Por: Cleber Facchi

“The White Stripes gostaria de anunciar que hoje, dois de fevereiro de 2011, a banda terminou oficialmente e não fará mais gravações ou apresentações ao vivo”…

As palavras acima foram extraídas do comunicado exposto na página oficial do The White Stripes e tratam claramente sobre o fim da banda. Desde que foi anunciada a separação da dupla, duas frentes bem claras de fãs, críticos e músicos tem debatido internet afora sobre a validade de tal decisão. De um lado os que admiram a atitude do casal White em abandonar o projeto antes que os mesmos se aventurem pelo lançamento de discos que façam desmerecer sua longa carreira. Estes atribuem a Jack uma atitude honrada e que deveria ser obrigatoriamente copiada por outros artistas (a lista vai de Interpol, passando por MGMT até chegar aos Strokes). Do outro estão os que repreendem a atitude da dupla, que mesmo imersa há tempos em um hiato, nunca decepcionou em seus trabalhos e indubitavelmente ainda tinha muito que oferecer.

O fato é que bandas terminam e anunciam seu retorno quase que diariamente. Estão aí Pavement, Stone Templo Pilots, Blur, Alice In Chains, The Smashing Pumpkins (que estranhamente são todas dos anos 90) e mais uma lista interminável de artistas que fizeram o mundo desaguar em lágrimas após seu término e pouco tempo depois marcaram o retorno e lucraram muito com isso. Talvez o que assuste sobre o fato do impossível retorno do TWS, seja o cada vez mais intenso envolvimento de Jack White com seus inúmeros projetos paralelos.

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Se quando estreou em 1997 ao lado de Mag, Jack não passava de um garoto que tinha apenas sua banda como único motivo de preocupação e excepcional mecanismo de escape criativo, dez anos depois essas preocupações e mecanismos de trabalho haviam dobrado ou mesmo triplicado. O jovem Jack não era mais apenas rapaz com vinte e poucos anos brincando com uma banda de garagem, pelo contrário, White era (e é) uma das figuras mais importantes do rock dos anos 2000, o The White Stripes por sua vez é apenas uma parcela disso, um pedaço tão importante quanto é a participação dele no The Raconteurs, no Dead Weathers ou em suas diversas incursões pelos trabalhos de outros artistas.

Jack e Meg chegaram antes de todo o rebuliço que viria no início do século XXI, como uma espécie de prelúdio do que estava para chegar. Desde muito jovem fissurado por artistas obscuros do blues e pela música punk, White uniu como poucos esses dois elementos no homônimo trabalho de estréia do The White Stripes em 1999. Antes dos Strokes impressionarem com Is This It (2001), do Arcade Fire emocionar com Funeral (2004), do Animal Collective revolucionar com seu experimentalismo, ou antes de qualquer coisa que viesse a ser chamado de “o novo rock”, eles estavam lá impressionando, emocionando e revolucionando, tudo com uma crueza e vivacidade incomparável.

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A mente dos parceiros borbulhava tão intensamente, que em três anos seguidos a dupla presenteou o público com uma tríade de excelentes discos: The White Stripes (1999), De Stijl (2000) e White Blood Cells (2001). Três trabalhos tão primorosos, que mesmo as críticas sobre a precariedade de Mag como baterista, em nenhum momento soavam de maneira enfadonha ou repetitiva. Através de sua guitarra agressiva, Jack vai dando vida a composições tão essenciais para os anos 2000, quanto as que foram criadas pelos pioneiros do rock em seus específicos períodos. Faixas como Hello Operator, Hotel Yorba, Fell In Love With A Girl e The Big Three Killed My Baby não são apenas clássicos do rock contemporâneo, mas sim fragmentos importantes da música de uma maneira anacrônica.

A consagração e o reconhecimento do grande público em 2003, após o lançamento do disco Elephant vieram de maneira mais do que merecida. Não apenas Seven Nation Army com o alcance épico que obteve – se transformando inclusive em tema de torcidas organizadas de futebol, além de inumeráveis remixes gerados ao redor do globo – mas cada uma das 14 faixas desse quarto disco da carreira da banda vem carregadas por uma unidade raramente encontrada nos discos de rock. Faixas como I Just Don’t Know What To Do Whit Myself, Ball And Biscuit e There’s No Home For You Here chegam de maneira fácil aos ouvidos. Não foram raras as vezes que canções como essas roubaram espaço em rádios comerciais ou mesmo em canais de TV.

