Os 25 Melhores Discos de 2018 (Até Agora)

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2018

 

Do pop ao hip-hop, do rock ao jazz, é hora de organizar alguns dos principais lançamentos da música brasileira em nossa tradicional lista com os melhores discos do meio do ano. Para o especial, selecionamos apenas trabalhos que passaram pela sessão Melhores Discos, além, claro, de outras obras que tiveram uma avaliação positiva em nossas resenhas. Sentiu falta de algum trabalho? Compartilhe nos comentários qual é o seu registro favorito do ano até agora.

 

Alice Caymmi
Alice (2018, Flecha de Prata)

Tudo que eu quero te falar / É muito simples, muito simples mesmo / Tudo que eu quero te falar / Não é tão difícil, não é tão difícil“. A letra cíclica que abre a crescente Spiritual, canção escolhida para inaugurar o novo álbum de Alice Caymmi, Alice (2018, Flecha de Prata), funciona como um poderoso resumo da poesia descomplicada que orienta o ouvinte durante toda a execução da obra. A busca declarada da cantora e compositora carioca por um som ainda mais acessível, pop, como uma clara continuação do universo conceitualmente desbravado há quatro anos, durante a produção do antecessor Rainha dos Raios (2014). Obra de possibilidades, produto do incessante esforço em provar de novas referências instrumentais, o álbum de nove faixas faz de cada fragmento o princípio de um novo ambiente a ser desvendado pelo ouvinte. Como indicado durante o lançamento de Louca, música originalmente gravada pela mexicana Thalia, Caymmi e a parceira de produção, a conterrânea Bárbara Ohana, buscam não apenas dialogar com uma parcela ainda maior do público, como transportar para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo da artista — vide o registro da última turnê de Caymmi. Leia o texto completo.

 

Anelis Assumpção
Taurina (2018, Direto / Scubidu Music)

Da estreia com Sou Suspeita, Estou Sujeita, não Sou Santa (2011), ao colaborativo encontro com os Amigos Imaginários, em 2014, Anelis Assumpção sempre encarou a si mesma como a protagonista da própria obra. Um cuidado que se reflete na completa particularidade dos versos — sejam versões para o trabalho de outros compositores ou mesmo peças autorais —, ao minucioso catálogo de ritmos que embalam o trabalho da artista, principalmente variações do reggae/dub. Elementos que parecem dialogar com o cotidiano, romances, medos e conquistas da paulistana. Nada que se compare à fina exposição poética e sentimental detalhada no terceiro e mais recente álbum da cantora, Taurina (2018, Direto / Scubidu Music). Inspirado pelas vivências, reflexões e histórias acumuladas por Assumpção nos três últimos anos, Taurina nasce como um curioso exercício da cantora em traduzir musicalmente a própria alma. Para além do campo astrológico detalhado no título e imagem de capa do trabalho — projeto assinada pela artista visual Camile Sproesse —, canções que refletem o poder do feminino, a sexualidade e vulnerabilidade da mulher, estímulo para cada uma das 13 composições que movimentam o disco. Leia o texto completo.

 

Bike
Their Shamanic Majesties’ Third Request (2018, Quadrado Mágico)

Sonhei / Não quero acordar“. Embora curto, o fragmento poético encaixado em Chá, quarta faixa de Their Shamanic Majesties’ Third Request (2018, Quadrado Mágico), parece dizer muito sobre o conceito onírico detalhado pelos integrantes da Bike no terceiro e mais recente álbum de inéditas da banda. Trata-se de um claro delírio transformado em música, como se do universo explorado no antecessor Em Busca da Viagem Eterna (2017), o grupo paulista fosse capaz de ir além. Muito além. Econômico quando próximo do material testado nos dois primeiros álbuns de estúdio, principalmente, 1943 (2015), TSMTR ganha forma aos poucos, sem pressa. São ambientações etéreas, sem-acústicas, vozes submersas e ruídos sutilmente orquestrados por cada integrante da banda — em estúdio, completa pelos músicos Julito Cavalcante (guitarra e voz), Diego Xavier (guitarra, voz e viola caipira), Daniel Fumega (bateria e percussão), João Gouvea (Voz, baixo e viola caipira) e Brenno Balbino (Sintetizadores). Leia o texto completo.

