Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2018 [50-41]

/ Por: Cleber Facchi 24/12/2018

De Father John Misty a Kanye West, de Teyana Taylor à Tanukichan, é hora de relembrar alguns dos principais trabalhos lançados nos últimos meses. São registros independentes ou mesmo obras apresentadas por grandes gravadoras que sintetizam parte da produção internacional em diferentes gêneros – pop, indie rock, hip-hop, R&B, jazz, experimental e eletrônica. Nos comentários, conte pra gente: qual é o seu disco favorito de 2018?


#50. Vários Artistas
Black Panther (2018, Top Dawg / Aftermath / Interscope)

Primeiro filme do universo Marvel protagonizado por um afrodescendente, Pantera Negra nasce como uma obra de inegável apelo revolucionário para a indústria do cinema. Do elenco composto essencialmente por atores negros, passando pela direção de Ryan Coogler e referências diretas à cultura africana, cada elemento da película parece pensado para exaltar o povo preto, esmero que se estende de forma explícita à trilha sonora do projeto, trabalho que conta com a produção e curadoria criativa dividida entre o rapper Kendrick Lamar e Anthony Tiffith, responsável pelo selo Top Dawg Entertainment. Pontuado por elementos e citações diretas ao filme, a trilha sonora de Pantera Negra parece ir além do universo de Wakanda, onde se passa grande parte da ação da película. Trata-se de uma obra capaz de dialogar com diferentes núcleos do Hip-Hop/R&B espalhados pelos quatro cantos do planeta. De Londres à costa africana, de Los Angeles à Nova York, uma obra que se abre para a chegada dos mais variados representantes que marcam a recente fase da música negra. Leia o texto completo.

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#49. Tomberlin
At Weddings (2018, Saddle Creek)

Existe uma leveza rara no som produzido por Sarah Beth Tomberlin. Imersa em uma nuvem de sons enevoados, a cantora e compositora norte-americana encontra no primeiro trabalho da carreira, At Weddings (2018, Saddle Creek), a passagem para um universo acolhedor e mágico. Canções guiadas em essência pela força dos sentimentos e emoções profundas, cuidado que se reflete em cada fragmento de voz ou arranjo sutilmente detalhado pela artista no decorrer da obra. Como indicado na inaugural Any Other Way, parte expressiva do álbum se apoia em relacionamentos fracassados, medos e conflitos intimistas da própria cantora. “Estou cansada de fugir / Mas eu virei esta cidade de cabeça para baixo / E eu nunca encontrei outro como você / Deus desligou todas as luzes“, canta de forma contemplativa enquanto violões e melodias etéreas se espalham sem pressa, resultando na formação de um ato essencialmente detalhista. Leia o texto completo.

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#48. Spiritualized
And Nothing Hurt (2018, Bella Union / Fat Possum)

Eu gostaria de sentar e sonhar com você um milagre perfeito / Eu pegaria o vento e mandaria todos os meus beijos para você / Pegaria os pássaros e lhes ensinaria todas os versos de músicas de amor que conheço / E eu os faria voar e cantar para você“. O romantismo embriagado de A Perfect Miracle, faixa de abertura de And Nothing Hurt (2018, Bella Union / Fat Possum), oitavo álbum de estúdio na carreira do Spiritualized, diz muito sobre os sentimentos que guiam o personagem de Jason Pierce, o cosmonauta J. Spaceman, durante toda a execução da obra. Primeiro álbum de inéditas do músico britânico em seis anos, o sucessor do enérgico Sweet Heart Sweet Light (2012) mostra Pierce em uma clara zona de conforto, resgatando e emulando de maneira inteligente melodias originalmente testadas no clássico Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space (1997). Frações poéticas e instrumentais que convidam o ouvinte a se perder em um território mágico, onde cada elemento do disco remonta cenas e acontecimentos guiados pelo mais profundo comprometimento romântico do eu lírico, cuidado que se reflete até o último verso do disco, em Sail On Through. Leia o texto completo.

