Disco: “Young Hunger”, Chad Valley

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2012

Chad Valley
British/Electronic/Synthpop
http://chadvalley.tumblr.com/

 

Por: Cleber Facchi

Esqueça tudo que Chad Valley lançou nos últimos anos. Depois de algumas passagens preguiçosas e pouco relevantes pela Chillwave, além de experimentações eletrônicas que em nada expressavam originalidade, o produtor de Oxford, Inglaterra aparece com Young Hunger (2012, Loose Lips), um registro que não apenas se apodera das referências estabelecidas na década de 1980, como faz delas ferramentas para um trabalho ainda maior. Pensado como um registro para as pistas e ainda assim capaz de ultrapassar essa “barreira”, o debut traz em cada nova canção um reflexo de tudo que fora concebido pessoal e musicalmente nos últimos anos, com Valley firmando a própria interpretação da diversidade de sons, ritmos e formas sonoras que floresceram até agora.

Embora traga o título de “Jovem Faminto”, o recente lançamento do britânico bem poderia se chamar “Amigos e Sintetizadores” tamanha quantidade de colaboradores que aparecem até o fechamento da obra. Das 11 faixas que compõem o registro, apenas quatro delas são assumidas individualmente por Valley, que encontra nas parcerias um complemento necessário e talvez a resposta para o que o levou a produzir registros de tamanha irrelevância nos últimos meses. O mais interessante nisso tudo é perceber que mesmo acompanhado de artistas tão distintos quanto Totally Enormous Extinct Dinosaurs e Twin Shadow, Chad mantém linear a fluidez do disco, que em nenhum momento foge dos trilhos ou rompe com a proposta por ele estipulada.

Por falar no projeto de George Lewis Jr, Young Hunger é tudo aquilo que Twin Shadow não conseguiu no decorrer de Confess: Melodias sujas e climáticas, versos pegajosos, sintetizadores atmosféricos que se esquivam do básico e todo um jogo instrumental que arrasta o ouvinte logo na primeira faixa para a década de 1980. Mais do que flertar com o período e a vertente de sons que escorrer por lá, Valley resolveu não se acomodar nas referências e inovou. Para além de elementos tão característicos, como os teclados repletos de cores e as batidas carregadas pelo eco, os vocais surgem como um ponto extra, complementando o que poderia soar como uma lacuna ao longo do álbum, que parece volumoso e rico em texturas a cada faixa.

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Já que os vocais se mostram como a ferramenta chave para a transformação do trabalho, ao explorar com perfeição tal particularidade, Valley e os parceiros fazem nascer algumas das músicas mais importantes do ano. É o caso de Manimals, canção feita em parceria com Active Child e uma avalanche de sensações que praticamente lavam o ouvinte. Já quem busca por composições acolhedoras encontrará em Fathering / Mothering (parceria com a norueguesa Anne Lise Frøkedal) e em Fall 4 U (com a californiana Glasser) dois dos momentos mais confortáveis do álbum, com o músico fornecendo todos os subsídios para a construção de músicas que se apoderam suavemente do espectador.

Parte da clara renovação que preenche a obra está na relação de intimidade de Valley com as possibilidades amenas do Balearic Beat, preferência utilizada nos anteriores EPs do músico e aqui cuidadosamente aprimoradas. A sonoridade – que em alguns momentos se aproxima de forma curiosa do trabalho da dupla sueca Korallreven – possibilita que o inglês se aconchegue de forma delicada e ainda assim invasiva pelo álbum, sendo difícil não se encantar pela maneira repleta de esmero como o disco cresce. Soma-se a isso um fino toque tropical, com Chad promovendo um misto de Lemonade com Neon Indian do álbum Psychic Chasms (2009), revivendo a nostalgia do ouvinte, que encontrará em diversas passagens do álbum uma relação com algum filme ou série clássico de princípios dos anos 1990.

Doce na maneira como a instrumentação é trabalhada a cada nova composição, amargo nas letras que definem melancolicamente os rumos do disco, Young Hunger revela a fome saudosista de Chad Valley pelo passado. Contudo, é preciso notar que não se trata apenas de um passado musical, visto que o produtor não chegou a viver a década de 1980 que tanto o inspira, mas um passado recente de amores que não deram certo ou desajustes pessoais que marcam cada instante do álbum. Um disco pintado pelas cores do neon, pelas harmonias dos sintetizadores e acima de tudo: uma nostálgica e sádica forma de falar sobre os mais dolorosos sentimentos.

Young Hunger (2012, Loose Lips)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Twin Shadow, Lemonade e Neon Indian
Ouça: My Girl, Fathering / Mothering e I Owe You This

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.