 

Cora
El Rapto (PWR Records)

O trecho breve destacado no interior de Kόρη, segunda música de El Rapto (2018, PWR Records), diz muito sobre a poesia intimista, doce e libertadora que invade o primeiro álbum de estúdio da dupla paranaense Cora. Composições movidas pela forte sensibilidade dos arranjos e versos, como um convite a se perder em um universo de emanações inebriantes, reflexões sobre a descoberta da feminilidade e, principalmente, o amadurecimento sentimental do eu lírico. Inspirado no mito grego de Perséfone — divindade raptada por Hades e obrigada a viver no mundo inferior —, El Rapto discute o sufocamento do feminino frente ao controle de uma figura masculina. “Eu preciso respirar“, clama a voz de Kaíla Pelisser (sintetizador e voz) nos instantes finais de Massagem Cardíaca, faixa em que a poesia angustiada do álbum se revela com maior naturalidade, valorizando a inserção dos instrumentos detalhados pela parceira Katherine Zander (guitarra e voz), e os músicos Lorenzo Molossi (bateria), Lui Bueno (guitarra e voz) e Leonardo Gumiero (baixo, sintetizador, programação), esse último, produtor do disco. Leia o texto completo.

 

Cordel do Fogo Encantado
Viagem ao Coração do Sol (Independente)

Liberdade é palavra de ordem em Viagem ao Coração do Sol (2018, Independente). Primeiro álbum de inéditas do grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado em 12 anos, o sucessor do maduro Transfiguração (2006) mostra o esforço da banda formada por Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz) e José Paes de Lira (voz) em se reorganizar e, ao mesmo tempo, romper com os próprios limites dentro de estúdio. Um permanente desvendar da própria identidade artística e poesia que vem sendo explorada desde o homônimo debute do quinteto, lançado em 2001. “O sonho acabou / E só assim saímos do fundo da terra em direção ao Sol / O mundo agora é esse: Precisamos falar com a filha do vento / A que chamam / Liberdade“, declama o vocalista Lirinha logo nos primeiros segundos do disco, apontando a direção seguida pelo grupo no restante da obra. Morte e ressurreição, fim e recomeço. Um olhar para o passado, mas que em nenhum momento se distancia do presente, como se os cinco integrantes da banda seguissem exatamente de onde pararam há oito anos, quando silenciaram temporariamente o trabalho do grupo para investir em outros projetos. Leia o texto completo.

 

Dingo Bells
Todo Mundo Vai Mudar (Independente)

Relacionamentos humanos, a incerteza do dia a dia e pequenos conflitos pessoais. Em Todo Mundo Vai Mudar (2018, Independente), segundo e mais recente álbum de inéditas do grupo gaúcho Dingo Bells, todos os elementos apresentados durante a produção de Maravilhas da Vida Moderna (2015) são delicadamente resgatados, porém, dentro de uma nova estrutura. Um olhar curioso sobre a contemporaneidade e as ações tomadas pelos indivíduos, conceito reforçado em cada fragmento poético que invade o trabalho. Extensão radiofônica do material entregue há três anos, o registro de dez faixas mostra o cuidado da banda — formada por Diogo Brochmann (guitarra e voz), Felipe Kautz (baixo e voz), Rodrigo Fischmann (voz e bateria) —, em explorar um som cada vez mais acessível, pop. São rimas descomplicadas que se amarram ao uso de elementos da soul music brasileira e internacional, como um diálogo com a obra de Hyldon, Tim Maia, Stevie Wonder e demais veteranos do gênero. Leia o texto completo.

 

Djonga
O Menino que Queria Ser Deus (2018, Independente)

Djonga é um reflexo daquilo que sustenta nos próprios versos: “Eu sou daqueles que dá o papo reto e vive torto“. Um personagem errático em um cenário consumido pelo caos urbano, racismo, conflitos diários, preconceito e a busca declarada pela sobrevivência. O Menino que Queria Ser Deus (2018, Independente), como escancara de maneira explícita no título do segundo álbum de inéditas. Versos angustiados e pequenas reflexões que nascem como complemento direto ao material testado pelo rapper mineiro durante a produção do debute Heresia (2017). Misto de ruptura e complemento, OMQQSD mostra o esforço do artista em ampliar os próprios domínios em relação ao material entregue há poucos meses. Prova disso, está na estrutura melódica que rege grande parte das canções, como na acústica De Lá, nona faixa do registro e uma fuga inteligente da rima seca, reta, anteriormente testada pelo rapper. Um provar de novas experiências, ritmos e possibilidades que se veste de renovação mesmo nos instantes de maior reciclagem conceitual. Leia o texto completo.

