Especial Planeta Terra Festival: Goldfrapp

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2011

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Com o dia cinco de novembro se aproximando e com ele a chegada da nova edição do Planeta Terra Festival, nada melhor do que começar o aquecimento para aquele que é um dos maiores festivais de música do país. Depois de ter todos os ingressos vendidos em apenas 14 horas (um recorde para o evento), em sua nova edição o festival que será realizado mais uma vez no Paycenterem São Paulo deve seguir a mesma fórmula dos outros anos, oferecendo uma boa programação musical e uma organização impecável. Se você vai ao festival, mas ainda não conhece todas as bandas que irão se apresentar, não fique preocupado, afinal, durante os próximos dias vamos apresentar diariamente uma das atrações que tocarão no evento. Hoje: Goldfrapp.

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Enquanto a Europa apresentava seus últimos grandes exemplares do Trip-Hop, ritmo que embalou o mundo durante toda a década de 1990, uma desconhecida dupla inglesa foi aos poucos agregando este e outros elementos musicais que posteriormente seriam transformados em Felt Mountain, o primeiro álbum do Goldfrapp. Formado por Alison Goldfrapp e Will Gregory, o duo conseguiu desde seu debut desenvolver uma sonoridade sofisticada, carregada de nuances eletrônicas, incursões pelo synthpop, bossa nova, downtempo, dance music, e claro, trip hop. Transitando entre o etéreo e o dançante, o casal rapidamente conquistou os elogios da crítica e posteriormente o amor dos fãs, que encontraram no projeto um universo de sensações suaves, adocicadas e capazes de manter o ouvinte em constante estágio de flutuação.

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Felt Mountain (2011, Mute)

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Lançado na virada para o novo século, Felt Mountain surge como uma espécie de detalhado resumo sobre o que foi a música eletrônica ao longo dos anos90. A melancolia sedutora do Portishead, o synths sofisticados que inundaram a música francesa durante o período, além de alguns finos traços de música pop estão presentes em todo o trabalho. Encantador e amarrado a arranjos excepcionais, o registro abre diminuto, cresce de maneira hipnótica, até adormecer em uma maré de sons sintetizados sobrepostos de forma quase matemática. Embora classificados como uma clara dissidência do trip-hop que assolou a Inglaterra na década de 1990, o álbum apresenta um novo conjunto de sons, com o duo se apoiando em uma temática voltada aos cabarés franceses e até alguns arranjos típicos da música erudita.

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Black Cherry (2003, Mute)

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Se alguém esperava que o duo inglês promovesse em seu segundo álbum uma exata continuação daquilo que fora desenvolvido em seu debut, com a chegada de Black Cherry todas as expectativas foram postas de lado. Nada das mesmas sensações esvoaçadas de outrora, apenas o uso de sintetizadores carregados e beats montados para as pistas, com a dupla deixando o campo etéreo para pisar firma no chão. Alison que antes surgia como uma espécie de ninfa da música, um ser místico adornado de elementos repletos de delicadeza, agora se revela como uma espécie de diva da música eletrônica, esbanjando seus vocais quase robóticos enquanto entoa versos que abandonam o melancólico em prol do sedutor. Fazendo uma espécie de resgate dos anos 80, o disco se pinta de sons fluorescentes, derramando composições que rapidamente hipnotizam os ouvintes, fazendo-os dançar de maneira leve e descompromissada.

Supernature (2005, Mute)

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Mais comercial trabalho já lançado pelo Goldfrapp, Supernature abandona o suposto flerte da dupla com a música pop, para abraçar de vez o gênero. O resultado são composições como Ooh La La, Number 1 e Fly My Away, que contribuíram para aproximar o casal do grande público, sem em nenhum momento abandonar o que fora produzido pela dupla anteriormente. A mudança na sonoridade acabou dividindo opiniões, afinal, diferente dos trabalhos anteriores, em Supernature é visível a busca por um som mais esparso e incapaz de amarrar todas das canções dentro de um mesmo universo de experiências musicais. Se antes as aproximações com a New Wave se manifestavam ao fundo das composições, agora elas se projetam com destaque, algo que os ingleses viram a repetir futuramente em seu quinto disco.

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Seventh Tree (2008, Mute)

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Surgindo como uma espécie de regresso ao primeiro trabalho da dupla, o quarto álbum da carreira do Goldfrapp aponta um rápido abandono aos sons eletrônicos em prol de uma sonoridade orgânica, tímida e ainda mais bela do que qualquer outra coisa já desenvolvida pelo casal. Revivendo as velhas aproximações com a cena Downtempo, além de promover uma forte dose de sons relacionados com a música folk e a bossa nova, a dupla vai puxando lentamente o ouvinte para seu universo de sons melancólicos, projeções delicadas e uma atmosfera quase angelical. Ao mesmo tempo em que deixam ecoar faixas carregadas de sofisticação e que parecem simplesmente se fragmentar enquanto executadas, a dupla tira tempo para desenvolver algumas canções mais densas, faixas como o hit Happiness, que mais uma vez chamaram as atenções para o trabalho dos britânicos.

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Head First (2010, Mute)

Sempre apoiados na constante mudança de sua própria sonoridade, ao apresentar o quinto trabalho de sua elogiada carreira o Goldfrapp resolveu abandonar de vez qualquer traço com um som conceitual e delicado. O resultado dessa busca por uma música fácil e capaz de dialogar com todos os públicos está em Head First, um registro de nove composições agradáveis e dançantes, com a dupla mais uma vez retornando aos sons dos anos 80 para encontrar sua inspiração. Se por um lado o trabalho fez com que a banda perdesse a simetria instrumental de outrora, por outro lado acabou garantindo ao público seguidor do casal uma série de faixas empolgadas e arquitetadas para as pistas de dança. Da abertura ao som de Rocket, passando pela despojada Beliver até o fecho com Voicething, tudo dentro do álbum parece montado para grudar nos ouvidos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.