Disco: “Não Há Lugar Melhor No Mundo…”, Projota

/ Por: Cleber Facchi 17/09/2011

Projota
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://www.myspace.com/mcprojota

Por: Pedro Ferreira

Não há dúvidas: 2010 foi o ano da reafirmação do Hip Hop nacional. Carente de ídolos, a cena periférica ganhou novo gás, novo público e uma consequente e empolgante aclamação, tanto dos fãs quanto da crítica. Um dos arquitetos dessa sólida edificação do moderno Hip Hop brasileiro atende pelo nome de José Tiago Sabino Pereira, ou Projota. Com seu potente Projeção, brindou aquele ano com uma das melhores produções do gênero.

Depois do trabalho árduo, veio o reconhecimento: Projota alçou voos altos, conquistou crítica especializada e mercado, e foi artífice pleno da nova popularização do Rap. Agregou, portanto, grande valor ao seu trabalho. Sendo assim, desceu a ladeira, pra ver o que tinha por lá, e agora voltou, porque, segundo ele, Não Há Lugar Melhor No Mundo Que o Nosso Lugar. E o seu lugar, sem dúvida, é na periferia.

E, ao que parece, Projota voltou soturno e obstinado: as rimas e versos dessa mixtape estão muito mais poderosas e críticas. Recheada de composições do agrupado 3Fs – que significa Foco, Força e Fé – é notável o tino desses rappers para a percepção da situação à sua volta, consubstanciando-se na tradução disso em rimas fortes e marcantes. Em Rap do Ônibus, por exemplo, é retratada de maneira fiel – e ferrenha – a batalha que é enfrentar a precariedade do sistema de transporte urbano diariamente para ganhar uns trocados (ou um dim, como eles gostam de dizer).

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O clima do disco é, realmente, mais pesado e mais ressento em relação a seus trabalhos anteriores. Nem só de revolta se faz o disco, entretanto. Em Azz Veizz, relata-se uma divertida corrida pela conquista do coração da musa inspiradora, e em Pode se Envolver temos um verdadeiro ode à parceiragem, alicerce básico na vida de qualquer um.

Mas é de volta à consternação, no entanto, que encontramos a mais brilhante peça do disco: Resident Evil revela um problema crônico no Brasil que, infelizmente está longe de ser solucionado – o consumo de drogas pesadas, que acaba com vidas e destrói estruturas familiares. O paralelo do dependente químico, em sua errante saga pelas ruas em busca de qualquer trocado para satisfazer aquilo que lhe corrói por dentro, e um zumbi do consagrado video game é simplesmente brilhante. Impossível não se solidarizar ao ouvir a faixa.

De nada valeria o talento e o irretocável flow se a produção não fosse condizente com o nível apresentado: Sendo assim, a mixagem e gravação de quase todas as faixas é assinada, mais uma vez, pelo DJ Caíque, cujo nome não é tão veiculado quanto o de Rashid, Emicida e Projota, mas que guarda enorme importância ao que vemos na cena Rap hodiernamente. Seu toque experiente dá um tom de autoridade ao presente trabalho, o que nos leva a concluir que o lugar de Projota, é junto aos seus, de fato, mas é, também, no rol de grandes rappers brasileiros.

Não Há Lugar Melhor No Mundo Que o Nosso Lugar (2011, Independente)

Nota: 8.0
Pra quem gosta de: Rashid, Emicida e Kamau
Ouça: 64 Linhas, Resident Evil e Em Volta da Fogueira

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.