Os 100 Melhores Discos Nacionais dos anos 2000 [60-51]

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2014

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Tom Zé

#60. Tom Zé
Imprensa Cantada (2003, Trama)

Poucas vezes o insano Tom Zé pareceu tão sóbrio quanto no lançamento de Imprensa Cantada. Dando sequência à boa fase reforçada em Jogos de Armar (Faça Você Mesmo), de 2000, o registro é uma representação do músico sob a forma como os meios de comunicação – jornais, revistas e TV – tratam dos principais acontecimentos diários. Guerra, amor, política e até mesmo o caos da cidade de São Paulo são transformados em música no interior do trabalho. Tudo passa pelo filtro minucioso do compositor, que mesmo dentro desse cercado tão específico, em nenhum momento esquece do grande público. O resultado está na produção de faixas tão isoladas, quanto acessíveis, caso da cômica Companheiro Bush, ou da pop Desenrock-se. Entre jogos atentos de palavras (Língua Brasileira), e o resgate autêntico de velhas conhecidas (São São Paulo), o baiano cria um álbum que usa da própria maluquice como um ponto de equilíbrio para a insanidade da vida real.

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Orquestra Imperial

#59. Orquestra Imperial
Carnaval Só Ano Que Vem (2007, Som Livre)

A proposta lançada pelo time de músicos da Orquestra Imperial sempre foi tratada de maneira instável. Ao revisitar os grandes clássicos do samba de gafieira, marchinhas de carnaval e a estética dos bailes de gala das décadas de 1960 e 1970, a Big Band carioca não apenas transportou o ouvinte ao passado, como definiu uma composição de visível propriedade. Puxado pela trinca de vocalistas composta por Nina Becker, Thalma de Freitas e Rodrigo Amarante, o álbum dança por entre referências sem perder a própria autonomia e, claro, o suingue. Com nomes como Kassin, Rubinho Jacobina, Berna Ceppas e Pedro Sá entre os principais integrantes do projeto, o disco vai da abertura, com Me Deixa em Paz, ao encerramento, em Popcorn, dentro de um sentido pleno de liberdade, provando de diferentes essências como um exercício de forte aproximação com o público. Longe da seriedade exagerada de obras do gênero, Carnaval Só Ano Que Vem firma no bom humor de Ereção, Ela Rebola e demais músicas do disco o ponto de acerto do trabalho e o princípio para manter as atenções do ouvinte sempre em alta.

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Marcelo D2

#58. Marcelo D2
A Procura da Batida Perfeita (2003, Sony)

Marcelo D2 havia entregue diversas pistas em Eu Tiro é Onda (1998), mas foi com o lançamento de A Procura Da Batida Perfeita que o rapper soube de fato como brincar com os sons e rimas de forma a abraçar o grande público. Sustentado em um encontro bem resolvido entre o Hip-Hop e o samba, o disco foge de todos os limites que haviam guiado a carreira do carioca dentro do Planet Hemp, apresentando ao ouvinte todo um novo catálogo de novidades. Comercialmente aberto ao público, o disco trouxe em músicas como Qual É, Loadeando e A Maldição do Samba a faceta mais acessível, porém, não menos óbvia do rap nacional, exercício que o rapper sustenta em totalidade na produção do disco. Musicalmente dinâmico, o trabalho coleciona no catálogo de samples um princípio para que as rimas de D2 cresçam convincentes, marca expressa na estrutura de C.B Sangue Bom e principalmente na rima coesa de Vai Vendo. Você pode até torcer o nariz, mas garanto que conhece boa parte das rimas instaladas neste disco.