 

Drik Barbosa
Espelho (2018, Laboratório Fantasma)

“Novata” é um título que não se aplica ao trabalho de Drik Barbosa. Mesmo dona de um reduzido acervo de faixas autorais – como No Corre e 1992 –, sobram composições bem-sucedidas e passagens pelos registros de diferentes representantes do rap nacional. Do esforço como integrante do coletivo Rimas & Melodias, com quem lançou um ótimo disco no último ano, passando pelo encontro com nomes como Nego E. e Emicida, sobram fragmentos e versos capazes de refletir o completo esmero da artista paulistana dentro de estúdio. Prova disso está no primeiro EP de inéditas da cantora/rapper em carreira solo, Espelho (2018, Laboratório Fantasma). Trata-se de um claro catalisador de experiências, ritmos e temas acumulados nos últimos anos. Um trabalho de essência particular, conceito reforçado logo na homônima faixa de abertura – “Eles dormem, eu faço planos / Sempre alerta, sem panos … Por onde passei, deixei rastros de amor” –, mas que em nenhum momento parece excluir o ouvinte desse processo. Leia o texto completo.

 

Elza Soares
Deus é Mulher (Deck Disc)

Deus é mulher. O título forte, talvez provocativo para os mais conservadores, funciona como um poderoso indicativo da poesia política, crua e necessária que invade o novo álbum de estúdio de Elza Soares. Sequência ao material entregue no elogiado A Mulher No Fim do Mundo (2015) – primeiro registro de inéditas da cantora carioca –, o trabalho de 11 faixas amplia significativamente parte do universo detalhado pela artista há três anos. Um desvendar da alma feminina, debates sobre religião, o florescer da sexualidade e violência urbana. Fuga declarada do samba torto incorporado ao álbum anterior, Deus é mulher se entrega ao rock não apenas na estrutura musical montada por Guilherme Kastrup, produtor do disco, em parceria com Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos, mas, principalmente, no discurso. Do momento em que tem início, em O que se cala, faixa composta por Douglas Germano, também responsável por Maria da Vila Matilde, até alcançar a derradeira Deus há de ser, Elza se projeta com ferocidade, revelando uma postura quase punk, anárquica. Leia o texto completo.

 

Erasmo Carlos
Amor é isso (2018, Som Livre)

Dono de uma extensa discografia, parte expressiva dela concentrada entre o final dos anos 1960 e início da década seguinte, de tempos em tempos, Erasmo Carlos reaparece com um ou vários registros de merecido destaque. Foi assim com a sequência formada por Mulher (1981), Amar pra Viver ou Morrer de Amor (1982) e Buraco Negro (1984), no começo dos anos 1980, além da recente dobradinha composta por Rock ‘N’ Roll (2009) e Sexo (2011), obras responsáveis por apresentar o trabalho do cantor a toda uma nova geração de ouvintes. Contido quando próximo do material apresentado há quatro anos, em Gigante Gentil (2014), o recente Amor é isso (2018, Som Livre), 31º álbum de estúdio do cantor carioca, é uma dessas preciosidades na carreira do Tremendão. De essência romântica, o trabalho que conta com produção assinada por Pupillo (Nação Zumbi) e direção artística de Marcus Preto se espalha vagaroso, sussurrando versos guiados pelo romantismo agridoce de seu realizador. Leia o texto completo.

