Miojo Indie Mixtape “R&B” Edition

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2012

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Em mais de seis décadas desde sua criação, o termo Rhythm and blues já passou por tantas transformações que da proposta inicial pouco sobreviveu. Há quem diga que as mistura de batidas cadenciadas e vocais suaves incorporado a soul music ainda traduzam a principal marca do gênero, entretanto, basta uma rápida audição pelo trabalho de veteranos da cena para ver que até isso se transformou. Pensando nessa variedade de subgêneros dentro do R&B que apresentamos agora nossa nova Miojo Indie Mixtape. Entre experimentos, emanações lo-fi, aproximações como a eletrônica e a conversação com a música pop, selecionamos 13 faixas lançadas do começo do ano até agora (com exceção de The Weeknd), uma para cada possível variação dentro do estilo.

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#01. Jessie Ware – Wildest Moments

Para abrir a nova mixtape de maneira épica, nada mais coerente do que apresentar o trabalho da inglesa Jessie Ware. Responsável por uma das maiores estreias do ano – o ótimo Devotion -, a cantora faz do single Wildest Moments o maior exemplar de sua ainda curta, porém, proeminente carreira. Carregada por elementos da música pop e da eletrônica, a faixa segue em ritmo crescente, utilizando dos vocais de Ware como elemento guia durante toda a extensão da música. Quem reclamava sobre a ausência de alguém que ocupasse o espaço de Amy Winehouse, eis a melhor resposta.

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#02. Usher – Climax

Forte candidata a melhor música do ano, Climax representa bem o título que carrega. Erótica, envolvente e muito bem produzida, a parceria entre o cantor Usher e o produtor Diplo faz nascer aquele que é o maior exemplar de toda a trajetória do rapper norte-americano. Parte do disco Looking 4 Myself, a canção sintetiza todos os acertos da carreira de Usher, que se desprende do R&B pop do passado para incorporar um trabalho mais sério e consequentemente assertivo. Se você precisa de uma música para apimentar a relação, Climax é a faixa mais indicada.

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#03. Aaliyah – Enough Said (Ft. Drake)

A morte prematura da cantora Aaliyah em agosto de 2001 de forma alguma serviu para apagar a crescente trajetória da artista. Na parceria póstuma entre ela e o rapper Drake, vê-se claramente o quanto a cantora deixa marcas expressivas no que ecoa na voz de grandes divas da música pop de hoje. De Beyoncé a Rihanna, quem se aventura pelos campos da musica negra traz de alguma forma elementos do que definiram a rápida passagem de Aaliyah pelo mundo da música. Embora não seja o melhor exemplar da carreira da artista, Enough Said serve para despertar o interesse de quem ainda desconhece a música da cantora.

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#04. Bobby Womack – Please Forgive My Heart

A exemplo do que aconteceu com o falecido Gil Scott-Heron em 2010, Bobby Womack ganhou uma segunda chance para brilhar no atual panorama musical. Em The Bravest Man in the Universe o cantor e compositor não apenas marca o retorno com um disco de inéditas (depois de um hiato de 18 anos), como mostra que ainda tem muito o que mostrar para a nova geração de músicos. Em Please Forgive My Heart o norte-americano deixa fluir toda a beleza de seus versos e vocais, que mesmo lapidados pelo tempo, o alcool e as drogas, ainda flutua suavemente em nossos ouvidos.

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#05. AlunaGeorge – Your Drums, Your Love

Em Your Drums, Your Love a dupla britânica AlunaGeorge mostra porquê é uma das grandes revelações da música inglesa recente, promovendo um R&B sujinho e levemente dançante que soa como o encontro coeso entre Lana Del Rey e Beyoncé. Com uma sonoridade intimista e experimental na mesma medida, a canção serve como uma brilhante apresentação ao trabalho do jovem duo, artistas que caminha pelo irregular terreno da música pop sem pisar nos mesmos exageros ou redundâncias do gênero. Com poucos músicas no repertório, o casal prepara o primeiro disco para 2013.

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#06. Frank Ocean – Bad Religion

Talvez responsável pelo melhor discos de 2012 – Channel, ORANGE -, Frank Ocean faz de Bad Religion a mais bela composição de sua ainda curta carreira. Extremamente dolorosa, a canção passeia pela solidão, desajustes amorosos e toda uma variedade de percepções e melancolias que crescem a cada nova audição. Honesta, a faixa é uma mínima mostra do que o rapper constroi ao longo do primeiro disco, facilmente um dos discos mais importantes dessa década – não apenas para o Hip-Hop/R&B.”To be in love with someone/ Who could never love you”.

