Discos: “Night Of Hunters”, Tori Amos

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2011

Tori Amos
Female Vocalists/Indie/Alternative
http://toriamos.com/

Por: Cleber Facchi

Ao contrário da grande parcela dos recentes grupos e artistas que tem investido no “casamento” entre a música clássica com os elementos do rock ou mesmo da música pop – resultando em uma série de lançamentos fenomenais, que vão de Funeral do Arcade Fire ao doce Lungs da britânica Florence + The Machine -, a veterana Tori Amos parece seguir por um caminho oposto. Para Night Of Hunters (2011, Deutsche Grammophon), a musicista se afasta quase completamente de qualquer tonalidade pop ou comercial (mesmo de seus antigos projetos), se voltando para um trabalho rodeado de arranjos orquestrais suaves e uma completa entrega à música erudita.

Se distanciando de qualquer instrumento elétrico ou elementos que rompam as barreiras de suas brandas composições, a norte-americana vai aos poucos se enclausurando em um manancial de faixas puramente delicadas e de completa sofisticação. Nada do que delimita os mais de 70 minutos do álbum parece buscar qualquer tipo de abordagem moderna ou contemporânea, com Amos se entregando por completo ao reinterpretar de temas desenvolvidos por grandes nomes da música clássica, como Bach, Chopin, Debussy, Granados e Schubert, compositores que têm suas músicas retrabalhadas inteiramente na voz e na temática peculiar da cantora.

Rompendo com a baixa inventividade dos últimos lançamentos da compositora – que em 2009 conseguiu apresentar dois trabalhos de pura repetição e completa ausência de novidade -, Night Of Hunters se apresenta como um trabalho melhor organizado, com a artista revendo seus próprios métodos de produção e se organizando como seu projeto mais ousado em mais de 20 anos de carreira. Situada em algum palácio europeu do século XVI ou perdida em algum cabaré norte-americano da década de 1920, a cantora viaja através de diferentes períodos de tempo ou distintos espaços conceituais, mantendo sua música em um estado sempre mutável, embora profundamente conciso.

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Longe dos antigos companheiros de banda que a acompanham há mais de 15 anos, Amos faz do atual projeto um registro inteiramente seu. Da produção do álbum ao reinterpretar das melodias dos renomados compositores, tudo conta com toque e um conceito particular desenvolvido pela musicista. Lembrando em alguns momentos uma versão mais velha de Joanna Newsom – se não fosse pelo tom de voz seria possível afirmar que são na verdade a mesma pessoa -, a cantora nos conduz através de um passeio musical de incontável beleza e tonalidades amenas, recriando diversas panoramas musicais na mente do ouvinte.

Mesmo envolvente, a longa extensão do registro e seu caráter deveras ponderado na maioria das canções tornam a apreciação do álbum uma tarefa que carece de tempo e completa entrega do ouvinte – por mais belo que seja o disco se organiza de forma bastante específica, não se manifestando como um trabalho que pode ser ouvido em qualquer hora ou lugar. A excessiva similaridade entre algumas composições, bem como a longa extensão de algumas faixas acabam transformando o trabalho em um disco penoso de ser absorvido em diversos momentos, o que pode assustar mesmo aos antigos apreciadores da obra de Tori Amos.

De forma geral, o trabalho se organiza de forma suficientemente agradável, rompendo com o marasmo instrumental que há quase dez anos acompanham os trabalhos cantora – entre vários discos razoáveis, provavelmente Scarlet’s Walk de 2002 foi o último grande projeto de Amos. Suave e delineado por uma instrumentação encantadora, Night Of Hunters revela uma artista renovada, transitando através de um panorama de novas experiências musicais, elevando sua voz e suas composições a um novo patamar.

Night Of Hunters (2011, Deutsche Grammophon)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Kate Bush, Joanna Newsom e PJ Harvey
Ouça: Carry

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.