 

Huey
Ma (2018, Sinewave / Black Hole Productions)

Um instante de breve silenciamento que precede o esporro. Em Ma (2018, Sinewave / Black Hole Productions), segundo álbum de estúdio do quinteto paulistano Huey, todos os elementos do disco se revelam ao público em pequenas doses. São camada de fina distorção, paisagens instrumentais e ruídos ensurdecedores que se dobram de forma a completar toda e qualquer lacuna do registro. Um exercício minucioso, complexo, efeito da completa interferência e combinação de cada integrante da banda – hoje completa pelos músicos Rato (bateria), Dane El (guitarra), Vina (guitarra), Minoru (guitarra) e Vellozo (baixo). Menos urgente em relação ao material apresentado há quatro anos em ACE (2014), álbum de estreia do grupo, Ma é um trabalho que encanta justamente pela forma como os membros da Huey parecem seguir em uma medida própria de tempo, sem pressa. Do momento em que tem início, em Inverno Inverso, até alcançar a derradeira O+, com quase nove minutos de duração, perceba como cada composição do disco parece recortada de forma cirúrgica pela banda, alternando entre instantes de fúria e parcial recolhimento. Leia o texto completo.

 

Irmão Victor
Cronópio? (2018, Chupa Manga Recs.)

Mesmo dentro da efervescente produção brasileira, suas variantes rítmicas e projetos que caminham de diferentes campos da música psicodélica, Marco Benvegnú parece manter um explícito grau de distanciamento, como se observasse ao longe toda essa movimentação. Sob o título de Irmão Victor, o cantor e compositor original de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, passou os últimos dois anos se aventurando em uma série de experimentações curiosas. Trabalhos como o ótimo Passos Simples para Transformar Gelatina em um Monstro (2016), torto registro em que encontra nos delírios lisérgicos das décadas de 1960 e 1970 um poderoso elemento para reformular o presente. Em Cronópio? (2018, Chupa Manga Recs.), terceiro e mais recente álbum de inéditas, Benvegnú vai além. Dono de uma musicalidade e poesia própria, mergulhada em maquinações tão realísticas quanto oníricas, o músico gaúcho esconde segredos, nuances e pequenas texturas instrumentais que convidam o ouvinte a desvendar e não apenas ouvir o trabalho. Fragmentos sutilmente espalhados em uma cama de incertezas, como uma fina desconstrução do som testado no disco anterior. Leia o texto completo.

 

Illy
Voo Longe (Universal)

Produto da colorida sobreposição de ritmos — samba, ijexá, bossa nova, jazz, rock, pop e música cubana —, Voo Longe, estreia da baiana Illy, encontra no passado uma série de elementos para dialogar com o presente. São melodias empoeiradas, versos marcados pelo completo romantismo e um timbre de voz doce que lembra a jovem Gal Costa. Um reciclar de velhas experiências, mas que em nenhum momento soa como uma obra desgastada, pelo contrário, difícil não se deixar conduzir pela leveza e evidente frescor que orienta a construção do disco. Enquanto a produção do disco conta com a assinatura cuidadosa de Moreno Veloso e Kassin, nos versos, Illy passeia por entre versões para o trabalho de Djavan (Que Foi My Love?), além de músicas assinadas por nomes como Arnaldo Antunes (Afrouxa, Devagarinho), Alberto Continentino e Jonas Sá (Baleia) e Chico César (Só eu e você). Um som precioso que se revela tão logo o disco tem início, em Sombra da Lua, parceria com Gerônimo Santana, e segue até a derradeira ElaLeia meu texto na Folha.

 

Kassin
Relax (2018, LAB 344)

Do universo de emanações oníricas detalhadas na canções de Sonhando Acordado (2011) para a nostalgia delirante de Relax. Sete anos após o último trabalho de estúdio em carreira solo, Kassin decidiu se aprofundar ainda mais no diálogo com a música brasileira dos anos 1970 e 1980. O resultado dessa curiosa visita passado está na formação de um registro guiado pela fina colagem de ritmos – pop, soul, funk, jazz, rock –, e versos que se apegam ao cotidiano do prório artista de forma torta. Da crise política detalhada na inaugural O Anestesista (“A vida desse pobre moribundo / Lendo o que as pessoas acham / Sobre o golpe de Brasília / Que desilusão“), passando desaceleração na faixa-título (“Depois de um dia difícil / Quando as horas não passam / Relaxar com os amigos / Sem pensar em mais nada“), e romantismo doce de Coisinha Estúpida – releitura em parceria com Clarice Falcão para um dos clássicos da dupla Leno e Lilian na Jovem Guarda –, cada elemento do álbum se projeta como um reflexo da força criativa de seu realizador. Leia meu texto na Folha.

