Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2013 [50-41]

/ Por: Cleber Facchi 16/12/2013

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Gang do Eletro

#50. Gang do Eletro
Gang do Eletro (DeckDisc)

Quem escapou da invasão paraense comandada por Gaby Amarantos e Felipe Cordeiro no último ano, dificilmente conseguiu se esquivar da Gang do Eletro. Com o primeiro registro em estúdio em mãos, o quarteto comandado por Waldo Squash provou ir além do catálogo de melodias avulsas firmadas até pouco tempo, solucionando no uso de sintetizadores homogêneos e no bom humor dos versos uma forte aproximação entre as faixas. Naturalmente despretensioso, o disco é a porta de entrada para o universo Neon-Tropical que vai da capa aos arranjos da obra. Pronto para as pistas – daqui ou do exterior -, o álbum soluciona em faixas como Só No Charminho e Piripaque um tratamento frenético, caráter sustentado pela trica vocal de Keila, Maderito e William Love, como na aparelhagem eletrônica de Squash. Morada de algumas das composições mais pegajosas do ano, caso de Velocidade do Eletro e Esquenta, o disco segue até o último instante em uma atmosfera de festa – estágio dificilmente replicado por qualquer outro lançamento de 2013. [+]

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Loomer

#49. Loomer
You Wouldn’t Anyway (Midsummer Madness)

Não há nada em You Wouldn’t Anyway, álbum de estreia da banda gaúcha Loomer, que outros representantes do Shoegaze/Dream Pop já não tenham experimentado anos antes. Todavia, o contraste entre o manuseio rústico das guitarras e as melodias acessíveis parecem encaminhar o quarteto para um território musicalmente renovado, menos íntimo da produção estrangeira e naturalmente próximo da cena nacional dos anos 1990. Enquanto músicas como Mammoth Butterfly e Road To Japan reforçam a atmosfera melancólica do trabalho, cruzando vozes e guitarras em um apelo íntimo do clássico Loveless (1991), outras como Dark Star e Painkiller arrastam o ouvinte para um jogo abafado de experiências. Um ambiente que contrasta sonhos e pesadelos dentro de um cenário totalmente particular. Sem dever em nada ao que The Pains Of Being Pure At Heart, Yuck e outros artistas “próximos” desenvolvem lá fora, o registro condensa na solução de ruídos a matéria-prima para um ambiente de formas flutuantes e arranjos capazes de brincar com o entendimento do ouvinte durante todo o percurso. [+]

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#48. Phill Veras
Gaveta (Oi Música)

A estreia solo de Phill Veras poderia ser resumida apenas em um conjunto específico de inspirações reaproveitadas. Os versos que brincam de Caetano e Chico, as vozes que soam como Marcelo Camelo e o instrumental que passeia pela velha MPB constituem toda a formação do brando Gaveta. Entretanto, o bem aproveitado uso das melodias, a comunhão dos instrumentos e a atmosfera dividida entre o tímido e o crescente garantem ao trabalho uma expressiva reformulação de todas as marcas que anuncia como base. O resultado desse detalhamento está na construção de 13 faixas versáteis, músicas que encontram na melancolia confessa do músico maranhense um ponto de sublime passagem para o ouvinte. Tratado em um sentimento de descoberta – lírica e instrumental -, o cantor faz de cada música um objeto isolado e de tímido experimento. Enquanto Faz (em parceria com Ana Larousse) ecoa como um mergulho na Bossa Nova, A Estrada passeia livremente pelo Folk estadunidense, quebra conceitual que abastece de forma atenta o disco até o último acorde. [+]

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CESRV

#47. CESRV
One Thousand Sleepless Nights (Beatwise)

