Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2012

/ Por: Cleber Facchi 19/12/2012

OS 50 MELHORES DISCOS INTERNACIONAIS DE 2012 - Pt. 3

 [30-21]

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Hot Chip

#30. Hot Chip
In Our Heads (Domino)

O Hot Chip continua em nossas cabeças. Autores de algumas das faixas mais pegajosas e incrivelmente dançantes da música eletrônica atual, o grupo inglês fez de In Our Heads uma transformação em relação aos discos anteriores. Menos pop e ainda assim íntimo do público, o trabalho possibilita que o quinteto amplie os limites alcançados no disco anterior, One Life Stand (2010), transportando de maneira adulta a sonoridade da banda para um novo e naturalmente inédito território. Por vezes próximos da House Music – resultado detalhado nas extensas Let Me Be Him e Flutes -, o grupo se conscientiza em transformar cada composição de maneira a não repetir os acertos do passado, substituindo o que seria comandado por versos fáceis (sempre acompanhados de um refrão descomunal) por um resultado homogêneo, como se cada fração das músicas fossem pensadas na mesma proporção. Um tipo de música que funciona de maneira adequada nas pistas, mas que parece ir um pouco além.

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Lotus Plaza

#29. Lotus Plaza
Spooky Action at a Distance (Kranky)

A tintura sombria alcançada pelo Deerhunter no álbum Halcyon Digest (2010) parece ter respingado no segundo álbum do Lotus Plaza. Completamente distante da jovialidade tola impressa no disco antecessor, The Floodlight Collective (2009), o novo registro em estúdio do projeto paralelo de Lockett Pundt traz de volta tudo que o músico alcançou dentro de sua outra banda há dois anos, porém em um estado de plena e intensa transformação. Herdeiro direto dos ruídos melódicos de My Bloody Valentine e The Jesus and Mary Chain, Pundt parece capturar tudo que é encontrado em Loveless, acrescentando ritmo aos delírios sujos e sempre etéreos de Kevin Shields. Entre guitarras que soam como serras elétricas esbarrando em rochas (White Galactic One) e faixas delineadas pela melodia suave das palavras (Monoliths), tudo ecoa em perfeito estado de completude em Spooky Action at a Distance, como se o músico ainda preparasse terreno para um trabalho maior, ao mesmo tempo em que amarra todas as pontas soltas e finaliza um grande disco.

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The Shins

#28. The Shins
Port Of Morrow (Sub Pop)

James Mercer parecia encerrar uma etapa passado o lançamento de Wincing the Night Away (2007). Talvez ele tenha passado por isso mesmo. Depois de um longo hiato de mais de cinco anos, substituições na formação original da banda e finalmente temos em mãos Port Of Morrow, trabalho que eleva a beleza de Chutes Too Narrow (2003) a um novo estágio. Tão melódico quanto os registros que o precedem, o quarto álbum da banda de Albuquerque, Novo México traz como detalhe um elemento quase inédito: a melancolia. Ainda que a instrumentação mezzo delicada, mezzo grandiosa alcancem um resultado por vezes festivo no decorrer da obra, nos versos o cantor deixa fluir uma tristeza singular. O contraste entre o doce da instrumentação e o amargo das palavras resulta em uma obra de definições únicas, isolada em relação aos demais trabalhos da banda. Cravejado de composições da mais pura beleza e a acessibilidade musical – indo da explosão de Simple Song ao amargor de For A Fool -, Port Of Morrow é um disco de grandeza presente e um clássico provável em um futuro próximo.

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TNGHT

#27. TNGHT
TNGHT EP (Warp)

Apenas cinco faixas são suficientes para que Hudson Mohawke e Lunce antecipem o que deve definir o hip-hop instrumental e o dubstep nos próximos anos. Quente, o trabalho de estreia da dupla TNGHT amarra tudo que há de mais explosivo dentro da música eletrônica britânica e norte-americana, formalizando um álbum que mesmo rápido e curto, parece muito maior do que qualquer outro registro similar lançado previamente. Sintetizadores acelerados, sirenes, batidas estonteantes, palmas, vocais expansivos e até uma dose extra de funk carioca (!) podem ser encontrado pelo disco. Se Top Floor e Goooo brincam de maneira consciente com um resultado climático, Higher Ground vai além, batendo forte nos ouvidos do espectador em uma medida que une Baauer e Flying Lotus dentro da mesma proposta instrumental. Sempre acelerado, o registro praticamente fez dos produtores nomes de peso do atual panorama, visto a série de convites para produzir o trabalho de outros artistas vindos das mais diversas frentes instrumentais.

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Total Loss

#26. How To Dress Well
Total Loss (Acephale)

O amor e a completa ausência dele fluem como estímulos para as invenções emocionais de Tom Krell. Cada vez mais distante do clima lo-fi do álbum de estreia do How To Dress Well – Love Remains (2010) -, o músico nova-iorquino parte em busca de um som maior e naturalmente mais sentimental do que havia proposto inicialmente. Vez ou outra percorrendo os ensaios orquestrais testados no EP Just Once (2011), Krell deixa crescer um álbum de pura emoção e delicadeza, reflexo que empurra o R&B apaixonado do artista para um terreno de novidade e constantes transformações – resultado raro se observarmos o que existe de mais comercial no gênero. Procura por alguém capaz de lidar apenas com os versos e a voz? & It Was U. Busca por um verdadeiro épico emocional? Cold Nites. Preza pela experimentação? Ocean Floor For Everything. Cada faixa trabalhada no decorrer do disco parece pensada de forma individual, atuando em um resultado que mesmo específico, encaminha o álbum para um resultado amplo e de plena completude.

