não convencionais que habitam Green. Da capa aos versos e sons, o álbum parece encerrar uma temática que se estende desde a estreia do grupo, logo, da mesma maneira como If I Forget Thee, Lowcountry encerra o segundo disco sem medo do que a banda possa encontrar pelo caminho, ouvir o imenso registro é transitar por um caminho de vias incertas, mas que tende inevitavelmente ao acerto no final.

Yellow & Green (2012, Relapse)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Mastodon, Kylesa e Black Tusk
Ouça: March to the Sea, Eula e The Line Between

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.