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#47. Young Fathers
Cocoa Sugar (2018, Ninja Tune)

Vozes submersas, ruídos tribais, arranjos que se entregam ao uso de diferentes ritmos, batidas assíncronas, rimas e pequenas interferências instrumentais que conduzem público (e banda) para dentro dos mais variados campos da música pop. Como indicado no lançamento do primeiro álbum de estúdio, Dead (2014), e, naturalmente, reforçado durante a concepção do curioso White Men Are Black Men Too (2015), ouvir o trabalho do trio escocês Young Fathers é como se perder em um território marcado pela completa incerteza. Produto do esforço coletivo entre os músicos Alloysious Massaquoi, de origem líbia, Kayus Bankole, de ascendência nigeriana e o escocês Graham “G” Hastings, o projeto montado ainda na última década encontra no recém-lançado Cocoa Sugar (2018, Ninja Tune), o provável ponto de maturação de todas essas preferências estéticas. Ideias condensas em uma estrutura propositadamente irregular, torta, como um diálogo com a obra de TV On The Radio, Shabazz Palaces e demais representantes do R&B/Hip-Hop “alternativo”. Leia o texto completo.

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#46. Teyana Taylor
K.T.S.E. (2018, GOOD Music / Def Jam)

De todas as canções apresentadas em The Life of Pablo (2016), Fade permanece como uma das mais icônicas. Mesmo que sobreviva de forma independente na composição das batidas e rimas lançadas por Kanye West, parte expressiva do sucesso e boa repercussão em torno da faixa vem da bem-sucedida parceria com a cantora/atriz Teyana Taylor no clipe da canção. Um ato de profunda entrega e interferência colaborativa, como se a artista nova-iorquina delicadamente se apoderasse da obra do rapper. Satisfatório perceber nas canções de K.T.S.E. (2018, GOOD Music / Def Jam), segundo e mais recente álbum de inéditas da cantora, um perfeito exemplar dessa mesma força criativa. Parte da prolífica sequência do “Wyoming Sessions”, série de obras produzidos e apresentados por West em um intervalo de poucas semanas, o registro de oito faixas mostra não apenas o domínio do rapper norte-americano na composição das batidas, como, principalmente, a entrega de Taylor em estúdio. Leia o texto completo.

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#45. Oneohtrix Point Never
Age Of (2018, Warp)

A grande beleza no trabalho de Daniel Lopatin como Oneohtrix Point Never está na completa imprevisibilidade de cada composição assinada pelo produtor. Em um território de pequenas incertezas, o artista nova-iorquino parece brincar com a interpretação do ouvinte, convidado a se perder em meio a fórmulas abstratas e rupturas estéticas que dialogam com diferentes campos da arte de forma autoral, sempre provocativa. Um contínuo desvendar da própria identidade artística, cuidado que se reflete na ambientação torta de Age Of (2018, Warp). Trabalho mais audacioso musicalmente de toda a carreira de Lopatin, o registro de 13 faixas parte sempre de uma estrutura linear para, lentamente, se perder um universo de ruídos e corrupções estéticas. Exemplo disso está na autointitulada faixa de abertura do disco. Concebida em meio a pianolas medievais, a canção parece flutuar entre passado e presente, costurando mais de cinco séculos de música de forma tão sensível quanto anárquica, proposta reforçada na solução ruidosa e manipulação de samples da compositora inglesa Jocelyn Pook nos instantes finais da canção.

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#44. Tanukichan
Sundays (2018, Company Records)

Às vezes, para mim, é mais fácil escrever músicas do que falar sobre as coisas. Muitas coisas na vida são em camadas e paradoxais, mas com a música, parece sempre ser mais simples“. A frase utilizada no texto de apresentação de Sundays (2018, Company Records), álbum de estreia de Tanukichan, diz muito sobre a forma como Hannah Van Loon explora as próprias composições. Versos centrados na completa vulnerabilidade de sua realizadora, sempre inclinada a explorar os próprios sentimentos e conflitos amorosos de forma essencialmente honesta. Não por acaso, Loon escolheu Lazy Love como faixa de abertura do disco. Enquanto os versos refletem a completa melancolia da cantora – “Você sabe que eu faria qualquer coisa / Você não sabe que eu tento o meu melhor? / Se eu pudesse acordar quando o sol nascer / Amor preguiçoso” –, musicalmente, a canção aponta para o passado, se espalhando em meio a camadas de ruídos e texturas sujas que transportam o ouvinte para o final da década de 1980. Um reciclar de velhas experiências, reflexo da colaboração constante entre a artista de Oakland, Califórnia, e o músico Chaz Bear (Toro Y Moi), produtor do álbum. Leia o texto completo.

