Entrevista: Fernando Paiva (Luisa Mandou Um Beijo)

/ Por: Cleber Facchi 17/02/2011

Por: Cleber Facchi

Eles trouxeram um pouco mais de beleza para o rock tupiniquim dos anos 2000, suas composições adocicadas e permeadas por singelezas fizeram o público nacional (e estrangeiro) se encantar e cantar através de faixas como Amarelinha, Guardanapos, Borboleta Imperial, Mar Sem Sal e demais pérolas do pop recente. Claro que estamos falando do grupo carioca Luisa Mandou Um Beijo, que desde o fim do século passado participa ativamente do circuito alternativo carioca e já proporcionou ao público dois ótimos trabalhos de estúdio.

Fomos atrás do grupo – que é formado por Flávia Muniz (vocalista), Fernando Paiva (guitarrista), PP (guitarrista), PC (baixista), Daniel Paiva (trompetista) e Cristiano Xavier (baterista) – e quem conversou com a gente via e-mail foi o guitarrista Fernando Paiva, que contou um pouco sobre os gostos de cada integrante, a relação com o público internacional e algumas novidades sobre o terceiro disco do Luisa.

Apesar de a banda existir desde o final dos anos 90 o primeiro trabalho do grupo só veio em 2005. Como foi a repercussão do álbum de estreia aos olhos de vocês e até onde o Luísa Mandou Um Beijo conseguiu chegar com a divulgação desse álbum?

Embora utilizemos bastante a internet para a divulgação da banda, a verdade é que o lançamento de um disco físico faz toda a diferença, pelo menos no contato com a mídia. Para muitos jornalistas de velha guarda, é como se só assim a banda nascesse de verdade. Por isso, o lançamento do primeiro disco teve praticamente o efeito de um nascimento. Fomos finalmente resenhados (e elogiados!) por alguns grandes meios de comunicação.


Vocês participaram de coletâneas internacionais, tiveram o disco de estreia lançado na Argentina, na Inglaterra e volta e meia surge alguma resenha sobre o álbum em algum site de música do outro lado do mundo, eu gostaria de saber como é essa relação com o público internacional, a forma como o trabalho de vocês é visto lá fora e se a banda tem a intenção de alçar voos maiores para além do Brasil.

É um prazer enorme quando descobrimos algum fã novo no exterior. Outro dia um conhecido que esteve em uma festa indie em um castelo na Croácia disse que o DJ botou “Amarelinha” para tocar! Além do que você citou, já participamos também de coletâneas lançadas no Japão, em Singapura, na Itália e na Espanha. Já pensamos em tentar fazer uma turnê internacional, especialmente Europa ou América Latina, mas ficou apenas no plano dos sonhos. Seria muito complicado organizar e não tenho certeza se conseguiríamos pagar os custos. Sem contar que muitos na banda trabalham em outros empregos: seria necessário concatenar as férias de todos… Mas lugar para tocar não faltaria.


Ao que eu pude constatar o primeiro trabalho de vocês caiu no gosto de muita gente alheia ao cenário alternativo. Tenho vários amigos que tem apelo por um som mais “popular”, mas que tem uma pasta com o primeiro disco de vocês no computador. Já não percebi o mesmo com o segundo álbum, você acha que ele é um trabalho mais “difícil” que o primeiro?

Eu considero o segundo disco mais “sofisticado”. Ponho entre aspas porque é um juízo de valor, é algo muito subjetivo. Os arranjos são mais complexos e as letras, mais elaboradas. Acho que é um disco menos pop, mais sombrio. Mas gostamos muito dele. Geralmente gostamos mais do trabalho mais recente. Acho que todo artista é assim. No entanto, nutro um enorme carinho pelo primeiro CD.


Assim como boa parte das bandas nacionais eu imagino que vocês também não vivam exclusivamente de música, ou pelo menos das músicas da banda. O que cada integrante faz para sobreviver, que caminhos trilham os membros do Luisa quando não estão se apresentando?

