Discos: “O Segundo Depois do Silêncio”, Los Porongas

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2011

Los Porongas
Brazilian/Alternative/Rock
http://www.losporongas.com.br/
http://www.myspace.com/losporongas

Por: Cleber Facchi

Feito um extrato vegetal raro, desses encontrados na Amazônia, e que a indústria de cosméticos molda como uma coqueluche para as senhoras de meia idade em busca de rejuvenescimento, o Los Porongas e seu disco de estreia surgiram de maneira similar, quase como uma pequena raridade em meio a musica nacional. Assim como o exclusivo extrato retirado da densa mata, o quarteto, mesmo dotado de uma pureza em sua sonoridade e um lirismo em suas composições, acabou atraindo parte das atenções por ser originário do Acre e não pela beleza de suas músicas em si. Com o segundo disco, o grupo não apenas se distancia dos olhares curiosos sobre sua origem, como também se firma como um dos melhores projetos do rock nacional contemporâneo.

Seguindo a mesma linha do disco de estreia, O segundo depois do silêncio (2011), novo trabalho dos nortistas apenas comprova o fato de que o distanciamento do grupo não estava apenas ligada a questão geográfica, mas sim poética, instrumental e na maneira de encarar o mundo de seus integrantes. Deixando a capital Rio Branco para viver em São Paulo, o quarteto Diogo Soares (voz), João Eduardo (guitarra), Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria) orienta-se dentro do mesmo universo proposto em seu debut, soando através de seus rifes e dimensionamentos como um genuíno grupo de rock.

A distância física que separa o grupo do primeiro para o segundo álbum em nada prejudicou o rendimento do trabalho, que encontra em sua recente morada um gigantesco panorama de novas colocações sobre a vida, amores, reflexões ou mesmo explanações sobre a nova estada do grupo. Se ao estrear o quarteto tratava em diversos momentos sobre a partida e os sentimentos de mudança, como tornava-se visível em faixas como Enquanto uns Dormem, Espelho de Narciso e Ao Cruzeiro, com o atual trabalho é o “silêncio” e suas múltiplas interpretações o mecanismo que movimenta o álbum.

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Presente da capa do álbum ao seu miolo, a palavra e seus significados assumem formas que se dissolvem em canções (Silêncio), versos (“Nem o silêncio dura tanto quanto quer durar”), e até mesmo na estética do disco por conta do minimalismo esbranquiçado da capa. O silêncio surge quase como um sentimento, uma necessidade angustiante, um ponto central que se transforma em reflexões estendidas a todas as faixas do álbum.

Dentro desses pequenos momentos de silêncio, que se acrescem de vozes, instrumentos e sensações, acabam surgindo faixas repletas do mais puro virtuosismo do grupo. Entre os pequenos exemplares, destacam-se petardos como Bem Longe, trazendo ainda a readaptação do grupo em sua nova casa ou mesmo pérolas do lirismo, como Fortaleza, abrindo espaço para que entrem versos como “Quem vai poder plantar as flores que nascem na cabeça”, elemento que se apresentava de forma latente no primeiro disco e que aqui tenta surgir esporadicamente ao longo do álbum. O grupo cria também espaço para que singelezas como A Dois, carregada por um fino romantismo acabe adornando o trabalho de forma suave.

Ao mesmo tempo em que mudanças podem trazer desconfortos, o Los Porongas ao menos chega acompanhado de uma boa vizinhança, formada por gente como Hélio Flanders (Vanguart) que canta em Mais Difícil, Maurício Pereira (ex-Os Mulheres Negras), que empresta os vocais para Longo Passeio, ou ainda o grupo paulistano Nosotros, responsáveis por trazerem um naipe de sopros para dentro do trabalho. Mais do que bem, as mudanças trouxeram aos acreanos novas possibilidades de fazer som, além de um novo cenário para que todas as inventivas criações da banda ganhem forma.

O segundo depois do Silêncio (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Porcas Borboletas, Vanguart e Cérebro Eletrônico
Ouça: Silêncio

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.