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.#07. Cassie – King Of Hearts

Imagine uma Rihanna menos bobinha, pois assim é a nova-iorquina Cassie Ventura. Cantora responsável por uma das músicas mais pegajosas do ano, a artista faz de King Of Hearts um elo entre o R&B e as pistas de dança, proclamando uma composição que parece feita para colar nos ouvidos logo em uma primeira audição. Depois de um disco mais pop lançado em 2006, a cantora prepara para o começo de setembro o segundo registro, álbum que deve manter no assertivo hit a mesma soma de elementos dançantes e intimistas.

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#08. Passion Pit – Constant Conversations

Provavelmente o grande acerto de Gossamer – segundo e mais novo álbum da banda norte-americana Passion Pit – está no empenho do grupo em incorporar uma série de elementos típicos da música negra em suas diferentes formas. Seja em olhar para a explosão pop de Michael Jackson no começo da década de 1980 ou em resgatar referências distintas do que fora proclamado ao longo dos anos 70, cada etapa do álbum cresce visivelmente por conta dessa soma de acertos. Em Constant Conversations temos o exemplo mais marcante disso, com Michael Angelakos se entregando a um R&B choroso, apaixonado e incrivelmente encantador.

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#09. Evy Jane – Sayso

O que torna atrativo Sayso, primeiro exemplar da dupla canadense Evy Jane provavelmente diz respeito ao trabalho da dupla em incorporar referências que vão além dos limites tradicionais do R&B. Entre ruídos climáticos e experimentais, o casal prepara o terreno para que os vocais da cantora Evelyn Mason cresçam de maneira satisfatória, empurrando o espectador para um cenário de melancolias sufocantes e estranhamente capazes de prender o ouvinte.

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#10. How To Dress Well – Ocean Floor For Everything

Se existe algo que Tom Krell (How To Dress Well) sabe fazer é nos emocionar. Depois de lançar o maravilhoso Love Remains em 2010 e a sequência com o EP Just Once no ano passado, o músico norte-americano parte para a construção do segundo registro oficial, Total Loss. Enquanto o registro não chega, já é possível estabelecer algumas boas expectativas, principalmente por conta da sonoridade mezzo angelical, mezzo R&B de Ocean Floor For Everything, mais novo e delicado lançamento do músico.

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#11. The Weeknd – The Fall

Embora tenha sido lançado ao final de 2011, os efeitos de Echoes Of Silence só bateram de fato no começo do ano seguinte. Último exemplar da trilogia proposta pelo canadense Abel Tesfaye (The Weeknd), o álbum é também o que mais evidencia os prováveis novos rumos do produtor, artista que parece interessado em subtrair o tom climático dado ao disco de estreia, House of Balloons, para incorporar uma sonoridade maior e ainda mais intensa. Exemplo maior dessa transformação está em The Fall, composição que brinca com o épico e o diminuto de forma inteligente e bem explorada.

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#12. Mister Lies – Cleam

Existe algo de místico nas composições do produtor norte-americano Mister Lies. Sempre sublimes, as canções incorporam uma tonalidade atrativa, convertendo ruídos convencionais em um mecanismo para a movimentação das faixas. Em Cleam temos o melhor exemplar da ainda parca obra do artista, que entre batidas cadenciadas e vocais consumidos pelos efeitos faz nascer um dos projetos mais interessantes do ano. Provavelmente o resultado mais óbvio do encontro entre o The XX e as criações obscuras do produtor Clams Casino.

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#13. The XX – Missing

Retirada do segundo e mais novo álbum da banda britânica The XX, Missing mostra toda a transformação do agora trio em relação ao trabalho passado. Também dentro da proposta minimalista do aclamado XX (2009), agora os ingleses se permitem relacionar com uma sonoridade mais eletrônica, proposta que costura de forma primorosa os mais de três minutos da composição, faixa que deixa a veia R&B da banda pulsar forte. Ainda que a música valorize os vocais melancólicos de Romy Madley-Croft e Oliver Sim, o destaque fica por conta da instrumentação de Jamie Smith, elemento que garante 90% de todo o acerto do novo disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.