Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2014 [20-11]

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2014

[20-11]

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#20. Ariel Pink
pom pom (2014, 4AD)

Desde que abraçou um som mais acessível em Before Today (2010), Ariel Pink tem controlado a própria esquizofrenia musical. Diálogos com a década de 1980, diferentes tentativas em adaptar o Soft Rock ao cenário recente – como a versão para Baby de Donnie and Joe Emerson em Mature Themes (2012) – e toda uma variedade de temas psicodélicos extraídos de diversas obras clássicas. Depois de uma década de isolamento e incontáveis gravações caseiras, Pink finalmente encontrou a própria definição para a “música pop”. Curioso perceber em pom pom uma parcial ruptura desse conceito. Primeiro trabalho em “fase solo”, longe dos parceiros do Haunted Graffiti, o californiano interpreta o extenso “debut” como um misto de regresso e desconstrução dos primeiros anos de produção. Ainda que continue a brincar com as principais referências conquistadas nos últimos discos – vide o romantismo aprimorado em Put Your Number In My Phone -, basta se concentrar no som fragmentado que rege o trabalho para perceber o leve descontrole do artista. [+]

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#19. Iceage
Plowing Into the Field of Love (Matador)

Por mais referencial que seja o trabalho do Iceage, encarar o som incorporado por Elias Bender Rønnenfelt e demais parceiros de banda como uma “homenagem” aos anos 1980 seria um erro. Ainda que em New Brigade (2011) e You’re Nothing (2013) a banda flerte com o mesmo Pós-Punk de Public Joy Division, Image Ltd. e o rock sujo de Sonic Youth, a composição autoral dos versos, arranjos e até apresentações ao vivo caóticas trouxeram ao coletivo dinamarquês um frescor atual, por vezes particular. Todavia, com a chegada de Plowing Into the Field of Love, difícil não observar o trabalho do grupo como uma interpretação quase caricatural do som desenvolvido há três décadas. The Fall, Mekons, X, Meat Puppets e The Pogues. Cada curva do terceiro álbum de estúdio da banda de Copenhague é como um recorte específico de diferentes cenas ou gêneros em ascendência ao longo da década de 1980. Minutos em que Rønnenfelt incorpora o mesmo espírito anárquico do veterano Mark E. Smith (How Many), guitarras invadem a atmosfera temática de Rum Sodomy & the Lash (Forever) e o lirismo romântico das faixas parecem ressuscitar o mesmo drama de Nick Cave. Uma obra ainda presente, porém totalmente inclinada ao passado. [+]

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#18. Alvvays
Alvvays (2014, Polyvinyl / Transgressive)

A julgar pela forte relação musical de Grimes, Purity Ring e toda a nova geração de artistas canadenses, não seria estranho se a presente safra de projetos locais fosse guiada pelo mesmo caráter experimental / etéreo do “coletivo”. Entretanto, ao esbarrar na estreia do Alvvays – lê-se always -, curioso observar como as referências do grupo de Toronto não apenas se revelam contrárias ao atual panorama local, como ainda assumem elementos há muito esquecidos no rock norte-americano. De evidente imposição nostálgica, o autointitulado debut se esquiva de fórmulas complexas para encantar pela suavidade. Diminuto – são apenas nove canções -, o disco abre de forma enérgica com as guitarras de Adult Diversion, assume os próprios sentimentos em One Who Loves You e Archie, Marry Me e só estaciona (de forma sutil) na derradeira Red Planet. Pouco mais de 30 minutos em que sonhos e desilusões de jovens adultos são delicadamente partilhados com o público. Confortado em uma atmosfera caseira, explícita logo na voz rústica, ainda que doce, de Molly Rankin, o álbum é uma romântica travessia pelo tempo. Com referências (sentimentais) que vão dos Beach Boys ao Indie Pop britânico da década 1980, cada instante do registro se entrega lírica e musicalmente ao amor. [+]

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#17. Owen Pallett
In Conflict (2014, Domino)