Enquanto a cena britânica se encaminha para a expansão do UK Garage e a produção estadunidense abraça de vez o Ghetto House/Juke, em São Paulo um movimento muito específico vem ocupando parte da produção local. Conjunto expressivo desse novo universo está nas mãos (e batidas) do selo Beatwise Records, coletivo que agrega nomes como Cybass e Sants, além de seu próprio criador, Cesar Pierri, ou como prefere se apresentar, CESRV. Depois de dois bem sucedidos EPs – Chances (2012) e Nowhere (2013) -, o artista assume na construção de One Thousand Sleepless Nights um som cada vez mais dinâmico e amplo. São referências que vão da música negra da década de 1970 (The Way I Feel About You) aos inventos eletrônicos dos anos 1990 (How I Miss 90’s). Essências que garantem a Perri uma obra plural, mas que em nenhum momento se esquiva de traços próprios, marcados pela homogeneidade constante dos arranjos. Um imenso ponto de convergência de tudo o que define o novo cenário eletrônico – aqui ou lá fora. [+]

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Bárbara Eugênia

#46. Bárbara Eugênia
É O Que Temos (Oi Música)

O passado é parte fundamental do presente temático que orienta É O Que Temos. Seguindo álbum solo de Bárbara Eugênia, o registro ameniza de forma detalhada a relação com a música estrangeira do debut Journal de BAD (2010), revelando uma cantora ainda mais próxima da nossa música. Seja na psicodelia nacional ou no passeio pelo romantismo brega dos anos 1970, cada faixa instalada no registro parece direcionar Eugênia em um ambiente liricamente bem resolvido e atrativo ao grande público. Impulsionado pela versão de Porque Brigamos, faixa originalmente marcada pela voz da cantora Diana, o disco costura relacionamentos fracassados (Roupa Suja) e o abandono da cantora/personagem (Sozinha) em um tratamento sempre melancólico, mas nunca exagerado. São faixas que se despedem de antigos amores e seguem com firmeza rumo a um cenário de libertação, proposta que músicas como Não Tenho Medo da Chuva e Não Fico Só, parceria com Tatá Aeroplano, transmite com uma sobriedade envolvente. [+]

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Cambriana

#45. Cambriana
Worker EP (Independente)

Depois de apresentar ao público as regras e o cenário próprio de House Of Tolerance (2012), chega a vez do coletivo goiano Cambriana expandir esse mesmo jogo de possibilidades. As melodias de vozes ainda apontam para a cena norte-americana, porém, enquanto no álbum de estreia, o grupo parece fluir como uma extensão do trabalho de bandas como Grizzly Bear e Local Natives, em Worker EP todas as marcas e referências instrumentais revelam uma identidade antes oculta. Quem espera por canções crescentes e marcadas pelo uso exato das guitarras só precisa estacionar em What Light? e 47 Daughters. Já quem busca por experimentos controlados e arranjos sutis precisa apenas de It Never Works para ser instantaneamente sugado pelo disco. Os versos em inglês, na contramão de outros registros próximos, parecem fluir com maior naturalidade, como um típico exemplar da cena nova-iorquina, mas residente em solo tropical. Com postura de banda adulta, o grupo, mesmo com um catálogo curto de novas faixas, reforça sem porque é um dos mais interessantes da nova cena nacional. [+]

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Phillip Long

#44. Phillip Long
Gratitude (Independente)

O catálogo imenso de obras caseiras e registros quase artesanais trouxeram ao cantor e compositor Phillip Long uma maturidade poucas vezes observada em outros artistas do gênero. Depois de quatro registros em estúdio entregues somente no último ano – Atlas, Sobre Estar Vivo, Dancing With Fire (A Folk Opera) e Caiçara -, o músico paulistano trouxe em Gratitude sua obra mais segura até aqui. As melodias do vozes entrelaçadas aos arranjos parecem romper com a fragilidade de outros exemplares do mesmo estilo, fazendo do álbum um projeto encorpado, denso e ainda assim essencialmente delicado. Naturalmente apontando para a cena norte-americana, o músico vai do Folk ao Alt. Country sem parecer desgastado ou possivelmente dono de um resultado marcado pelo plágio. Acompanhado de nomes como Phill Veras e Laura Wrona, Long garante ao disco uma atmosfera forte de crescimento, exercício que se completa nas letras de romantismo aguçado, não mais enquadradas pela dor, mas em delicado agradecimento e paixão. [+]

