O doce sabor de Pitanga

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2012

Por: Cleber Facchi

O lançamento de Pitanga no último ano estabeleceu uma centena de revoluções individuais e compartilhadas na vida da jovem Mallu Magalhães. Longe dos exageros pueris que a acompanhavam em começo de carreira, a paulistana encontrou no apoio (e no amor) de Marcelo Camelo o sustento para boa parte do repertório, sonoridades e melhorias que se formaram no interior do novo disco. Espécie de declaração de amor que se completava com os versos do também apaixonado Toque Dela, o disco deixava pelo ar um toque de dúvida, afinal, teria Mallu e o doce fruto cultivado por ela força o suficiente para brilhar e crescer ainda mais ao vivo?

E se havia alguma dúvida, a apresentação na noite de sábado (23 de junho) no SESC Osasco tratou de deixar isso para traz. Madura, Magalhães revelou a figura de uma cantora adulta, que não apenas coordena como parece ter plena noção de cada mínima particularidade de seu repertório ao vivo. Cada vez mais distante do caráter folk e das influências dylanianas, a cantora se deixa aproximar de uma sonoridade verdadeiramente brasileira, costurando com versos bilíngues composições sempre honestas e marcadas pela melancolia. Ora lembrando alguma cantora esquecida da década de 1960 (Sambinha Bom), ora surgindo como um ícone da cena independente (Olha Só, Moreno), Mallu e os parceiros de palco parecem ter encontrado a medida exata para a boa condução e maior valorização do que fora conquistado em estúdio com o último disco.

Entretanto, se existe um problema que ainda se apodera do repertório da jovem artista este se relaciona diretamente com a ordem errada com que as faixas vão se evidenciando com o passar do show. Ao invés de explorar uma apresentação crescente, indo de músicas mais doces e menores para criações mais extensas e envolventes, a cantora e os músicos dão formas a um conjunto de altos e baixos durante toda a performance. Logo, a grandiosidade de Por Que Você Faz Assim Comigo? (melhor momento de todo o show) parece deslocada no meio e não no fechamento do repertório, que ainda se divide entre momentos deveras esquizofrênicos (Cais) e outros mais comerciais (Velha E Louca).

Mesmo os pequenos erros aos poucos parecem irrelevantes quando observados próximos dos constantes gracejos, diálogos e doses de bom humor expressos por Mallu. Entre uma faixa e outra, há sempre a possibilidade da paulistana conversar com o público, agradecer de forma jovial aos presentes ou mesmo soltar um riso gostoso que até parece parte da apresentação. O que por vezes parece erro ou desajuste dentro do espetáculo, logo se converte em um resultado da mais pura timidez de quem ainda está descobrindo como artista, afinal, longe das primeiras apresentações, ainda enclausurada pela aura folk, Magalhães usa de cada espaço da apresentação como um mecanismo de descoberta.

Esse forte sentimento de descobrir a própria música é o que leva a artista de 19 anos a transformar cada composição – mesmo aquelas visivelmente deslocadas – em um momento único do show. Assim, mesmo as faixas mais tímidas de todo o repertório como a matinal Ô, Ana ou a sutil Baby, I’m Sure parecem crescer e se transformar no decorrer do espetáculo, que acerta pela variedade de sons movidos tanto pela percussão serena como as guitarras pontuais que em nenhum momento interferem nos vocais alinhados de Mallu. Sobra até para a paulistana brincar de forma bem humorada com o clássico Xote dos Milagres da banda Falamansa, canção que se transforma de forma deliciosa na voz e na instrumentação comandada pela artista.

Com essa vontade constante de crescer e experimentar, Mallu Magalhães deixa pistas do que podemos encontrar em seus futuros trabalhos, algo que ela justifica com uma sonoridade sempre vasta, vozes que se reconfiguram a todo instante e uma vontade natural de crescer e evoluir. Quem talvez ainda vê a cantora com aquele jeito meio moleque e meio exagerado de 2007, talvez devesse rever seus conceitos. Mallu não cresceu apenas em estúdio, mas evoluiu brilhantemente em cima dos palcos.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.