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#43. Father John Misty
God’s Favorite Customer (2018, Sub Pop)

Depois de um longo período de espera, Alex Turner e os parceiros de banda do Arctic Monkeys voltaram com o conceitual Tranquility Base Hotel & Casino (2018). Primeiro registro de inéditas do quarteto britânico em um intervalo de cinco anos, o álbum utiliza de um cenário fictício — um hotel futurístico localizado no Mar da Tranquilidade, onde, em 1969, pousou o módulo lunar da Apollo 11 —, para discutir temas como o descontentamento com a fama, a necessidade em evoluir criativamente e o melancólico isolamento de qualquer indivíduo. Interessante perceber nas canções de God’s Favorite Customer, quarto e mais recente álbum de Josh Tillman como Father John Misty, uma obra que claramente se apoia nos mesmos temas e reflexões intimistas, porém, se esquiva da poesia morosa de Turner. Dois registros conceitualmente próximos, porém, trabalhados de formas completamente diferentes, afinal, enquanto Turner busca dar significado a versos ocos, ocultando informações de forma enigmática, Tillman revela muito mesmo na simplicidade das letras. Versos angustiados que se projetam em um cenário real — o Bowery Hotel, em Nova York, onde o músico passou grande parte de 2017 isolado. Mesmo a base instrumental do disco, delicada, partilha da mesma essência nostálgica do grupo inglês. São melodias polidas e temas orquestrais que refletem a sofisticação de Harry Nilsson, Randy Newman e Scott Walker em diferentes clássicos espalhados pela década de 1970. Leia o texto completo.

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#42. Adrianne Lenker
Abyskiss (2018, Saddle Creek)

Seja como integrante do Big Thief, com que lançou o doloroso Capacity (2017), há poucos meses, ou mesmo em carreira solo, Adrianne Lenker sempre fez das próprias desilusões a matéria-prima para a delicada composição dos versos e melodias consumidas pela dor. Um permanente exercício de exposição sentimental e entrega, angústia que se reflete com naturalidade a cada novo fragmento poético do segundo e mais recente registro autoral da norte-americana Abyskiss (2018, Saddle Creek). Sequência ao material entregue há quatro anos, em Hours Were The Birds (2014), o novo álbum mostra Lenker em sua forma mais sensível, costurando melodias acústicas em meio a poemas guiados pela profunda honestidade dos temas. São versos cíclicos, como mantras que se entrelaçam em meio a movimentos sutis das guitarras e violões. “Ninguém pode ser meu homem, seja meu homem, seja meu homem … ninguém pode ser minha mulher, seja minha mulher, seja minha mulher“, canta de forma angustiada e incessante em From, conduzindo o ouvinte para o interior da faixa, como uma passagem para a mente atormentada da própria artista, sempre orientada por relacionamentos fracassados. Leia o texto completo.

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#41. Kanye West / Kid Cudi
Kids See Ghosts / Ye (2018, GOOD Music / Def Jam)

Sempre prolífico, em 2018, Kanye West decidiu elevar o próprio trabalho a um novo patamar. Em um intervalo de poucas semanas, o rapper norte-americano revelou ao público nada menos do que cinco obras inéditas assinadas em parceria com diferentes representantes da cena estadunidense. Da rima lisérgica de Pusha-T, em Daytona, ao R&B doloroso que marca as canções de Teyana Taylor, no ótimo K.T.S.E., sobram instantes de profundo acerto, sensibilidade que se revela de forma ainda mais expressiva nos dois registros que West assume o papel de protagonista, Ye e o colaborativo Kids See Ghosts, reencontro com o parceiro de longa data, o rapper Kid Cudi. De essência delirante, vide faixas como 4th Dimension, Reborn e Yikes, ambos os registros transitam em meio a versos consumidos pela depressão, crises existencialistas, conflitos e instantes de profunda libertação pessoal.  “E nada dói mais, me sinto livre / Nós ainda somos as crianças que costumávamos ser, sim, sim / Eu coloco minha mão no fogo, para ver se ainda sangro / E nada dói mais, me sinto meio livre“, rima em Ghost Town, música que se conecta diretamente ao trabalho com Kid Cudi, indicativo do estranho universo que embala as canções dos dois registros. Leia o texto completo / Leia o texto completo.

 

        

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.