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Passion Pit

#25. Passion Pit
Gossamer (Columbia)

Michael Angelakos nos ensinou a amar a música pop em 2012. Quem duvidava da habilidade do músico norte-americano em acertar a mesma medida instrumental e dançante do álbum Manners (2009) acabou surpreso quando Gossamer veio a público. Intenso, rico em detalhes e recheado pelo que há de mais divertido na música pop (recente e antiga), o segundo álbum do Passion Pit é um verdadeiro presente aos ouvidos. Tão grudento quanto chiclete de Tutti-Frutti, o álbum explode em cores e sons que rompem com todos os clichês do gênero de maneira cativante. Enquanto Take a Walk abre o álbum em meio a uma chuva de sintetizadores e vocais carregados de efeitos, as faixas seguintes aprimoram tudo que a banda já vinha desenvolvendo há alguns anos. Dentro dessa necessidade de aperfeiçoar o que há de melhor a sonoridade da banda temos o surgimento de pequenos focos de novidade, como o R&B em Constant Conversations e a melancolia exagerada em Cry Like A Ghost, prova de que o Passion Pit está apenas começando. Visivelmente um disco que representa tudo aquilo que o Foster The People sempre quis ser, mas nunca será.

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Bat For Lashes

#24. Bat For Lashes
The Haunted Man (Parlophone)

Poucas coisas no mundo da música são tão satisfatórias quanto acompanhar um artista em pleno processo de crescimento. Depois de firmar as bases instrumentais e poéticas com o lançamento de Two Suns em 2009, Natasha Khan faz do presente The Haunted Man não apenas uma sequência assertiva do último álbum, mas um tratado ainda maior. Aproveitando as melodias eletrônicas, expandindo a relação com Kate Bush e apostando ainda mais no uso de histórias de personagens – reais ou fictícios -, Khan deixa claro que não está aqui apenas uma artista passageira, de fato veio para ficar e mais uma vez experimentar. Como resultado, a artista alcança um trabalho que brinca com o épico a todo o instante, tanto na instrumentação (agora almofadada por samples diversificados), como nos vocais, ainda mais intensos e límpidos. Sensível e lamurioso, o registro conserva boa parte do que a artista já havia alcançado previamente, elevando cada referência particular de forma a valorizar todas as marcas de outrora. Melhor do que isso é perceber que o Bat For Lashes prossegue inclassificável, dentro de uma medida própria e ainda mais atrativa.

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Flying Lotus

#23. Flying Lotus
Until the Quiet Comes (Warp)

“Estudioso de todos os campos, artistas e pessoas comuns sempre foram fascinados pelo poder dos sonhos. Ainda que seja um fenômeno universal, existem inúmeras teorias sobre eles, mas poucas respostas concretas. Pode ser que Steven Ellison não seja somente um artista onírico ou surrealista, mas fica claro que a sua imaginação transcende em muito o estado lógico e comum. É bem fácil de sentir-se dentro de um sonho ao ouvirmos a música de Flying Lotus. Em um sonho agradável, é claro. O produtor de Los Angeles constrói em Until the Quiet Comes ambientes repletos de sensações em notas musicais flutuantes e leves, com texturas suaves e espaciais. Elementos sonoros dispersos, mas que não passam a sensação de desarrumação ou caos. São mais como partículas que flutuam sutilmente em cada faixa, ignorando a gravidade. O disco é acima de tudo uma grande e gostosa viajem. Cada detalhe é único e essencial, até mesmo nos momentos mais experimentais.” – Gabriel Picanço

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Dirty Projectors

#22. Dirty Projectors
Swing Lo Magellan (Domino)

Quem talvez pudesse questionar a qualidade instrumental e lírica que banha os trabalhos do Dirty Projectors teve de se calar quando Swing Lo Magellan foi apresentado. Embora seja uma continuação clara do que a banda havia testado três anos antes com Bitte Orca, cada textura, voz e som que preenche o novo disco arrasta o coletivo nova-iorquino para uma proposta distinta. Mais comercial que o trabalho que o precede, ao alcançar o sexto álbum ”oficial”, o grupo não somente derrama uma sucessão de sons peculiares, como promove um trabalho que parece íntimo do grande público, resultado incontestável em faixas como Dance For You, The Socialites e principalmente no hit Gun Has No Trigger. Mesmo sem os vocais coesos de Angel Deradoorian, o álbum segue dentro do mesmo limite assertivo entre as vozes de Longstreth e Amber Coffman, resultando em um projeto muito mais atrativo em se tratando da execução dos vocais. Além do disco, um EP – About To Die – e um curta-metragem – Hi Custodian – foram preparados para a divulgação do registro.

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Perfume Genius

#21. Perfume Genius
Put Your Back N 2 It (Matador)

As confissões e a proposta particular de Mike Hadreas em Put Your Back N 2 It têm início logo no suspiro penoso da faixa de abertura do disco. Íntimo de cada dor, lamento e profunda melancolia do músico norte-americano, o segundo álbum do Perfume Genius expande tudo aquilo que já era visível no antecessor, Learning (2010), como se o cantor e compositor estivesse se preparando para o resultado amargo que encontramos em cada uma das músicas do atual projeto. Surgindo como uma versão simplista, porém não menos emocional do que Antony Hegarty, Hadreas usa de um término de relacionamento recente para encontrar a matéria-prima que conduz o tom soturno firmado no decorrer do disco. Com uma instrumentação conduzida em cima de pianos arrastados e acordes minimalistas de violão, o músico estabelece o ambiente exato para que os versos de Hood, 17 ou Take Me Home possam ser trabalhados com sobriedade, arrastando o ouvinte para um palco escuro de atuações sofridas e sempre honestas, como se Hadreas transferisse os próprios medos e saudades confessas para o espectador. Provavelmente a melhor representação “masculina” do que Fiona Apple alcançou em seu último álbum.

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[40-31] [20-11]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.