O trabalho de Owen Pallett sempre foi guiado pelas confissões. Desde que apareceu para o mundo com o onírico Final Fantasy – e seus dois discos, Has a Good Home (2005) e He Poos Clouds (2006) -, a obra do músico canadense borbulha com naturalidade as particularidades do próprio criador, preferência por vezes oculta em alegorias fantasiosas e arranjos mágicos que flutuam cuidadosamente por entre as faixas. Contudo, desde a chegada de Heartland (2010), primeiro álbum “solo”, Pallett parece inclinado a perverter essa ordem, transformando o sofrimento confessional de cada composição na passagem para um universo realista, mas não menos atrativo Ao ouvinte. Com In Conflict, segundo álbum dentro dessa “nova fase”, o músico não apenas se revela por inteiro, como usa das experiências confessionais de forma a converter realidade em ficção. Personagem central da própria trama, Pallett se acomoda em canções pessimistas (I Am Not Afraid), mergulha no turbilhão da própria mente (Infernal Fantasy) e ainda derrama emanações amorosas (The Passions) sem parecer sufocado pela redundância. Trata-se apenas de um personagem corriqueiro, um indivíduo cercado por conflitos simples e adversidades diárias – talvez, por isso, seja tão incrível embarcar na aventura particular do cantor. [+]

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#16. Sun Kill Moon
Benji (2014, Caldo Verde)

Em mais de 20 anos de carreira e composições espalhadas entre diferentes projetos autorais, Benji talvez seja o primeiro registro que trouxe real visibilidade ao trabalho de Mark Kozelek. Longe do isolamento ornamentado desde os primeiros anos com o Red House Painters, o músico de Ohio encontra no sexto álbum à frente do Sun Kill Moon uma obra tão confessional quanto íntima do ouvinte. Acomodado em uma base de arranjos acústicos, sempre cíclicos e econômicos, Kozelek se concentra de fato na projeção de uma extensa malha lírica, quase descritiva como a inaugural Carissa e a extensa I Watched The Film The Song Remains The Same reforçam. Nas letras, a constante interferência de personagens reais, como na homenagem ao amigo Benjamin Gibbard (Death Cab For Cutie) em Ben’s My Friend; diálogos melancólicos com a morte, além de cenas típicas do cotidiano do próprio músico – centrado em histórias curtas de pessoas comuns ou familiares. Da capa aos versos, um registro marcado pela simplicidade, resposta para o imediato apego e natural sentimento de grandeza que invade a mente do ouvinte. [+]

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#15. Aphex Twin
SYRO (2014, Warp)

Poucas interpretações sobre o lançamento de SYRO (2014, Warp), sexto álbum do Aphex Twin, são tão contraditórias quanto encarar o novo disco como o simples “fim de um hiato” de Richard David James. Observado de forma atenta, poucos artistas estiveram tão presentes nos últimos 13 anos – período em que se manteve “recluso” – quanto o produtor escocês. Das melodias letárgicas da Chillwave, aos beats assíncronos de Four Tet, Burial e outros gigantes da cena britânica, cada registro lançado na última década trouxe um pouco da essência do veterano; interpretação que faz de Drukqs (2001) apenas a abertura da maior obra do produtor. Movido pelos conceitos da Deep Web – espaço (virtual) encontrado pelo produtor para anunciar as primeiras informações sobre o trabalho -, SYRO é uma obra de nítida comunicação com o presente. Se por um lado a construção sintética dos arranjos imediatamente transporta o ouvinte para a década de 1990, por outro lado, a estrutura hiperativa de cada música extermina qualquer traço de aproximação com os primeiros lançamentos do produtor. Recheado por vozes robóticas (de James e dos próprios filhos), ruídos ambientais, além, claro, da constante mudança de direção, o presente álbum de Aphex Twin se espalha como um imenso labirinto, propositadamente feito para que o ouvinte possa se perder dentro dele. [+]

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#14. Mac Demarco
Salad Days (2014, Captured Tracks)

Mac DeMarco é um homem comum. Gosta de falar sobre amor, canta sobre o prazer de fumar um cigarro e usa da mediocridade do cotidiano como uma ferramenta para as próprias composições. Naturalmente descompromissado, mas ainda assim capaz de ressaltar aspectos curiosos de um dia aprazível, o cantor e compositor canadense mais uma vez abre as portas do universo particular que o envolve para apresentar Salad Days. Um álbum que fala/canta inteiramente sobre ele, mas que esbarra na casualidade de qualquer espectador. Passo seguro em relação ao que 2, registro de “estreia” do músico, trouxe em 2012, o presente álbum vai além de brincar com temas aleatórios e pequenas confissões, trata-se de uma obra em que a maturidade do músico impera evidência. Se há dois anos o canadense abria o disco falando sobre a vida em um efeito de crônica leve, em Cooking Up Something Good – “Quando a vida se move lentamente/ Apenas deixe-a ir” -, com a inaugural faixa-título, DeMarco soa existencialista – “Rolando pela vida, para rolar e morrer” -, mas sem parecer um poeta sombrio. Mais uma vez o músico discorre sobre o amor (Let My Baby Stay), conselhos reciclados (Brother) e personagens (Jonny’s Odyssey), premissa que ocupa o álbum até o último instante. [+]