Eu sou jornalista e escritor. Lancei um romance em 2004 (Carta para Ana Camerinda) e um livro de contos em 2010 (Salvem os monstros). Quem quiser baixar alguns dos contos, é só acessar o meu site; A Flávia é multitalentosa. Além de cantar com a gente, tem um trabalho solo maravilhoso, chamado “Flávia Muniz e o Olho Mágico“, que lançará o primeiro CD em breve pelo selo espanhol Elefant. Ela dá aula de música para crianças e também é escritora. Seu mais recente livro se chama Bárbara e a Baleia, lançado em 2010. O Daniel Paiva, meu irmão, também tem vários projetos. Ele toca trompete na Orquestra Voadora, que está fazendo bastante sucesso no Rio, é cineasta (acabou de lançar o documentário Malditos Cartunistas) e, nas horas vagas, desenha quadrinhos para a revista Tarja Preta. O PP, ou Pedro Paulo, é arquiteto. Além da Luisa, tem um projeto solo chamado Pedrop78 que também foi lançado pela Midsummer Madness em mp3 anos atrás. Além de guitarra, ele arrisca também na bateria e no trombone. O PC, ou Paulo Cesar, é mestre em filosofia. E o Cristiano é arquiteto e toca instrumentos de percussão em alguns blocos de carnaval do Rio.


Alguém já disse que sem a letra em mãos é quase impossível cantar algumas canções de vocês de maneira coerente?

Nunca disseram exatamente isso, mas já li comentários na internet de gente que confundia bastante alguns dos versos. Em tempo: não é culpa delas. É nossa mesmo. Não fazemos letras fáceis. E adoramos inventar palavras.

Do primeiro para o segundo disco os fãs tiveram uma espera de aproximadamente quatro anos para ter acesso a músicas inéditas. Já existem planos para um terceiro trabalho de estúdio e se eles existem teremos uma espera dessa mesma duração?

Sim, devemos entrar em estúdio depois do carnaval para começar as gravações do terceiro disco. O repertório e os arranjos já estão definidos. É só gravar mesmo. Algumas músicas os fãs já conhecem dois shows, como Home Azul e Jet Plane. Dessa vez não vai demorar tanto como das outras, Será um processo mais rápido. Eu acho…


Ano passado saíram as listas dos discos nacionais mais importantes da década e vocês figuraram não apenas nos blogs e sites de conteúdo alternativo, mas em grandes portais e veículos impressos como O Globo, por exemplo. Isso foi uma surpresa para a banda ou como foi a repercussão disso para vocês?

Vi particularmente a lista do Globo, da qual o Leonardo Lichote participou. Ele é um crítico musical que gosta bastante do nosso trabalho, mas mesmo assim ficamos surpresos e felizes, claro. Não lembro de outras listas da década em que aparecemos. Se puder me mostrar eu agradeço!

Sei que as influências e preferências dos integrantes do Luisa são várias, mas qual é o ponto ou os pontos centrais do que forma o caráter da banda, aquele artista ou grupo que ontem e hoje ainda influencia o trabalho de vocês?

Olha, acho que Mutantes é uma das poucas interseções consensuais em nossos gostos musicais. Acho que Cartola também. Talvez Los Hermanos, embora não tenha certeza. Eu escuto muito indie rock e MPB. O PP também é da turma indie e escuta bastante ska e punk. Meu irmão é do jazz e ska. A Flávia é totalmente MPB, com algumas pitadas de rock leve. O PC é o oposto: curte rock and roll anos 70, com algumas pitadas de MPB. O Cristiano confesso que é uma incógnita para mim. Sei que ele gosta de Luisa pelo menos.


E quais são as novidades que você ou os outros integrantes tem ouvido nos últimos meses?

Acho que tem certos artistas e discos que precisam ser redescobertos e que ainda soam como novos. Caetano na fase do Transa é contemporâneo até hoje. É genial. Mutantes idem. Mas entre coisas novas eu ando completamente apaixonado pelo Broken Social Scene. Nem é mais algo novo de verdade, mas acho que merecia a menção. Flávia Muniz e o Olho Mágico é também muito bom. E recomendo as vídeo-canções de Dimitri Rebello.

Para finalizar, explique-me: “Sou Manu Chao, mano negro, Rappa-Rappa”.

É um jogo de palavras com nomes de bandas/cantores que para mim lembram de alguma forma negritude, música popular e futebol. Devia ser uma tentativa inconsciente de resgatar a parca negritude que existe no meu DNA — eu, um jovem de classe média branquelo.

Acesse o site da banda para mais informações e veja o álbum de estreia do grupo nos nossos Pequenos Clássicos Modernos

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.