Disco: “You Wouldn’t Anyway”, Loomer

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2013

Loomer
Brazilian/Shoegaze/Alternative
https://www.facebook.com/loomerband

Quatro anos separam a gaúcha Loomer, apresentada no EP Mind Drops, de 2009, do recém-lançado You Wouldn’t Anyway (2013, Midsummer Madness). Registro de estreia do quarteto gaúcho, o presente álbum passeia pelo tempo (e pelas referências) sem necessariamente se distanciar daquilo que a banda promove com acerto desde as primeiras canções: os ruídos. Intencionalmente voltado ao passado, o debut de dez faixas é uma típica obra de regresso. Um dos muitos trabalhos que se escoram na essência do My Bloody Valentine, mas que ainda assim estão longe de se perder em traços redundantes ou bases há muito reaproveitadas por outros artistas do gênero.

Fabricado como um bloco único de sons caóticos, praticamente intransponíveis, o trabalho assume no conjunto íntimo de canções a base para atrair sem grandes dificuldades qualquer ouvinte. É praticamente impossível atravessar as duas primeiras faixas do álbum sem se deixar conduzir até as composições finais do registro. O exercício, regido pelo manuseio hipnótico das guitarras, substitui o tratamento caseiro de outras obras próximas, efeito que praticamente traga o espectador para um cenário de emanações propositalmente empoeiradas, porém, capazes de se distanciar de possíveis sonorizações previsíveis.

Tratado em um propósito explícito de efemeridade, You Wouldn’t Anyway se esquiva das possíveis construções épicas, testadas nos dois primeiros EPs, para assumir um enquadramento cada vez mais acelerado e dinâmico. Com faixas entre três e quatro minutos de duração, a banda – composta por Richard La Rosa (guitarra), Guilherme F. (bateria), Fernanda Schabarum (baixo) e Stefano Fell (guitarra e voz) – usa dos poucos instantes de cada composição de forma a favorecer uma obra magra, mas não menos envolvente. A medida evita possíveis expansões climáticas ou instantes de maior redundância, assumindo um trabalho capaz de tirar o fôlego do espectador sem margem para o descanso.

Loomer

Ainda que a relação com os dois primeiros EPs seja constante – principalmente nas bases e referências -, ao assumir o presente disco os rumos da Loomer passam a ser outros. O melhor exemplo disso está na forma como os vocais são apresentados ao longo do projeto. Mais do que um complemento para os arranjos distorcidos, em faixas como Painkiller e Dark Star, as vocalizações melódicas praticamente servem como um chamariz para o ouvinte médio. São interpretações autorais das mesmas bases de vozes alcançadas em Loveless (1991) e outros clássicos da década de 1990, ao mesmo tempo em que elementos de grupos recentes, caso de Yuck e The Pains Of Being Pure At Heart, passam pelo mesmo filtro ruidoso dos gaúchos.

A postura firme e o distanciamento da música pop, de forma alguma separam a banda de canções sustentadas de forma plástica ou viáveis aos ouvintes menos “específicos”. É o caso da raivosa Mammoth Butterfly, música que encontra na trama versátil das guitarras um ponto de equilíbrio entre o experimento e a visível abertura para a inclusão de arranjos quase óbvios. Já outras, como Jam e Not So Wrong, parecem visitar aspectos diversos do rock alternativo na década de 1990, encontrando em rápidas passagens pela obra de Nirvana e Dinosaur Jr um explícito afastamento das assumidas regras expostas por Kevin Shields.

É preciso observar que o grande destaque do Loomer com o debut não está na relação com o rock conquistado em solo estrangeiro, mas em traços visíveis da produção assumida em território nacional. Não são poucos os momentos da obra – caso explícito nas faixas Road to Japan e Dark Star -, em que a banda gaúcha ecoa proximidade com o trabalho de grupos como Pelvs, Second Come e demais veteranos da cena independente. A relação (quase) visível de intimidade rompe de maneira segura com os mesmos exageros de outros artistas nacionais, fazendo com que o perfume que paira sobre a obra assuma um novo aspecto, bem menos desgastado e seguramente marcado pela maturidade.

Loomer

You Wouldn’t Anyway (2013, Midsummer Madness)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Sorry Shop, Single Parents e Medialunas
Ouça: Dark Star, Mammoth Butterfly e Painkiller

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.