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#13. St. Vincent 
St. Vincent (2014, 4AD)

Existe uma distancia imensa entre Merry Me – estreia de Annie Erin Clark como St. Vincent – e o homônimo quarto disco da cantora. Enquanto o trabalho de 2007 carrega uma atmosfera de plena timidez e aparente descoberta, com o presente registro a imponência da artista se transforma em uma arma para a acertar o grande público. Outrora “inofensiva”, a Clark rompe com qualquer traço de limitação sonora e estética, ultrapassando a película retratada na capa de Strange Mercy (2011), para assumir um posto de liderança no atual “império” do rock alternativo. Como uma diva imponente, observando desinteressada a própria massa de seguidores, a artista estampa a capa do disco em uma autêntica representação da mesma grandeza que orienta os sons ao longo do trabalho. Em um evidente sentido de continuidade ao que foi lançado há três anos, cada música do álbum arrasta o espectador para um território em que ruídos e ritmo frenético. É como se todo o segundo ato de Northern Lights, faixa mais intensa do disco anterior, fosse repetido exaustivamente, revelando uma comunhão de arranjos tortos que nascem na inaugural Rattlesnake e seguem até o fechamento do álbum com a melancólica Severed Crossed Fingers. [+]

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#12. PC Music
Singles / Mixtapes / Remixes (2014, PC Music)

Vozes polidas, plásticas e robóticas; imagens coloridas, digitalmente manipuladas; referências coletadas em diferentes campos da música eletrônica e a completa desconstrução da música pop. Mesmo que o selo PC Music não tenha apresentado nenhum registro “completo” nos últimos meses, o abastecido catálogo de singles, remixes e mixtapes arquivadas no soundcloud do coletivo merecem total atenção do público. Aos comandos do produtor A. G. Cook, nomes como Hannah Diamond, GFOTY, Kane West, Princess Bambi e Danny L Harle sustentaram uma dos acervos mais criativos da música recente, transformando diferentes fragmentos da cultura pop no principal componente para faixas tão pegajosas quanto perturbadoras. Consumismo, internet, R&B, moda, eurodance, Kawaii, dinheiro, IDM e sexo; elementos aplicados de forma distorcida em peças delicadas, como Attachment e In My Dreams, ou mesmo ritos de puro experimento, caso da colaborativo PC Music x DISown Radio Mix. Com um material versátil, capaz de respingar no trabalho de FKA Twigs, How To Dress Well e SOPHIE, o coletivo lentamente amplia o próprio território, produzindo um (colorido) cercado musical que se estende para além da própria cena britânica.

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#11. Cloud Nothings
Here and Nowhere Else (2014, Carpark)

Dylan Baldi é um artista movido pela urgência e nostalgia. Desde a estreia com o Cloud Nothings, em 2011, cada riff disparado pelo jovem músico parecia servir de passagem para o (rico) cenário dos anos 1990, vasculhando e adaptando uma série de conceitos assinados por gigantes como Nirvana e Fugazi, além de grande parte dos projetos orientados por Steve Albini na década de 1980. Com a maturidade alcançada em Attack on Memory (2012), segundo álbum do grupo, Baldi e os parceiros TJ Duke (baixo) e Jayson Gerycz (bateria) decidiram estender o passeio inspirado pela boa fase do rock alternativo, transformando o terceiro álbum de estúdio, Here and Nowhere Else, em uma obra tão presente quanto referencial. Em meio a flertes com o Pós-Hardcore, o power trio esbarra de forma propositada no trabalho de veteranos como Drive Like Jehu, Braid e Sunny Day Real Estate, carregando nas guitarras e versos joviais um continuo traço de identidade. Com Now Here In, intensa faixa de abertura, o ouvinte é logo familiarizado ao ritmo que movimenta a obra, urgente em faixas como Psychic Trauma e Just See Fear, e até renovado, vide o tempero psicodélico que cresce na extensa Pattern Walks, um dos melhores/maiores delírios já assinados por Baldi. [+]

[30-21] [10-01]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.