Entrevista: Rodrigo Lemos (Lemoskine)

/ Por: Cleber Facchi 04/03/2011

Por: Cleber Facchi

Ele fez parte de uma das bandas mais importantes do rock independente dos anos 2000, a Poléxia, hoje é a cabeça de um trabalho ainda em fase de crescimento, mas que já mostrou todo o seu potencial através de belíssimas composições. Conversamos com o curitibano Rodrigo Lemos, figura importante do cenário musical paranaense e que desde o começo da década passada nos presenteou com uma série de ótimos trabalhos.

Agora ao lado do Lemoskine e se dividindo na produção musical, que envolve de espetáculos teatrais a trilhas para cinema, o músico falou via e-mail sobre seu antigo grupo, as apresentações com a nova banda e seus futuros projetos. Beatles, Radiohead e até Jay-Z acabaram surgindo no meio do papo.

Quando a Poléxia começou no inicio dos anos 2000 o cenário curitibano e bandas como Sabonetes, Copacabana Club e outras que eram apenas embriões davam seus primeiros passos. Enquanto isso vocês e o Terminal Guadalupe seguiam criando o seu próprio espaço dentro da cidade. Você considera que o seu e o trabalho desses outros músicos desse período foi fundamental para a consolidação desse cenário independente em Curitiba? O que você observa como a mudança mais latente nesse panorama local de ontem e hoje?

A Poléxia começou a se apresentar em 2002 e só foi lançar o primeiro disco no fim de 2004. A partir daí, foi tudo muito rápido e conturbado até o fim (em 2009). Fico numa posição esquisita para comentar o tamanho do “legado” deixado… Posso dizer que a banda serviu, sim, de inspiração para nomes locais (e de outras localidades) que surgiram nessa época, pois tínhamos um jeito de pensar e se apresentar que se destacava frente às formações de gerações anteriores; e isso causava certo sentimento de renovação. Mas acho que a primeira metade dos 00’s foi um período de mudanças naturais mesmo, com muitas coisas se reajustando em todos os campos, etc. A principal mudança eu, sinceramente, não consigo enxergar. Estou muito do lado de dentro, ainda participo de trabalhos produzidos na cidade – diria até que mais ativamente – e vejo uma comunhão maior de idéias e objetivos a cada dia que passa.

No último show que você fez ao lado do Apanhador Só percebi que algumas pessoas ainda perguntavam sobre a Poléxia e você respondia de maneira serena e até nostálgica “Poxa, a Poléxia acabou”. Ao mesmo tempo algumas das músicas do grupo como Aos Garotos de Aluguel estão presentes no atual repertório do Lemoskine, existe ainda um carinho muito grande pela sua antiga banda? Qual foi a maior contribuição dela para o Rodrigo Lemos de hoje?

A maior contribuição foi essa espécie de “safári” que pudemos experimentar. Acompanhar e fazer parte do cenário da música nacional, parcerias com nomes consagrados, abrir para os Pixies (!!!) Enfim, histórias pra contar e uns calinhos no pé pra continuar caminhando, né? Escolhi manter Aos Garotos de Aluguel no repertório numa forma de lidar bem com o que já fiz e também por considerar a canção um marco na música local (é o que dizem e eu realmente prefiro concordar com a relevância). Mas o resto é só material novo.

Preciso dizer que o nome “Lemoskine” é simplesmente genial. Essa sacada partiu de ti ou alguém indicou?

Hahahaha Sério? Foi uma bobeira… Mesmo. Ganhei meu primeiro Moleskine no fim do ano passado e, a partir daí, o trocadilho foi inevitável.

Quando o “Lemos” que seria o seu projeto solo (através do qual foi lançado o EP homônimo em 2010) se transformou em banda?

A banda foi (ainda está) se ajustando com o tempo. Comecei a compor o material novo no começo de 2010 e já tinha uma canção Carona registrada por mim, pelo Ale Rogoski (bateria) e pelo João Marcelo Gomes (baixo acústico). Era uma sonoridade diferente que eu estava propondo e, com isso, outros amigos foram se juntando e agregando mais coisas interessantes. Até o EP ser lançado em agosto, a situação era basicamente: eu, arranjando as composições e alternando gravações entre minha casa e o estúdio do Rogoski (OffBeat) e chamando os afins para participações.

Depois dos três primeiros shows (Curitiba, Florianópolis e São Paulo), e com aquela sensação boa de pé na estrada retornando, já éramos uma banda. Os amigos ainda chamam de “a banda do Lemos”, mas a troca de nome é pra deixar claro que não é “o Lemos sozinho”.

A banda que faz parte das apresentações ao vivo (que por sinal é muito bem ensaiada) é fixa e faz parte do Lemoskine ou se resume apenas aos shows? Na hora de compor parte tudo de ti ou você conta com a presença de outros músicos dentro desse processo criativo?