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Moreno+2

#57. Moreno+2
Máquina de Escrever Música (2000, ROCKiT)

Primeiro ato da série de três registros que definiriam a trajetória do projeto +2, Máquina de Escrever Música traz o cantor e compositor Moreno Veloso como o grande “líder” da obra. Acompanhado de perto por Domenico Lancellotti e Alexandre Kassin, o filho de Caetano Veloso segue firme na construção de uma atmosfera tímida, como uma interpretação (quase) particular da Bossa Nova. Sustentado pela composição branda das faixas, o trabalho vai da inaugural Sertão, até a derradeira I’m Wishing em uma orientação de forte aproximação estética. São acordes quase silenciosos, sempre desenvolvidos em proximidade ao uso de uma percussão serena – nada próxima daquilo que Lancellotti traria com Sincerely Hot (2003). Com passagens rápidas pela eletrônica, soul e funk, o disco abre espaço para que Deusa Do Amor, Esfinge e distintas faixas do álbum fujam de uma tonalidade possivelmente redundante. Exercício que garante ao álbum um princípio de distanciamento quando próximo de outros trabalhos de mesmo gênero.

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Mopho

#56. Mopho
Mopho (2000, Baratos Afins)

Desde o fim das atividades d’Os Mutantes, ainda na década de 1970, poucos grupos brasileiros trataram da música psicodélica com a mesma leveza que a alagoana Mopho. Em estúdio desde meados de 1999, e lançado pelo selo Baratos Afins, a estreia do grupo de Maceió é uma verdadeira passagem pela essência da música lisérgica – seja ela produzida em território estrangeiro ou nacional. Com letras de fácil absorção, guitarras flutuantes e um cuidado expressivo dentro das condições de captação do álbum, cada música do disco se transforma em um achado. Ora pontuado pela melancolia (Não Mande Flores), ora tratado dentro de uma proposta essencialmente experimental (Vamos Curtir Um Barato), o disco se abre como um mosaico de cores e sons. Sem a necessidade de resgatar um período específico, o disco vai da fase mais inventiva dos Beatles aos lamentos introspectivos de Arnaldo Baptista em instante, tratamento que em nenhum momento rompe com uma composição sonora própria da banda. Uma verdadeira viagem – em todos os sentidos.

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Instituto

#55. Instituto
Coleção Nacional (2002, YB)

Ainda que oculte aspectos específicos da produção musical da época, Coleção Nacional talvez seja a melhor síntese do Rap brasileiro nos anos 2000. Espécie de projeto coletivo orquestrado pelo músico/produtor Rica Amabis, a “estreia” do Instituto atravessa as periferias de São Paulo, corta os morros cariocas, até alcançar as rimas e sons da música pernambucana. Imenso catálogo de grupos, artistas ou mesmo personagens “avulsos” da cena nacional, o registro de 14 faixas vai do samba ao dub sem necessariamente romper com a essência do Hip-Hop. Enquanto o cobiçado Sabotage reforça a própria atuação em Cabeça de Nêgo e Dama Tereza, BNegão espalha as rimas em meio aos versos eletrônicos proclamados por Otto, fazendo de O Dia Seguinte um dos pontos fortes do disco. Correm ainda artistas como Bonsucesso Samba Clube, Fred Zero Quatro e Rappin Hood, fazendo do cruzamento entre a dança e a firmeza das rimas um ponto de explícita estabilidade dentro do enquadramento versátil do disco.

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Autoramas

#54. Autoramas
Nada Pode Parar os Autoramas (2003, Monstro Discos)

O pop funciona de maneira excêntrica e brilhante nas mãos do Autoramas. Com um pé no Garage Rock dos anos 1970 e outro no rock independente dos anos 1990, a banda carioca encabeçada por Gabriel Thomaz fez do terceiro álbum sua obra mais comercial e ainda assim autêntica. Carregando nos efeitos, as linhas de baixo de Simone do Vale servem de base para as guitarras naturalmente sujas de Thomaz, tudo isso enquanto a bateria enérgica de Bacalhau se esparrama desgovernada por toda a formação da obra. Esbanjando hits até o último segundo, o disco vai da faixa de abertura, Você Sabe (com o clipe premiado no VMB de 2005) aos versos de Megalomania, O Bom Veneno e Caso Perdido em uma medida furtiva, pegajosa e em nenhum instante óbvia. Entretanto, é na sujeira melódica de Música de Amor e nas distorções de Resta Um que o álbum cresce. Resultado do interesse assumido da banda pela Surf Music e obras clássicas da Jovem Guarda, as faixas serviriam como alicerce para os trabalhos futuros do grupo.