 

Kiai
Além (2018, Escápula Records)

Quatro anos, esse foi o tempo investido pelos músicos Marcelo Vaz (piano e teclado), Lucas Fê (bateria) e Dionísio Souza (baixo elétrico) para a produção do complexo Além (2018, Escápula Records), primeiro álbum de estúdio do grupo gaúcho Kiai. Ora climático e intimista, feito para ser apreciado sem pressa, ora grandioso, conduzido em meio a nuances e camadas instrumentais de vívido esmero, o trabalho de sete faixas (oito na versão digital) convida o ouvinte a se perder em um cenário marcado pela constante transformação, como uma fuga declarada do óbvio. Completo pela presença do guitarrista Isaías Soares, hoje ex-integrante da banda, a estreia do grupo gaúcho é um trabalho que exige tempo até ser absorvido em essência pelo ouvinte. De fato, são mais de 70 minutos de duração dissolvidos em meio a composições extensas, atos espaçados com mais de 10 minutos de duração onde cada instrumentista assume uma posição de merecido destaque, detalhando um universo de histórias e influências particulares mesmo no completo silenciamento das vozes. Leia o texto completo.

 

Manoel Magalhães
Consertos em Geral (2018, 8-Bics)

Na imersão dos fones de ouvido, o tempo se comporta de forma diferente quando passeamos pelas canções de Consertos em Geral (2018, 8-Bics). É como espreitar por entre as brechas de um passado distante, reviver de forma nostálgica a experiências de uma época que não volta mais. Da minuciosa composição dos versos ao som harmonioso e limpo que escorre por entre as faixas, Manoel Magalhães faz de cada fragmento do primeiro álbum em carreira solo um objeto de merecido destaque, revelando ao público uma obra mágica. Tamanho cuidado não vem por acaso. Dono de uma extensa seleção de obras partilhadas entre diferentes projetos da cena carioca, como Polar, Harmada e a extinta Columbia, na qual atuou como guitarrista e compositor, o músico fluminense transporta para dentro do presente disco parte da mesma atmosfera melódica e fina interpretação da música pop. São arranjos claramente ancoradas no folk-rock dos anos 1970 e 1980, como um resgate criativo de clássicos da música nacional e estrangeira. Leia o texto completo.

 

Maria Beraldo
Cavala (2018, Risco)

Em Cavala (2018, Risco), álbum de estreia da cantora, compositora e clarinetista Maria Beraldo, a alma feminina transborda. Concebido em meio a camadas de ruídos eletrônicos, diálogos com o jazz e versos orientados pela profunda sensibilidade dos temas, cada fragmento do disco se projeta de forma intimista, doce e, ao mesmo tempo, furiosa. Um verdadeiro turbilhão sentimental que busca conforto em passagens autobiográficas e memórias ainda recentes da artista, porém, capazes de dialogar com todo e qualquer ouvinte. “Tenso / Tão desavisado meu / Tesão / Vive um momento / Tenso / Livre leve solto de coração / É gostoso é / Tenso”, canta logo na abertura do disco, na explosiva Tenso, um indicativo da completa entrega de Beraldo durante toda a execução da obra. Versos em que discute a própria sexualidade (Amor Verdade), a herança feminina (Maria), personagens próximos (Helena) e a força do sexo como um importante componente criativo para a formação dos versos (Cavala). Leia o texto completo.

 

Marrakesh
Cold as a Kitchen Floor (2018, Balaclava Records)

Ouvir Cold as a Kitchen Floor (2018, Balaclava Records), estreia do grupo curitibano Marrakesh, é como tatear um ambiente escuro. Sem saber exatamente o que encontrar pela frente, faixa após faixa, o grupo brinca com os instantes, colidindo diferentes fórmulas instrumentais, conceitos e, principalmente, sentimentos, cuidado que se reflete desde a música de abertura do disco, Void, e segue até a derradeira Mirage, minucioso ato escolhido para o fechamento do registro. Produto da lenta sobreposição de ideias e preferências compartilhadas por cada membro do projeto — hoje composto por Lucas Cavallin, Bruno Tubino, Thomas Berti, Matheus Castella e Nicholas Novak —, o álbum de 12 faixas ganha forma aos poucos, sem pressa. Entre guitarras carregadas de efeito, sintetizadores, samples e vozes maquiadas pelo uso do auto-tune, cada elemento da obra parece transportar público e banda para um novo território, brincando com a interpretação do ouvinte. Leia o texto completo.

