Especial Planeta Terra Festival: Gang Gang Dance

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2011

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Com o dia cinco de novembro se aproximando e com ele a chegada da nova edição do Planeta Terra Festival, nada melhor do que começar o aquecimento para aquele que é um dos maiores festivais de música do país. Depois de ter todos os ingressos vendidos em apenas 14 horas (um recorde para o evento), em sua nova edição o festival que será realizado mais uma vez no Paycenter em São Paulo deve seguir a mesma fórmula dos outros anos, oferecendo uma boa programação musical e uma organização impecável. Se você vai ao festival, mas ainda não conhece todas as bandas que irão se apresentar, não fique preocupado, afinal, durante os próximos dias vamos apresentar diariamente uma das atrações que tocarão no evento. Hoje: Gang Gang Dance.

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Psicodelia intercalada com sequências de música eletrônica. Incursões pela música tribal de diferentes etnias. Vocais picotados e espalhados ao longo das faixas. Desordem. Estes são alguns dos elementos que definem a sempre mutável sonoridade do grupo nova-iorquino Gang Gang Dance. Experimental até o talo, cada composição apresentada pela banda vai lentamente revelando uma vasta camuflagem de distintas tendências musicais, um tipo de som que encontra na constante mutabilidade instrumental, lírica e vocal seu grande mecanismo de suporte. Em suas criações é possível encontrarmos desde sequências inteiras de uma percussão entusiasmada, até doses inteiras de uma música sofisticada que quase beira o minimalismo. Sempre elogiados pela imprensa e donos de um fiel grupo de fãs, a banda transforma suas apresentações ao vivo em uma espécie de gigantesco ritual, onde o público se converte em um instrumento a seu favor.

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Revival of the Shittest (2004, The Social Registry)

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Lançado de forma independente e custeado integralmente por seus integrantes, o primeiro registro do GGD já transparece toda a excepcional arte do grupo em promover composições excêntricas, porém, estranhamente convidativas e vastas. Composto de oito faixas – todas elas ausentes de título -, o álbum soa exatamente como um experimento, uma espécie de grande teste para o que o grupo viria a desenvolver em seus futuros trabalhos. Inconstante até seus últimos segundos, o disco abre de forma até “regular” enquanto batidas assíncronas e uma constante sobreposição percussiva e vocal vão temperando o álbum. Entretanto, aos poucos o registro começa a mostrar a real força do grupo, costurando guitarras em looping, batidas cada vez mais esquizofrênicas e sintetizadores que praticamente se orientam sozinhos, sem qualquer auxílio de seus realizadores.

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Gang Gang Dance (2004, Fusetron)

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Se em seu primeiro álbum a repercussão do disco foi até fria perto da vivacidade do trabalho apresentado, com o segundo álbum do coletivo essa percepção seria completamente alterada. Homônimo, o trabalho se divide em exatas duas composições, uma dupla de canções gigantescas. Cada faixa – respectivamente o Lado A e B de um disco – flutua na casa dos 20 minutos de duração, com a banda se valendo de cada mínimo segundo desse tempo para destilar uma série de sons inconstantes, permeados de experimentos variados e vocais que praticamente de apresentam como instrumentos musicais. Ainda mais experimental que o primeiro álbum, o registro vai em meio ao vasto catálogo de distintas referências musicais desenvolvendo uma estranha postura melódica, algo que os lançamentos seguintes acabariam promovendo com maior eficácia, abrindo as portas para que outros públicos pudessem adentrar o terreno da banda.

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God’s Money (2005, The Social Registry)

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Primeiro trabalho que contou com ampla divulgação da imprensa norte-americana e um público já bastante conciso, God’s Money revela um claro amadurecimento nas composições dos nova-iorquinos, agora tomadas por uma sonoridade mais “linear”. As velhas experiências sonoras da banda estão por todos os lados, a diferença está na maneira como isso é explorado, com os vocais de Lizzi Bougatsos fluindo de maneira mais límpida ou quem sabe até separado da soma de excêntricos ritmos desenvolvidos pelo grupo, o que de certo modo trouxe um aspecto mais comercial ao tipo de som proposto pelo GGD. Outro destaque do álbum está na forte aproximação do grupo com os ritmos vindos do oriente médio, uma espécie de tempero musical que acaba padronizando toda a obra dos nova-iorquinos, tornando ainda mais vasta a experiência sonora por eles apresentada.

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Saint Dymphna (2008, The Social Registry/Warp)

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Se a busca por um som cada vez mais melódico e acessível aos mais variados públicos era o que delimitava os últimos trabalhos da banda, com Saint Dymphna, quarto registro do GGD isso se eleva ainda mais. Em meio ao vasto arsenal de sons, formas e inconstantes sonoridades arremessadas pelo grupo, torna-se possível observar uma fina linha pop e convidativa. Algo que se apresenta logo na faixa de abertura, Bebey, se intensifica no hit First Communion (provavelmente a música mais conhecida da banda), explode em House Jam e vai seguindo até o fecho do registro com Dust. Intensamente voltado para os ritmos eletrônicos, o disco é provavelmente o trabalho mais “fácil” do coletivo, que ainda investe forte no uso de letras, rompendo com o aspecto essencialmente hermético e experimental dos anteriores discos. Se alguém pretende se aventurar no universo do grupo, Saint Dymphna é sem dúvidas o caminho mais fácil para isso.

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Eye Contact (2011, 4AD)

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Facilmente o trabalho mais maduro dos nova-iorquinos, Eye Contact é também o registro em que a banda parece ter melhor delimitado suas composições. Há desde a fluidez peculiar dos dois primeiros álbuns – algo bem representado pela épica faixa de abertura, Glass Jar -, toques da sonoridade eletrônica e volátil de Saint Dymphna em MindKilla e Romance Layers (com vocais de Alexis Taylor do Hot Chip), além de uma aura conceitual que delimita o disco, fracionando-o em uma sequência de três distintos blocos musicais. Enquanto a primeira metade do álbum investe no lado mais experimental e peculiar do grupo, a segunda metade foca no uso de faixas mais fáceis e sintetizadas, deixando para o momento final da obra uma intensa aproximação com a World Music. Maior obra dos nova-iorquinos, o álbum flui como um grande concentrado de todas as experiências ressaltadas pela banda em uma década de produções sempre fenomenais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.