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Siba

#53. Siba e a Fuloresta
Toda Vez Que eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar (2007, Ambulante)

Com os limites pré-definidos desde o lançamento de Fuloresta do Samba, em 2002, Siba encontrou um terreno fértil para desenvolver o segundo trabalho ao lado do coletivo de músicos da Zona da Mata pernambucana. Brincando com as referências regionais em uma composição muito mais abrangente, Toda Vez Que eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar se divide entre a euforia plena dos arranjos e o manuseio dinâmico das palavras entoadas pelo cantor. Em uma composição muito mais “local” do que o resultado exposto com a extinta Mestre Ambrósio, antiga banda de Siba, o álbum discute desde temas sociais, até versos cotidianos e futebol – exercício retratado com acerto na melódica Meu Time. Além do grupo fechado dos músicos da Fuloresta, um time seleto de colaboradores passeiam pelo cenário colorido da obra. São nomes como Céu, Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Lúcio Maia (Nação Zumbi), vozes e músicos que mais parecem personagens dentro do universo próprio orquestrado por Siba.

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ruido/mm

#52. ruído/mm
A Praia (2008, Independente)

Em um cenário de crescente aprimoramento para o Pós-Rock nacional, A Praia deu um passo adiante das redundâncias que pareciam aos poucos ocupar o gênero. Marcado pela construção volumosa das guitarras, a estreia do ruído/mm é uma obra que busca contar histórias, isso sem necessariamente usar de qualquer manifestação vocal. Concebido como um ato único, o disco se concentra no crescimento de tramas que rompem com um resultado atmosférico – típico de obras do gênero -, arrastando o ouvinte para dentro de um turbilhão de de referências anárquicas e ainda assim concisas – todas particulares. Mogwai, Sigur Rós ou Godspeed You! Black Emperor, qualquer base prévia que sirva de escada para o grupo aos poucos cai pelo chão enquanto a banda reforça a própria identidade. Seja na construção de faixas extensas, como Praieira, ou na manipulação de músicas mais curtas, caso de novíssima, cada canção do álbum atravessa décadas, brinca com diferentes essências e soluciona um palco de experimentos tão provocativos, quanto acolhedores. Uma obra guiada do princípio ao fim pelas sensações, boa parte delas, ainda ocultas ou parcialmente descobertas.

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Superguidis

#51. Superguidis
A Amarga Sinfonia do Superstar (2007, Senhor F)

Maturidade. Tão logo foi lançado, A Amarga Sinfonia do Superstar recebeu críticas vindas de diferentes veículos por excluir a atmosfera jovial proposta na estreia do Superguidis. Um erro. Princípio de recomeço dentro do universo temático da banda, o álbum cresce como um projeto de imersão, condensando guitarras, vozes e versos em um mesmo sentido estético. Se por um lado a arquitetura “adulta” do grupo gaúcho extingue o bom humor de faixas como O Banana e Malevolosidade, por outro lado a sobriedade trouxe ao ouvinte evidente reforço musical – principalmente no manuseio dos arranjos distorcidos de cada música. Do momento em que tem início, com a intensa Por Entre As Mãos, cada faixa que define a composição final da obra arrasta o ouvinte para um cenário caótico, mas ainda assim, deliciosamente aprazível. Mesmo a essência de bandas como Sonic Youth e Nirvana, inspirações do grupo gaúcho, se revela transformada dentro da estratégia ascendente da obra. Ao final, músicas como Cheiro De Óleo, Seis anos e Ainda Sem Nome serviram para posicionar com destaque o quarteto entre os gigantes do novo rock nacional.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.