 

Mauricio Pereira
Outono no Sudeste (2018, Independente)

Pra que caneta, papel? / A poesia hoje não apareceu / E as rosas / Na floricultura / E os pássaros / Na gaiola … Eu não sei se o amor existe / Eu sou um homem triste“. Em tom sóbrio, o canto melancólico de A Mais (Rubião Blues), faixa de abertura de Outono no Sudeste (2018, Independente), indica parte do caminho percorrido pelo cantor e compositor paulistano Maurício Pereira no 7º álbum de inéditas em carreira solo. Versos descritivos, ora cantados, ora declamados, como se cada elemento espalhado pelo cotidiano do artista fosse observado de maneira atenta e transformado em música. “Um windows ligando lá longe / Passar a noite em claro roendo unha / Com a luz apagada / Chorar baixinho no escuro / Com o despertador armado em seis e meia“, canta em Tudo Tinha Ruído, música em que passeia por entre cenas (“A primeira lasca do iceberg / Que o Alasca um dia rachará“), personagens (“O coração da moça que partiu / Sozinha no último metrô“) e acontecimentos mundanos (“A mãe de um nenê que chora / Anda e canta zonza com ele no colo“) que se conectam pelo som. Pequenas narrativas visuais que se permitem montar na cabeça do ouvinte, fazendo deOutono no Sudeste uma obra que parece maior a cada nova audição. Leia o texto completo.

 

Mestre Anderson Miguel
Sonorosa (EAEO Records)

Da batida, nasce o canto e tem início a comoção. Ouvir Sonorosa (2018, EAEO Records), terceiro e mais recente álbum de estúdio de Mestre Anderson Miguel, é como se transportar para o ambiente dominado pelas cores, ritmos e sorrisos que marcam os cortejos de Maracatu. Vindo de uma longa tradição de mestres cirandeiros, o artista, hoje com 22 anos, resgata décadas de referências em meio a ensaios e encontros de Maracatu de Baque Solto na Zona da Mata de Pernambuco. Um misto de tradição e busca pela própria identidade que garante vida ao rico repertório montado para o álbum. “A primeira vez que eu canto aqui / O povo tá aí, pra me ver cantar / Vamos cirandar Vamos cirandar / Joguei a primeira ciranda no ar“, canta logo nos primeiros minutos do disco, em No Ar, um convite a se perder pelo universo conceitual que cresce em uma estrutura festiva ao longo da obra. Da voz limpa, brotam histórias, pensamentos e sensações, sempre acompanhadas pela percussão firme e metais que cercam o artista durante toda a execução do registro. Leia o texto completo.

 

Moons
Thinking Out Loud (2018, Balaclava Records)

A beleza explícita nas canções de Thinking Out Loud (2018, Balaclava Records), segundo e mais recente álbum de inéditas do Moons, exige tempo ser totalmente absorvida pelo ouvinte. Imerso em ambientações minimalistas, pianos, arranjos acústicos e vozes submersas, sempre vagarosas, cada fragmento do trabalho se revela aos poucos, em pequenas doses, como se o mineiro André Travassos, grande responsável pelo projeto, fosse capaz de jogar com os próprios sentimentos, ocultando e revelando segredos a todo instante. Próximo e ao mesmo tempo distante do som incorporado no primeiro álbum de estúdio do músico, Songs of Wood & Fire (2016), o registro de dez faixas e pouco menos de 40 minutos de duração se distancia do ambiente arborizado de faixas como Golden Sun e Hunting You para explorar um território urbano, sombrio. São movimentos econômicos que delicadamente transportam o ouvinte para um ambiente à meia luz, talvez um clube de jazz. Leia o texto completo.

