Entrevista: Thiago Werlang – Looking For Jenny

/ Por: Cleber Facchi 02/02/2011

Por: Cleber Facchi

Eles lançaram um dos EPs mais divertidos (e sujos) de 2010, não poupam esforços na hora de compor suas faixas enérgicas e carregadas de uma sonoridade caseira. Na primeira entrevista aqui do Miojo Indie conversamos por e-mail com Thiago Werlang, o homem nos comandos da Looking For Jenny. Vinda da cidade de São Carlos no interior de São Paulo, a banda nem chegou a fazer shows, mas já demonstra um forte potencial dentro da nova leva de artistas inspirados pelo rock Lo-Fi da década de 1990.

 

Antes de tudo: quem é a Jenny? Alguma namorada ou garota que você estava interessado quando criou a banda?

O nome da banda faz juz ao título do EP. “Looking for Jenny” foi uma sugestão aleatória do Otávio e não tem relação com nenhuma garota. Pelo menos é o que ele diz. Já chegaram a perguntar se o nome era referente à “Geni” do Chico Buarque.

 

Quem são os membros do Looking For Jenny e como se conheceram?

A banda é formada por Thiago Werlang de Oliveira (30 anos), Otávio Fabris Gama (26 anos), Bruno Pinheiro Ivan (29 anos) e Felipe Benette (27 anos). Eu e o Otávio nos conhecemos durante a graduação na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e somos atualmente colegas de doutorado (em Física). Na mesma época que comecei a compor as primeiras músicas (inicio de 2010) o Otávio havia formado uma banda (um duo) com o Benette. Certa vez o Otávio me mostrou uma versão de “In my life” dos Beatles feita em parceria com o Benette. Neste mesmo dia lhe mostrei as minhas primeiras composições, ele gostou e sugeriu que deveríamos montar uma banda. Acatada a decisão convidamos o Benette para tocar bateria. Posteriormente, o Otávio convidou o Bruno para tocar baixo, um amigo com quem ele tinha uma banda durante a graduação.

 

Sempre que ouço vocês parece com alguma coisa do disco Bug (1988) do Dinosaur Jr, e todo mundo que ouve vocês faz essa mesma comparação com o som dos trabalhos iniciais da banda de J Mascis. Além deles, quais são os outros grupos ou artistas que influenciam o som da Looking For Jenny?

Sem dúvida o Dinosaur Jr exerce uma influencia direta no som da banda. Desde a minha adolescência eu escuto exaustivamente os álbuns “Bug” e “You’re Lining All Over Me”. Além da aclamada banda do J Mascis as principais influências são as guitar bands dos anos 80/90 que combinaram melodia com distorções como Sonic Youth, Sebadoh, My Bloody Valentine, os primeiros álbuns do Flaming Lips, Eric’s Trip, GBV e o Pavement, para citar algumas. Lembro de ter ficado atônito durante a primeira audição do “Sister” do Sonic Youth. O álbum começa com a fodástica “Schizophrenia” que segundo um amigo é a música do fim do mundo.

 

 

Lá fora vem rolando uma onda bem intensa de bandas influenciadas pelo Guided By Voices e outros artistas que se aventuraram pelas gravações caseiras no início dos anos 90. Isso afeta de alguma forma o som de vocês, já que a banda vem carregada com essa estética bem Lo-Fi nas produções?

Eu costumo escutar muitas bandas novas, principalmente aquelas afetadas pelo indie rock dos anos 90. Isso de alguma forma influencia o som da banda.Gosto, por exemplo, de Wavves, No Age, Big Troubles, Las Robertas, The Pains Of Being Pure At Heart e Times New Viking. Atualmente o debut do Yuck não sai do playlist.

 

Vocês vêm da cidade de São Carlos no interior de São Paulo. Existe espaço para se apresentar aí? Afinal é um município interiorano e o som que vocês fazem é bem limitado a um determinado público.