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A dupla até inovou em suas criações quando deixou de lado a tradicional guitarra e bateria em prol da inclusão de novos instrumentos, feito que culminou no lançamento de Get Behind Me Satan (2005), quinto álbum da carreira do White Stripes. Pianos, marimbas, tamborins, sinos e um número grandioso de elementos percussivos e instrumentos tão estranhos quanto o resultado final obtido pelo disco. Brilham faixas como Little Ghosts e My Doorbell, com seu som nunca antes imaginável na carreira do duo. Para os que não queriam saber de mudanças a dupla ainda manda as ótimas Instinct Blues e Blue Orchid, com nada além de boas doses de guitarras e bateria.

A partir desse momento, Jack White já com seus 30 anos gradativamente deixava de se prender exclusivamente ao White Stripes. O reconhecimento de seu trabalho com a banda foi o suficiente para que fosse aos poucos fazendo pequenas participações nos trabalhos de outros artistas, entre eles Beck e Mark Ronson. A aproximação com Brendan Benson e outros membros do The Greenhornes culminou no surgimento do primeiro projeto paralelo de Jack, o The Raconteurs. Broken Boy Soldiers (2006), primeiro álbum desse novo trabalho de White mostra claramente o quão entusiasmado o músico se portava, tanto em estúdio, quanto ao vivo, como se pela primeira vez ele não estivesse preso e pudesse de fato mostrar a que veio.

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O efeito dessa sonoridade mais composta viria com Icky Thump (2007), embora não houvesse desconfiança, este seria o sexto último lançamento de estúdio de Jack e Meg White. Logo na faixa título ficava visível, que mesmo se apoiando quase que inteiramente na instrumentação “clássica” da banda, o som já não vinha da mesma maneira crua de outrora. E isso se intensifica nas faixas seguintes. Vale ressaltar também que pela primeira vez Meg demonstra saber tocar bateria (ou seria Jack durante as gravações?). Conquest, Bone Broke, Rag & Bone e Little Cream Soda seriam hits certos naquele ano, até St. Andrew (This Battle Is In The Air), uma espécie de oração bizarra seria agradável. Icky Thump soa como a dupla nos primeiros discos, embora as composições viessem muito mais adornadas, feito mais do que natural e que demonstrava o crescimento da dupla.

Quatro anos mais tarde e Jack já teria formado junto de outros músicos o Dead Weathers, já gravaria o segundo disco com o The Raconteurs, participaria da trilha sonora de um filme da franquia 007, expandiria os negócios com sua gravadora Third Man Records e se aventuraria pela produção de discos de outros artistas. O White Stripes por sua vez ficaria cada vez mais recluso. Todos torciam para que em algum momento sobrasse um tempinho para que Jack se encontrasse com Meg e juntos pudessem gravar um novo disco. O tempo passou e o resultado todos sabem. É muito provável que em um futuro não muito distante a banda ainda venha a se apresentar ao vivo ou lance algum disco de sobras, porém não esperem nada surpreendente ou uma novidade inédita do The White Stripes. Embora a lacuna deixada pela dupla seja de um tamanho incalculável, a contribuição de Jack e Meg White, na música e principalmente no rock é ainda imensurável.

“O The White Stripes não pretence mais a Meg e Jack. O The White Stripes pertence a você, que agora pode fazer com ele o que você quiser. A beleza da arte e das músicas só pode durar para sempre se as pessoas quiserem isso. Obrigado por compartilhar esta experiência. Sua participação nunca será esquecida por nós e estamos muito gratos“.

Atenciosamente,
Meg e Jack White
The White Stripes

Discografia:

The White Stripes (1999)

De Stijl (2000)

White Blood Cells (2001)

Elephant (2003)

Get Behind Me Satan (2005)

Icky Thump (2007)