Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2012

/ Por: Cleber Facchi 20/12/2012

Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2012

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Ariel Pink

#20. Ariel Pink’s Haunted Graffiti
Mature Themes (4AD)

Mature Themes parece ter viajado no tempo. É como se Ariel Rosenberg tivesse encontrado uma velha fita VHS gravada por um antepassado distante, ou quem sabe por ele próprio, depois de um rápido passeio temporal pela década de 1980. Longe de parecer como uma continuação do melódico Before Today – praticamente uma ruptura em relação aos anteriores lançamentos do Ariel Pink’s Haunted Graffiti -, o músico e os parceiros de banda rumam para um novo e nostálgico terreno. Apostando agora em samples de filmes antigos, sintetizadores que parecem ter saído do começo dos anos 1970, além de toda uma soma de ruídos psicodélicos, o grupo proporciona a criação de um álbum homogêneo, ainda próximo do que fora testado há dois anos, porém capaz de se relacionar de maneira satisfatória com o que existe de mais caseiro (e até bizarro) nos primeiros inventos do músico. Do romantismo irônico de Only In My Dreams à regravação de Baby (da dupla Donnie and Joe Emerson), cada instante em Mature Themes reverbera a capacidade da banda em nutrir o espectador com nuances que de tão estranhas, ecoam como tradicionais e acessíveis músicas pop.

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Devotion

#19. Jessie Ware
Devotion (Universal Island/PMR)

Ao final de 2011, Lana Del Rey e Azealia Banks pareciam travar um batalha em relação a quem apresentaria a melhor estreia no ano seguinte. Ninguém previu o surgimento de Jessie Ware. Longe do território das norte-americanas, a cantora e compositora britânica conseguiu transformar o grandioso Devotion em uma das estreias mais imponentes do ano, não apenas pelo uso surpreendente dos vocais – uma versão épica de Sade e Beyoncé -, mas pela sonoridade volumosa que a acompanha em cada música. Íntima de grande parte do que foi conquistado no decorrer da década de 1990 dentro do R&B e soul music, Ware usa da trama eletrônica que a cerca para garantir complemento ao primeiro álbum da carreira. Sequência de composições comerciais, o disco entrega em cada nova faixa uma possibilidade radiofônica que parece longe de ser encontrada em outros artistas do gênero. Encabeçado pelo hit Wildest Moments, o trabalho cresce, passa por instantes mais leves (Sweet Talk), cai na melancolia (Swan Song) até encerrar de forma a transformar Ware em uma das maiores vozes da atual geração.

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Allelujah! Don't Bend! Ascend!

#18. Godspeed You! Black Emperor
Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (Constellation)

O silêncio de uma década do coletivo canadense Godspeed You! Black Emperor serviu como um preparativo necessário para o que foi entregue ao público em 2012. Quarto álbum da trajetória de acertos épicos do grupo de Montreal, Allelujah! Don’t Bend! Ascend! está longe da serenidade instrumental que a banda fez questão de expandir no passado, sendo facilmente a obra mais distinta e intensa de toda a discografia do coletivo. Dividido em quatro imensos atos, faixa após faixa os canadenses possibilitam que guitarras orquestrais deságuem em um rio de experimentos que intencionalmente atingem proporções épicas. Mesmo distantes das palavras, cada mínimo ruído ou batida que surge pela obra encontra um significado muito maior do que qualquer verso imaginário que a banda pudesse promover. Capaz de soterrar tudo aquilo que Mogwai, Explosions In The Sky e tantos outros “revolucionários” do pós-rock alcançaram nos últimos anos, ADBA posiciona o grupo no topo dos gigantes do gênero, se transformando em uma obra que expande sua compreensão em cada novo recomeço.

