Disco: “Eu Menti Pra Você”, Karina Buhr

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2011

Karina Buhr
Brazilian/Female Vocalists/Experimental
http://www.karinabuhr.com.br/

Por: Cleber Facchi

Em 2009 quando Céu lançou seu segundo trabalho de estúdio, Vagarosa, todos os limites do que seria um conceitual trabalho de intérprete pareciam quebrados. As velhas fórmulas por anos aproveitadas pelos grandes ou recentes nomes da música feminina brasileira agora soavam renovados, tanto que no ano seguinte ao lançamento do fundamental registro, uma série de trabalhos icônicos acabaram se revelando. Tulipa Ruiz com Efêmera e Nina Becker com seu álbum duplo foram alguns dos exemplos que vieram desse mesmo sopro de criatividade, porém, nenhum conseguiu igualar com beleza e excentricidade o que fora proposto por Karina Buhr em sua estreia.

Eu menti pra você (2010) é um desses registros que quebram a própria lógica do que pode ser visto como música. Primeiro trabalho longe de sua antiga banda, a Comadre Fulozinha, o disco funciona como um ponto de encontro para que diferentes sons, músicos, histórias e vivências possam se encontrar e dar vida a um diálogo carregado de inúmeras referências. É como a Constantinopla dos velhos tempos ou Nova Iorque dos anos presentes, onde indivíduos e tendências de diferentes nacionalidades convergem, debatem e trocam suas experiências.

Não há um limite ou algum tipo de lógica que padronize o que possa ser explorado nas 13 faixas que abrangem o trabalho de Buhr. A música popular brasileira dos anos 70 parte de encontro ao pop e aos sons eletrônicos dos anos 2000, a pluralidade dos ritmos regionais amplia suas experiências se encontrando com o rock, enquanto o que venha a soar estrangeiro é absorvido e transformado em algo quase genuinamente nacional. Embora não existam limites há claramente um direcionamento dentro do disco, com Karina e sua voz apontando os rumos a serem tomados.

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Do ampliado mosaico de sons que constroem o disco, vêm também uma gama de variados instrumentistas, todos oriundos de terras distintas e experiências musicais múltiplas. As guitarras do álbum vem do encontro de dois mestres em seus instrumentos, Edgar Scandurra e Fernando Catatau (Cidadão Instigado), enquanto o trompete encontra-se nas mãos de Guilherme Mendonça (Guizado). Bruno Buarque (bateria), Mau (baixo), Dustan Gallas (teclados), Otávio Ortega (teclados e bases eletrônicas) e Marcelo Jeneci (acordeon e piano) movimentam grande parte das bases do álbum, deixando para a alemã Juliane Elting e para o percussionista cubano Pedro Bandera um toque de maior pluralidade ao registro.

Se vários são os sons propagados pelo álbum, diversas são as temáticas elencadas pela baiana (que cresceu em Pernambuco) em suas letras. O disco abre falando de amor de uma maneira própria (Eu Menti Pra Você e Avião Aeroporto), passa pelos conflitos no Iraque (Nassiria e Najaf), ironiza a Lei de Incentivo à Cultura e o mercado fonográfico (Ciranda do Incentivo) e se fragmenta em pequenos momentos de melancolia (Bem Vindas e Plástico Bolha), sempre dentro de uma interpretação muito própria sobr tais temas.

Para os habituados às sempre convencionais amarras da indústria fonográfica e seus trabalhos que pouco exploram novas temáticas, talvez a estreia solo de Karina Buhr possa soar como algo ruidoso ou difícil de ser compreendido. De fato não é um desses registros que concentram suas forças apenas nos refrões ou em ritmos tradicionais, mas é algo que exige certo esforço do ouvinte e por conta disso soe cada vez mais agradável em toda nova audição.

Eu Menti Pra Você (2010)

Nota: 8.7
Para quem gosta de: Tulipa Ruiz, Guizado e Cidadão Instigado
Ouça: Eu Menti Pra Você

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.