Apesar de ser uma cidade do interior de SP, existem espaços para tocar. A UFSCar possui uma rádio (http://www.radio.ufscar.br/) que procura estar atenta as novidades de alguns ramos do rock alternativo nacional e internacional, e frequentemente realiza uma “noite fora do eixo” com shows de bandas nacionais (e até mesmo gringas) que buscam uma sonoridade diferenciada daquelas mais “comerciais”. Anualmente é realizado o festival Contato que abre espaço para diversos shows interessantes, o Mudhoney tocou em uma das edições. Infelizmente não conheço bandas locais ligadas à barulheira dos anos 90 ou a cena noise-pop atual, portanto não sei qual vai ser a reação do público as guitarradas ruidosas da Looking for Jenny.

 

Alguém já falou algo do tipo “moço, isso aí tá desafinado!” ou “Nossa que barulheira!” nas apresentações de vocês?

Ainda não escutamos esses comentários, pois não fizemos nenhum show. Apenas no final de 2010 a banda definiu a sua formação para poder se apresentar ao vivo. O mais próximo que chegamos de um show foi um ensaio durante um churrasco na casa do Otávio.

 

Vocês lançaram o Random Walk EP no final de 2010, como foi essa aproximação com a Transfusão Noise Records? Já existia alguma coisa gravada antes desse EP?

Inicialmente eu gravei o EP sozinho usando meu notebook e um microfone de computador (que custou R$ 2,00). Depois de finalizar essa versão inicial do EP, eu decidi enviá-lo para algumas pessoas. O Lê Almeida foi uma das pessoas escolhidas. Eu conheci o trabalho do Lê através do “Revi”, mas foi o primeiro EP da Coloração Desbotada que me motivou a enviar o EP. Ele havia obtido um resultado fantástico com pouquíssimos recursos e fiquei curioso em saber a opinião dele sobre as minhas gravações. Felizmente ele gostou e me propôs de lançarmos o EP pela Transfusão. Após o ingresso dos demais integrantes regravamos algumas músicas (com um microfone um pouco melhor, mas não muito) e enviamos para o Lê. O EP foi então masterizado pelo Paulo Casaes (da banda Fujimo) enquanto que o Laurindo Feliciano, designer da Transfusão, se encarregou de fazer a capa e o encarte. Foi tudo muito rápido e às vezes não acredito que a banda faz parte do cast da Transfusão.

 

Além do formato virtual existe a ideia de lançar alguma coisa em formato físico, tipo fitas K-7 como algumas bandas vêm apostando?

Além do formato virtual a Transfusão também disponibilizou uma versão em CD-R que é vendida por R$: 5,00. Os interessados devem mandar um email para transfusaonoiserecords@bol.com.br.

 

Da onde veio a idéia de fazer uma canção para… O Ed Motta?

Essa é uma história interessante. Eu frequentemente pego carona com um amigo, um grande admirador do Ed Motta. Uma vez ele me perguntou o que eu achava da música do Ed e eu disse que não gostava. Ele ficou indignado e não conseguia entender como era possível não gostar do som do cara. Isso ficou na minha cabeça e certa vez, em uma das minhas frequentes idas a Cuiabá, decidi compor uma música inspirada na letra da primeira música do Ed Motta que aparecesse no google. A música escolhida foi “A charada”. Assim nasceu “Ballad for Ed”.

 

Embora a maior parte do álbum seja composta por canções em inglês, vocês contam com algumas composições em português. Para a banda é mais fácil criar em qual idioma?

Eu tenho mais facilidade para compor em inglês. Eu tento compor em português, mas geralmente acabo fracassando. Admiro muito o Lê Almeida e a Superguidis. Eles conseguem fazer grandes músicas com o nosso idioma. Espero conseguir fazer mais músicas em português, mas acho que por enquanto o inglês será o idioma dominante.

 

Para 2011 o que podemos esperar do Looking For Jenny?

Nosso objetivo principal é conseguir fazer alguns shows. Além disso, estou trabalhado em algumas músicas novas e tenho planos de tentar lançar outro EP no segundo semestre. Mas não há nada certo ainda.

 

*

 

Randon Walk EP foi lançado no final de 2010 pela Transfusão Noise Records. Você pode ler nossa resenha e baixar o disco aqui.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.