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Miguel

#17. Miguel
Kaleidoscope Dream (Bystorm/RCA)

Em um ano em que o R&B teve sua posição reafirmada no mercado musical, errou feio quem acreditou que apenas projetos experimentais e capazes de flertar com outros estilos chamariam as atenções do público. Segundo registro em estúdio do artista californiano Miguel, Kaleidoscope Dream é uma fina interpretação do que existe de mais “comum” dentro do gênero. Longe da grandiosidade de Frank Ocean, e sem cair na melancolia sublime de How To Dress Well, o cantor encontra uma medida própria, passeando vez ou outra por Beyoncé do álbum 4, Michael Jackson nos instantes mais românticos e até Usher nos pontos eróticos do trabalho. Tirando o máximo proveito dos vocais, Miguel acaba – talvez sem querer – alcançando uma medida que vai além do convencional, resultado que flui de maneira coerente desde a faixa de abertura Adorn, até os últimos momentos do disco. Confessional ao extremo, o disco transforma a intimidade do cantor em um exercício de clara aproximação para o ouvinte, fazendo com que todas as letras se movimentem dentro de um limite de particularidade e compartilhamento na mesma medida.

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Baroness

#16.Baroness
Yellow & Green (Relapse)

Quando iniciou a tetralogia das cores em 2007 – com o lançamento de Red Album -, o Baroness se destacava por romper com os limites tradicionais do Metal que ecoava naquele instante. Soando como uma versão medieval e não menos agressiva do Metallica dos primeiros discos, o grupo de Savannah, Georgia se uniu ao Mastodon na consolidação do novo cenário norte-americano, resultado que o grupo finaliza como lançamento do descomunal (e duplo) Yellow & Green. Mais completa e complexa obra apresentada pelo grupo até agora, o disco tende à experimentação de maneira controlada, costurando elementos do Metal com o Pós-Rock, o Fleet Foxes do álbum Helplessness Blues e até passeios breves pela instrumentação apurada do Radiohead na fase OK Computer. Sempre épico e encaminhado de forma a promover composições colossais, o álbum mantem na primeira metade um conjunto de faixas que se aproximam de forma clara dos trabalhos anteriores, trazendo em March To The Sea sua melhor representante. Já a segunda parte do disco incorpora a proposta recente da banda, o lado experimental que surge como um Mogwai pré-histórico e gutural. Dois eixos que dividem a trajetória da banda, finalizam um exercício iniciado há meia década e preparam o terreno para o que há de vir.

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Actress

#15. Actress
R.I.P. (4AD)

De todos os registros que reviveram a música eletrônica da década de 1990 no decorrer de 2012, nenhum se manifestou de forma tão original e bela quanto R.I.P. do britânico Actress. Longe de parecer uma continuação do que Richard David James (Aphex Twin) ou a dupla Boards Of Canada promoveram em seus próprios trabalhos, o inglês Darren Cunningham encontrou um ponto de transformação e perceptível originalidade. Utilizando da sobreposição constante dos ruídos, batidas e samples minimalistas de forma a produzir uma das obras mais delicadas que a música eletrônica apresentou nos últimos anos, o produtor captura o ouvinte em um cerco constante de experimentações sintéticas e quase sempre voltadas ao etéreo. Ainda que uma rápida audição pelo disco revele um trabalho de acabamentos rústicos e formas irregulares difíceis de serem digeridas, afinal, quanto mais tempo passamos no decorrer do disco, mais ele revela seus detalhes. Seja pelas referências religiosas – Holy Water, Serpent, Jardin – ou tramas mitológicas – Shadow From Tartarus -, Cunningham abre as portas de um universo que parece existir apenas em sua mente, utilizando de “meras” batidas, ruídos e bips para contar histórias imensas e tramas sempre complexas.

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Swans

#14. Swans
The Seer (Young Gold)

Existe algo de curioso nos mais de 10 anos em que Michael Gira passou longe da própria banda, o Swans. Embora o silêncio parecesse o aposento óbvio ao afastamento assumido pelo cantor e compositor ao final da década de 1990, as obscuras composições fluíram em perfeita sintonia no decorrer dos últimos anos, tanto que ao regressar em 2010 com o álbum My Father Will Guide Me up a Rope to the Sky, o músico parecia continuar de onde parou, em plena forma. Era como se Gira estivesse motivado a superar as expectativas em torno da volta por ele anunciada, lançando um trabalho tão intenso e inventivo quanto em princípios dos anos 80, quando tingiu o pós-punk com experimentos soturnos e hipnóticos. Dois anos após o aclamado regresso – que serviu para apresentar o trabalho do “desconhecido” músico a toda uma nova geração de ouvintes -, Gira retorna com um novo e ainda mais estrondoso lançamento: The Seer Décimo segundo álbum na trajetória do californiano, o projeto parece sintetizar de forma grandiosa tudo que o músico e os sempre mutáveis parceiros de banda vêm desenvolvendo ao longo desses anos todos. Ora próximo do hermetismo proposto pelo Joy Division, ora entregue aos experimentos colossais que abrangem a obra do Sonic Youth, e em alguns instantes até similar ao que promove o Arcade Fire, o norte-americano lança um trabalho que acerta em todos os aspectos.

