Disco: “You Are All I See”, Active Child

/ Por: Cleber Facchi 25/08/2011

Active Child
Experimental/Indie/Dream Pop
http://www.myspace.com/activechild

 

Por: Cleber Facchi

Mesmo que a música erudita há tempos se revelasse através de alguns cruzamentos com o rock ou mesmo a música pop – a década de 1970 e todos os virtuosos lançamentos do rock progressivo ilustram bem isso –, nunca antes tal gênero musical esteve tão presente naquilo que é produzido comercialmente e aberto ao grande público quanto hoje. Melhor exemplo disso está em ver discos como The Suburbs, do Arcade Fire arrematar o prêmio de disco do ano, no Grammy Award de 2011, um registro que para além de suas pendências com o rock alternativo bebe incessantemente da música erudita, algo facilmente percebido em cada faixa do álbum.

Outros como os islandeses do Sigur Rós e o grupo britânico Radiohead, ou mesmo mesmo representantes da música eletrônica como Pantha du Prince, parecem absorver das mesmas referências e transformá-las em algo próprio, genuíno e de pura vanguarda. Já outros como a musicista norte-americana Joanna Newsom parecem se distanciar de qualquer toque de modernidade ou readaptação, utilizando de elementos clássicos (talvez até medievais) como se fosse algo produzido como novo e inédito, apresentando um tipo de som suficientemente agradável e inventivo na mesma medida.

Surgem ainda indivíduos como Patrick James Grossi, que não satisfeito em beber das fontes clássicas e absorver o que há de novo no cenário musical resolvem misturar tudo dentro de um grande caldeirão musical, cozinhando todos os elementos de forma a produzir algo experimental, delicado, pop e instigante, algo que ele resolveu delimitar como Active Child. Vindo da ensolarada Los Angeles, Grossi até bem pouco tempo circulava como mais um representante da famigerada chillwave, algo que lentamente foi abandonado quando suas primeiras apresentações ao vivo, ou singles melhor delimitados passaram a circular.

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Acompanhado de sua harpa e um obscuro apanhado de referências sintéticas e eletrônicas, o californiano transforma You Are All I See (2011, Vagrant Records) seu primeiro registro Full Lenght em um trabalho incrivelmente relaxante, suave, comovente e ainda assim doloroso e difícil de ser compreendido em alguns momentos. Atravessando incontáveis décadas de influências, e bebendo de artistas tão distintos em seus conceitos, Grossi movimenta seu debut de maneira que ele soe como muitos registros em apenas um, ou um tipo de álbum que parece servir como abrigo para uma infinidade de outros discos.

Não estranhe se a maneira como a música e principalmente a forma como os vocais vão brotando ao longo do álbum trouxerem certa semelhança com o que o How to Dress Well apresentou em seu debut Love Remains, de 2010. O próprio Tom Krell, idealizador do projeto nova-iorquino se faz presente através da faixa Playing House, um dos (muitos) tesouros que se abrigam confortavelmente no interior do disco. A música em questão, terceira faixa do álbum dá início ao que mais tarde fica compreendido como um processo de transformação eletrônica que vai absorvendo o registro, com o disco abrindo através de doces arranjos de cordas e posteriormente se metamorfoseando em um projeto mais sintético e, consequentemente, experimental.

Independente dos rumos que venha a percorrer, You Are All I See mantém em todas suas composições uma unidade incorruptível, com todas as canções fluindo dentro de uma mesma harmonia. Clássico, moderno ou um projeto de vanguarda, sejam quais forem os rótulos do álbum a beleza e a simetria que toma conta de seu interior permanece a mesma, com Grossi construindo um trabalho que parece funcionar mesmo sem grandes versos ou encaixes precisos de palavras, um álbum que poderia dialogar com o ouvinte, mesmo sem voz, apenas fazendo uso de sua música.

 

You Are All I See (2011, Vagrant Records)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Balam Acab, How To Dress Well e Planningtorock
Ouça: Playing House

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.