 

Paes
Mundo Moderno (2018, Abismmo)

Existe uma leveza rara na estrutura que marca os arranjos e versos de Mundo Moderno (2018, Abismmo). Segundo e mais recente álbum de estúdio do cantor e compositor pernambucano Paes, o sucessor do versátil Sem Despedida (2013) encontra na profunda sensibilidade dos temas um precioso elemento de conexão entre as faixas. Instantes em que o músico flutua em meio a poemas existencialistas, delicadas canções de amor e atos de doce melancolia. Inaugurado pela psicodelia litorânea de Ossos do Ofício, o trabalho de dez faixas e pouco menos de 40 minutos se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. “Olho pro mundo e sinto que não sou daqui … Ossos do ofício de gente pensante num mundo moderno / Ir contra um gigante nem tão pensante assim“, canta em tom pessimista enquanto guitarras e batidas lentas se espalham ao fundo da canção, indicando parte da estrutura econômica, porém, detalhista que orienta o registro. Leia o texto completo.

 

Rashid
Crise (2018, Foco na Missão)

Da confirmação artística e maturidade alcançada em A Coragem da Luz (2016), para um território de pequenas incertezas e busca declarada por novas possibilidades. Poucos meses após o lançamento do primeiro álbum de estúdio, Rashid decidiu testar os próprios limites, mergulhando na produção de uma obra essencialmente livre, “em construção”, como o rapper paulistano acabou reforçando. Uma coleção de ideias soltas, fragmentos poéticos, batidas e diálogos com diferentes representantes do (novo) rap nacional. Peças que se agrupam de forma a revelar o mais recente trabalho de inéditas do artista: Crise (2018, Foco Na Missão). Obra de ideias, o trabalho de dez faixas — oito delas originalmente apresentadas como singles —, segue exatamente de onde Rashid parou há dois anos, durante o lançamento do elogiado “debute”. Composições que passeiam pela periferia de forma sempre esperançosa, costurando temas como religiosidade, conquistas pessoais, racismo, relacionamentos e conflitos típicos de quem busca por um lugar de destaque entre as brechas da claustrofóbica selva de concreto. Leia o texto completo.

 

Rubel
Casas (2018, Dorileo / Natura Musical)

Você já teve a vontade de morar dentro de um disco? Se cobrir de palavras em uma cama de melodias quentes, sentimentos trabalhados como alicerces e versos sussurrados que se entrelaçam em meio a móveis, cores e cômodos do mais rígido concreto? Propositado ou não, é exatamente isso que o cantor e compositor carioca Rubel Brisolla busca desenvolver no fino acolhimento de Casas (2018, Dorileo / Natura Musical), segundo álbum em carreira solo e um complemento direto ao material originalmente testado no artesanal Pearl (2013). Da voz embriagada, lenta e arrastada, o estímulo para um mundo de histórias tão particulares e nostálgicas, quanto íntimas de qualquer ouvinte. Um contínuo olhar para o passado, conceito evidente logo na inaugural Colégio (“Toca / O sinal barulhento da escola / Onde dois sinos dobram“), mas que a todo instante dialoga com o presente (“Ó meu pai, se tu existes / Manda a tua força, a gente aqui precisa“) e, ao mesmo tempo, aponta para o futuro, experiência reforçada em Passagem, composição que usa de trechos do curta-documentário de mesmo nome dirigido pelo próprio cantor em 2015 (“Se eu morresse amanhã, talvez eu morresse tranquilo“). Leia o texto completo.

 

Wado
Precariado (2018, Independente)

Ouvir Precariado (2018, Independente) é como se transportar para diferentes fases da carreira de Wado. Primeiro álbum recheado apenas com composições inéditas em dez anos e 10º trabalho de estúdio na carreira do músico alagoano/catarinense, o registro que busca inspiração na obra de Noam Chomsky — filósofo norte-americano que discute a precarização dos meios de produção e consumo nos países subdesenvolvidos —, amplia parte do universo originalmente explorado pelo cantor em Terceiro Mundo Festivo, de 2008. “O esgoto deixou a grama verdinha / Apesar de sua podridão / Do esforço que foi, a sopa cozinha / Do esforço que foi, pedra vira pão“, canta logo nos primeiros minutos do disco, em A Grama do Esgoto, um samba rock em parceria com Kassin em que discute os efeitos da urbanização e consumismo exagerado, indicando parte da poesia política que serve de estímulo para a construção do disco. Versos que servem de reforço ao mesmo conceito indagador que vem sendo explorado pelo artista desde a estreia com Manifesto da Arte Periférica (2001). Leia o texto completo.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.