É um pessoal muito talentoso, vindo de diferentes vertentes da música, e o mais curioso é que a gente já se conhecia há tempos, sem nunca ter tocado junto. Além do Ale Rogoski, tem ainda o Vinícius Nisi (piano rhodes e live samples), o Diego Perin (baixo e concertina), o Luís Bourscheidt (percussão) e o Thiago Chaves (guitarra). Todos com seus lindos projetos fora do Lemoskine. A gente tem arranjado as coisas novas durante os ensaios e eu fico numa posição de produtor mesmo, apontando uma direção.

Maria Lúcia Estava Em Chamas é uma ótima composição, mas acabou de fora do primeiro EP. Além dela existem algumas pérolas não tão conhecidas no recente baú do Lemoskine?

Maria Lúcia… foi a primeira a ser gravada como uma banda (o arranjo é mais orgânico também, soa como palco). O resultado deixou todo mundo tão contente que propus uma segunda mix, com o ukulele como instrumento guia. Essa faixa virou bônus para quem compra as mp3 e acabou sendo nossa segunda canção a figurar no site inglês Uke Hunt, a primeira foi Alice.

Assim como acontecia com a Poléxia há muita interferência de músicos do cenário cultural curitibano tanto no EP, quanto nas apresentações do Lemoskine, essas parecerias funcionam a partir de um convite seu, são amigos, como elas ocorrem?

Tudo tem acontecido muito rápido, então os convites têm sido ao acaso, bem como as parcerias (recentemente, escrevi uma música com o Thiago, que também me chamou para participar como guitarrista do trabalho solo dele). O EP de estréia conta ainda com vocais da minha namorada Uyara Torrente (A banda mais bonita da cidade) e flauta do Marcelo Oliveira (Klezmorim, OSP), que vem sendo substituído eventualmente pelo Bernardo Rocha (Universo em Verso Livre). Enfim, é uma grande desordem organizada.

Ano passado você e os Sabonetes fizeram uma versão para All My Loving, dos Beatles, em uma coletânea formada por diversas bandas independentes e que foi lançada na ocasião dos shows do Paul McCartney no Brasil, como foi essa coisa de trabalhar com um material tão histórico como são as canções do The Fab Four? Os Beatles têm uma importância dentro da sua educação musical? Além deles que outros artistas estimulam o seu processo criativo?

Mexer em Beatles é um responsa né? Mas o bom é que quem gosta e aprecia a inventividade dos Fab Four, tendem a acolher iniciativas criativas como essa da coletânea Indie on the Run. É um aval. A forma como arranjamos e gravamos essa faixa acabou resultando em mais um projeto meu com os Sabonetes, que é o Naked Girls and Aeroplanes. Então, sim: Beatles é e sempre será uma grande influência. Também me sinto influenciado pelo Radiohead (que são mais como “os Beatles da nossa geração”) e por uma parcela pequena, porém determinante, de música brasileira que absorvi na infância, por conta dos meus pais.

Você também é produtor musical é com isso que você trabalha fora dos palcos? O que faz o Rodrigo Lemos além do Lemoskine?

Eu mantenho um “home studio itinerante”, produzo trabalhos de outros artistas como: Maricel Ioris, HBanks, Ana Larousse e Leis do Avesso (neste último, divido a produção com o Leandro Delmonico, do Charme Chulo). E, recentemente, venho compondo para cinema e teatro também. No fim do ano passado, tive a oportunidade de experimentar intervenções eletroacústicas numa performance de dança contemporânea chamada Cavalo, da Michelle Moura, integrante do coletivo “Couve Flor – mini comunidade artística mundial”. Nos apresentamos em Curitiba, São Paulo, Fortaleza e isso me despertou um leque de novas possibilidades pro uso dos sons.

Para 2011 o que o Lemoskine pretende construir? Há a possibilidade de se apresentar para além de Curitiba? Novas músicas a caminho?

A continuidade está “ao acaso, mas nem tanto”. Tem um projeto de álbum aprovado por lei de incentivo que está em fase de captação e prevê a produção do John Ulhoa (Pato Fu). Mas a frequência dos singles e EP’s virtuais deve ser mantida. São formatos diretos, que me interessam mais e proporcionam um enxugamento das idéias. Não quero lançar um disco por ano se não tiver material bom o suficiente para isso. O negócio é ir dando vazão ao que vier também. Estou ensaiando uma mudança para São Paulo há tempos e pretendo efetivar isso em 2011.

RAPIDINHAS

Os cinco discos/artistas que você mais ouviu nos últimos tempos?

The Black Keys, Fleet Foxes, Isobel Campbel & Mark Lanegan, Willy Mason e Pélico (com quem dividimos palco no fim de 2010 em SP).

Gosto, mas tenho vergonha de assumir: que música/artista te causa constrangimentos, mas você não consegue parar de escutar?

Não me causa constrangimento, mas talvez as pessoas se espantem em saber que eu gosto muito do Jay-Z.

Miojo Indie

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.