Disco: “Zammuto”, Zammuto

/ Por: Cleber Facchi 02/04/2012

Zammuto
Experimental/Electronic/Alternative
http://zammutosound.com/

Por: Cleber Facchi

Ao lado do parceiro Paul de Jong, Nick Zammuto faz nascer o The Books, um dos mais inventivos e experimentais projetos que o cenário musical da última década pôde apresentar. Fruto natural e específico das peculiares formas sonoras que surgiram durante o período, a banda chegou ao fim no começo deste ano, quando desentendimentos entre os dois componentes encerraram de vez as estranhas formas musicais e colagens abstratas que a dupla vinha desenvolvendo. Longe de cair em um silenciamento natural mediante o rompimento com o velho colega, Nick foi atrás de um grupo de novos de parceiros, fazendo da atual banda – nomeada com o próprio sobrenome – uma espécie de continuação aprimorada do que vinha desenvolvendo até então.

Se ao destilar experimentos nos memoráveis Thought for Food (2002) e The Lemon of Pink (2003) o músico nova-iorquino optava pela construção de um som calcado nas tendências da Freak Folk e em pequenas doses de música eletrônica, em nova fase essa segunda referência é a que de fato melhor se evidencia dentro de Zammuto (2012, Temporary Residence). Composto por 11 mutáveis composições, o registro é um passeio aprimorado pelas estranhas referências que se apoderam da vida do músicos e dos novos parceiros, que entre teclados esparsos e batidas sintetizadas vão ocupando todos os cantos do disco.

Diferente do que vinha desenvolvendo, em nova empreitada Nick parece não interessado na construção de um som compactado ou pouco expressivo – provavelmente um dos motivos de o trabalho do The Books ser reconhecido apenas por um pequeno nicho do público alternativo. Da faixa de abertura até os últimos instantes, cada porção do álbum busca soar grande, mesmo que dentro de alguns limites próprios. Toques de IDM por vezes se encontram com o Krautrock, doses de rock alternativo, uma gota de psicodelia e até synthpop, tudo amarrado em um contexto complexo e sempre crescente, o que torna a audição do registro agradável até o fim.

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Embora comparações com a antiga banda surjam a todo momento, conforme o disco se desenvolve mais somos tragados para um universo de pequenas novidades, manifestações sonoras que talvez não fossem encontradas dentro dos limites naturais do The Books. O aspecto antes caseiro que acompanhava as produções de Nick Zammuto agora manifestam um teor de acessibilidade, como se o músico buscasse em vários momentos dialogar com um novo público, algo que Too Late to Topologize (um pop eletrônico, melódico e excêntrico) e Zebra Butt (quase um rock sintetizado que cheia a anos 70) justificam com total propriedade.

Talvez o que mais diferencie e, consequentemente, garanta destaque ao novo projeto de Nick seja a maior participação das vozes dentro do disco. Sempre maquiados por densas camadas de efeitos eletrônicos, os vocais surgem como uma espécie de instrumento extra dentro da obra, dialogando com as batidas ou demais projeções instrumentais que se materializam no interior do disco. Talvez o melhor exemplo da força dos vocais esteja em Harlequin, música de quase seis minutos de duração e que cresce visivelmente por conta das vozes remodeladas que se estendem ao longo da faixa, ocupando um espaço de destaque muito maior do que o da própria instrumentação.

Mesmo que em alguns momentos do trabalho Zammuto e os parceiros acabem se perdendo nas vias de um som essencialmente abstrato – os momentos finais do álbum ilustram bem isso -, a maneira como o disco é construído, buscando sempre a experimentação e o abandono de quaisquer redundâncias sonoras garantem amplo teor de inovação ao grupo. Por mais que grande parte do caracterize o disco venha de referências diretas do The Books, conforme o álbum se desenvolve e as faixas crescem é possível notar pequenas doses de inovação e traços de identidade, ficando mais do que claro que este não é apenas um projeto passageiro.

Zammuto (2012, Temporary Residence)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Books, Animal Collective e Prefuse 73
Ouça: Too Late to Topologize, Yay e F U C -3PO

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.