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Epicentro do Bloquinho

#43. Epicentro do Bloquinho
Hegelianos de Direita (40% Foda/Maneiríssimo)

Colisão musical entre Lucas de Paiva, Savio de Queiroz, Gabriel Guerra e seus equipamentos analógicos, Epicentro do Bloquinho é, de forma natural, a base para todas as composições que abastecem o selo carioca 40% Foda/Maneiríssimo. Em Hegelianos de Direita, primeiro grande exemplar da trinca de produtores, cada uma das seis canções do trabalho assumem o que parece ser a trilha sonora para um time de personagens específicos – representados de forma anunciada no título de cada música. Cruzamento entre as tapeçarias sintéticas que De Paiva trouxe no último ano (com o People I Know), além das experiências etéreas testadas por Gabriel Guerra (como DJ Guerrinha ou mesmo pelo Dorgas), cada faixa se esparrama de forma precisa entre sintetizadores atmosféricos e batidas matemáticas. Misto de Actress e toda a soma de veteranos da IDM nos anos 1990, o álbum expõe o resultado mais atrativo de toda a sequência de projetos, independente da ironia exposta ou qualquer outro exagero temático que seus criadores queiram causar. Há algo de muito estranho na cena musical carioca, e este disco é a melhor representação disso. [+]

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Fernando Temporão

#42. Fernando Temporão
De Dentro Da Gaveta Da Alma da Gente (Independente)

O exagero romântico que ocupa parte da “Nova MPB” perece ter encontrado significado autêntico nos versos de Fernando Temporão. Para a construção do doce De Dentro Da Gaveta Da Alma da Gente, o músico carioca trouxe de volta toda uma carga de referências há muito desgastadas dentro do gênero. A diferença em relação ao que define o primeiro disco solo do cantor e outras obras próximas está na forma como o “amor” ecoa renovado, simples, mas não menos encantador. Marcado pelas confissões sublimes, o álbum assume em canções como O que é bonito e Cá Pra Nós um azulejo jovial, tratamento que garante passagem direta para se relacionar e em pouco tempo hipnotizar o ouvinte. A produção e os arranjos de Kassin contribuem de forma honesta para a consolidação da obra, que dança entre guitarras coloridas e uma bateira (de Domenico Lancellotti) instável durante toda a construção das faixas. De longe, o registro mais apaixonado do ano e a apresentação definitiva de um dos nomes mais interessantes da nossa música. [+]

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Hó Mon Tchain

#41. Hó Mon Tchain
Ascensão (Independente)

Em um cenário onde muito já foi cantado/rimado sobre a cidade de São Paulo, Ascensão, trabalho de estreia do coletivo Hó Mon Tchain, prova que ainda há muito a ser feito dentro desse mesmo universo temático. Delineado pela composição inteligente dos arranjos – assinados com inteligência na produção de Mud -, o registro vai de encontro ao que há de mais particular na cena norte-americana dos anos 1990, firmando na aproximação natural entre o Jazz e o Hip-Hop um plano de fundo imenso para a chegada dos versos. São faixas como Sin City da Garoa, Dorme no Nosso e Empenho que atravessam as periferias e assumem um discurso de notável grandeza e amplidão – independente de classes ou possíveis barreiras conceituais. A composição atenta dos arranjos, bem como o catálogo de possibilidades impresso nas letras, garantem um acabamento cotidiano ao registro. Uma obra que na singeleza de Amizade ou na melancolia sublime de A Vida até Parece um Filme assume um espaço específico e talvez até mais belo dentro do que caracteriza o presente rap nacional. [+]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.