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Schoolboy Q

#13. Schoolboy Q
Habits & Contradictions (TDE)

Se o hip-hop voltou às origens em 2012, Schoolboy Q foi o grande responsável por aproximar o gênero da música pop. Parceiro de Kendrick Lamar, o californiano fez de Habits & Contradictions uma continuação melhorada de tudo que havia testado um ano antes, com o disco Setbacks. Capaz de se apropriar de samples pouco conhecidos, transformando-os em algo novo e praticamente inédito ao público, o rapper fez nascer algumas das músicas mais importantes do estilo durante ano, entre elas Hands On The Wheel (com trechos de Pursuit of Happiness de Kid Cudi na versão da cantora Lissie) e Nightmare On Figg St., que brinca com samples de Niggas In Paris da parceria entre Kanye West e Jay Z. Flutuando entre o caráter profissional de um disco de estúdio, e a proposta caseira de uma mixtape, o álbum traz de volta toda a energia alcançada pelo Outkast em discos como Aquemini (1998) e Stankonia (2000), resultando em um cardápio tão vasto de composições que praticamente transformam o álbum a cada nova audição. Kendrick Lamar pode até ter alcançado o melhor disco de rap do ano, mas foi Schoolboy Q quem apresentou o mais divertido.

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Cloud Nothings

#12. Cloud Nothings
Attack On Memory (Carpark)

Ainda que a maturidade esteja relacionada ao trabalho de uma variedade de artistas que lançaram segundos ou terceiros discos em 2012, ninguém cresceu tanto em tão pouco tempo quanto Dylan Baldi. Outrora dono de um som minúsculo e invariavelmente ligado ao pop punk da década de 1990, o jovem compositor surpreendeu a todos quando abandonou a proteção do álbum passado para entregar uma das obras mais intensas e sujas do rock alternativo recente: Attack on Memory. Cru, perfumado pelo peso amargo das guitarras e trabalhado em cima de letras com conteúdo adulto marcante, Baldi (agora com pelos no rosto) lixa cada espaço do disco sem que qualquer ranhura se torne aparente. Dos pianos soturnos que lavam a inaugural No Future/No Past aos instantes velozes que reaproximam o músico do trabalho passado (como em Stay Useless), nenhum artista conseguiu igualar a mesma ferocidade em 2012 – nem mesmo Japandroids. Épico em Wasted Days, efêmero em Fall In, cada faixa no decorrer do disco faz de Baldi o maior de sua geração. Como gosto de definir: o melhor disco do Nirvana que Kurt Cobain nunca lançou.

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Andy Stott

#11. Andy Stott
Luxury Problems (Modern Love)

Andy Stott praticamente reinventou o Dub à sua maneira. Trançando referências com o Minimal Techno e se aproveitando de densas sobreposições sonoras – que vão de vozes repetidas a batidas metálicas -, o produtor e funcionário de uma montadora de automóveis em Manchester, Inglaterra fez do universo ao seu redor uma extensão instrumental para o primeiro grande álbum de sua carreira. Menos rústico que os antecessores Passed Me By e We Stay Together (trabalhos lançados no decorrer de 2011), o álbum de oito volumosas composições mergulha o ouvinte em um cenário acinzentado, uma representação instrumental do mesmo ambiente que define o cotidiano redundante do produtor. Sutil (Numb) e ruidoso (Sleepless) na mesma intensidade, Stott reproduz em cada composição uma multiplicidade de fórmulas esquizofrênicas em looping, garantindo uma construção musical que lentamente parece sufocar o espectador – ao mesmo tempo em que embarca o público em um plano etéreo que beira o onírico. Embora defina musicalmente o que parece ser um cenário pós-apocalíptico, Luxury Problems é um reflexo exato do presente. 

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[30-21] [10-01]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.