Miojo Indie Mixtape “Brazil 80’s Edition”

/ Por: Cleber Facchi 07/04/2012

Depois da boa repercussão da nossa última mixtape – Brazil 70’s -, nada melhor do que seguir com nossa viagem pela música brasileira, agora avançando uma década e caindo diretamente nos anos 80. Se no último trabalho trouxemos um pouco de psicodelia, soul e samba, agora a proposta é outra, com artistas provando da New Wave, Pós-Punk e até reggae. Nada de Legião Urbana, Paralamas do Sucesso ou Barão Vermelho, a ideia, assim como na última mixtape, foi de valorizar alguns artistas mais “obscuros” ou explorar o Lado B de alguns grupos de renome. Na capa, a musa Rita Cadillac em contornos nada generosos.

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#01. Titãs – Diversão

Retirada do melhor momento do coletivo paulistano Titãs – que na época divulgava o clássico Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas -, Diversão apresenta toda a força do grupo, formado por oito componentes que se revezavam na construção das letras, músicas e vocais que motivavam os discos. Regravada posteriormente por um bom número de artistas, a canção une os vocais em coro, toques de pós-punk e até música eletrônica, enquanto a letra quase hedonista de Nando Reis e Sérgio Britto movimenta a totalidade da canção.

#02. Picassos Falsos – Quadrinhos

Enquanto a cena carioca parecia edificar a carreira de grupos como Barão Vermelho e Blitz, o quarteto Picassos Falsos parecia seguir por uma produção particular e distinta. Inspirados pelas guitarras aceleradas que compunham o trabalho de bandas como Gang Of Four, Humberto Effe (voz e violão), Gustavo Corsi (guitarra, violão e cavaquinho), Romanholli (baixo) e Abílio Azambuja (bateria) transformaram os trabalhos do grupo em um imenso agregado de referências, sempre frenéticas e dançantes. Retirada do primeiro álbum da banda, Quadrinhos é um bom exemplo do que se trata a obra do quarteto.

#03. Fellini – Teu Inglês

Assumidamente inspirados pelo trabalho de grupos ícones da cena inglesa da época – como The Smiths e Joy Division -, o quarteto paulistano Fellini conseguiu ao longo de quatro bem desenvolvidos projetos construir um dos mais interessantes projetos da década de 1980. Vindo do terceiro álbum do grupo – 3 Lugares Diferentes, 1987 -, Teu Inglês reforça tanto a aproximação da banda com a eletrônica pós-Joy Division do New Order, como a melancolia honesta dos Smiths, elementos que se encontram de maneira agradável em virtude da voz branda do vocalista Cadão Volpato.

#04. Fausto Fawcett – Kátia Flávia

Um dos melhores exemplos do que foi a explosão do movimento New Wave no Brasil está inteiramente dissolvido no clássico absoluto do músico carioca Fausto Fawcett, Kátia Flávia. Com um baixo inteiramente suingado, teclados coloridos e os vocais ora cantados, ora declamados, a faixa conta a história fictícia de uma “É uma louraça Belzebu” que “só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas”. Pegajosa ao extremo, a canção segue em mais de quatro minutos reverberando toda a influência de grupos como B-52 e Devo.

#05. As Mercenárias – Me Perco

Punk rock é um gênero voltado apenas aos homens? Bom, pelo menos para as paulistanas do grupo As Mercenárias essa não parece ser uma lógica muito aceita e imutável. Em pouco mais de um minuto Sandra Coutinho (baixo), Rosália (vocal) e Ana Machado (guitarra) conseguem provar que guitarras aceleradas, batidas cruas e vocais raivosos servem perfeitamente para o sexo feminino, tanto que Me Perco é até hoje um dos melhores tratados da produção punk daquele momento.

#06. Ira! – Núcleo Base

Retirado do primeiro grande álbum de estúdio da banda paulistana Ira!, Núcleo Base é de longe uma das maiores manifestações musicais do grupo bem como da própria cena brasileira. Conduzida pela guitarra assertiva de Edgar Scandurra e os vocais arranhados de Nasi, a canção mescla uma letra essencialmente melódica (fruto das aproximações da banda com o panorama Mod) com guitarras totalmente enérgicas, pendendo ora para o dance-punk do Gang Of Four, ora para o Power Pop da década de 1960.

#07. Blitz – Você Não Soube Me Amar

Dentre as diversas composições que fizeram da Blitz um dos maiores grupos da década de 1980, Você não soube Me Amar é a que melhor sintetiza todos os acertos da banda: uma letra fácil, os vocais pegajosos de Evandro Mesquita e a sonoridade melódica que passeava ao fundo da canção. A música faz parte do primeiro disco da banda – As Aventuras da Blitz, 1982 -, álbum que, em virtude da censura, saiu de fábrica com as duas últimas faixas riscadas.

#08. Marina Lima – Fullgás

Entre versões para músicas de Roberto e Erasmo Carlos, além da interpretação de músicas assinadas por Nelson Motta e Lulu Santos, um dos grandes destaques do quinto álbum de estúdio da carioca Marina Lima foi Fullgás, composição assinada e composta pela própria cantora. Dividida entre o pop rock e toques de New Wave, a canção ecoa fácil nos ouvidos do espectador, que de quebra encontra uma instrumentação leve e sedutora, perfeita como base para a voz suave da cantora.

#09. Lobão e os Ronaldos – Me Chama

Poucas são as composições do repertório nacional (não importa de qual época) capazes de rivalizar com o clássico Me Chama do carioca Lobão. Lançada na época em que ainda se apresentava ao lado dos Ronaldos, a faixa caiu rapidamente no gosto do público, resultado mais do que natural em vista da letra perfeita para qualquer fim de relacionamento. Até João Gilberto acabou interpretando a faixa posteriormente em uma de suas sempre comentadas apresentações ao vivo. Ouça e chore.

#10. Arrigo Barnabé – Orgasmo Total

Melhor exemplo do que foi a chamada Vanguarda Paulistana no começo da década de 1980, Clara Crocodilo é ainda hoje uma das obras mais complexas e experimentais da discografia nacional, resultado da mente insana do compositor paranaense Arrigo Barnabé. Segunda faixa do disco, Orgasmo Total é uma bela mostra do que está presente no interior da obra, já que o compositor mistura dentro dela toques de jazz, ópera, pop e diversos outros elementos, resultando em uma composição estranha e bela na mesma medida.

#11. Guilherme Arantes – Cheia de Charme

Por vezes esquecido ou classificado como um artista menor, Guilherme Arantes vem desde a década de 1970 se revezando na criação de uma série de grandes hits da música brasileira. Ao mergulhar nos anos 80 não poderia ser diferente, afinal, o músico carioca, tomado pelo mesmo brilhantismo de outrora fez nascer algumas das canções mais ricas e comerciais da nossa música, algo que a radiante Cheia de Charme (recentemente redescoberta pelo público) justifica com total propriedade.

#12. Gonzaguinha – Lindo Lago Do Amor

Se na última Mixtape Gonzaguinha marcou presença com a exuberante Sangrando, com a nova coletânea o artista chega tomado pelo suingue e leves doses de misticismo em Lindo Lago Do Amor. Cercado por teclados policromáticos, o músico carioca assume todas as rédeas daquela que é uma das mais ricas composições de sua carreira. Presente no disco Grávido de 1984, a canção foi posteriormente regravada pelo grupo carioca Do Amor, em uma versão tão interessante quanto a original.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.