Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2016 [10-01]

/ Por: Cleber Facchi 20/12/2016

[10-01]

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#10. Séculos Apaixonados
O Ministério da Colocação (Balaclava Records)

Não é difícil montar uma lista de artistas recentes que são assumidamente inspirados pela música produzida na década de 1980. Projetos nacionais e estrangeiros que sufocam pelo uso exagerado de sintetizadores vintage, batidas ecoadas, estética neon e versos sempre pegajosos, radiofônicos. Um eterno resgate do passado, maquiado e vendido ao público como novidade. Exageros, clichês e pequenas fórmulas instrumentais que os integrantes da Séculos Apaixonados buscam perverter nas canções de O Ministério da Colocação (Balaclava Records). Segundo álbum de estúdio do coletivo formado por Gabriel Guerra (voz e guitarra), Lucas de Paiva (teclado e saxofone), Felipe Vellozo (baixo), Arthur Braganti (Teclado e Voz) e Lucas Freire (bateria), o sucessor do elogiado Roupa Linda, Figura Fantasmagórica (2014) confirma a busca do quinteto carioca por um som ainda mais complexo, anárquico e desafiador. São sintetizadores sujos, ruídos submersos e versos abafados que tanto refletem o caos dentro de qualquer centro urbano como as constantes variações do mercado financeiro. [Resenha]

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#09. Rashid
A Coragem da Luz (Independente)

“Você já teve um sonho?”, pergunta Rashid logo nos minutos iniciais de A Coragem da Luz (Independente). Obra de realizações, o primeiro álbum em estúdio do rapper paulistano indica uma completa transformação do artista em relação ao material produzido para as últimas três mixtapes – Dádiva e Dívida (2011), Que Assim Seja(2012) e Confundindo Sábios (2013). Rimas que discutem preconceito, cobiça, os excessos dentro das redes sociais e a convivência em uma sociedade cada vez mais caótica, raivosa, porém, alimentada por instantes breves de esperança. “O que fizemos aos senhores / Além de nascer com essa cor? / E de sorrir lindamente, diante / De nossa amiga dor?”. Tendo como ponto de partida a provocativa A Cena, composição entregue ao público em novembro do último ano, o trabalho de 15 faixas amarra passado e presente em uma estrutura que vai da escravidão (DNA) à horda de zumbis digitais (Laranja Mecânica). Conceitos anteriormente explorados por Criolo em Convoque Seu Buda (2014) e Emicida em O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (2013), mas que encontram novo enquadramento nas rimas e referências lançadas por Rashid. [Resenha]

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#08. Barulhista
Desfiado (Fluxxx)

Desfiado (Fluxxx) é um disco que começa pela capa. A fotografia em preto e branco de um homem maduro e seu rosto coberto pela barba. Pelos escuros e claros que lentamente perdem em um emaranhado sem fim. Uma perfeita representação do som experimental e essencialmente complexo que o mineiro Davidson Soares busca desenvolver em cada uma das dez faixas que marcam o novo registro de inéditas como Barulhista. Inaugurado pela sutileza de Trança, música que conta com pouco mais de 11 minutos de duração, o 13º álbum do produtor de Belo Horizonte é uma obra de movimentos contidos, porém, sempre precisos. Preguiçosos sintetizadores climáticos se espalham ao fundo de cada composição. Ruídos eletrônicos, captações urbanas e batidas tortas. Pouco mais de 60 minutos em que o músico se concentra na produção de diferentes paisagens sonoras, sempre detalhistas, acolhedoras. [Resenha]

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#07. Jonathan Tadeu
Queda Livre (Geração Perdida)

Eu juro por Deus / Que eu me esforço / Mas não posso deixar você / Esperando a saudade nascer em mim”. A angústia toma conta de grande parte dos versos de Queda Livre (2016, Independente). Segundo e mais recente álbum de inéditas do cantor e compositor mineiro Jonathan Tadeu, o sucessor do entristecido Casa Vazia (2015) mostra a evolução do artista em relação ao trabalho apresentado há poucos meses. Versos que traduzem a amargura do próprio compositor, mas que acabam criando uma espécie de relação e intimidade com o ouvinte. “Talvez seja melhor / Aprender a lidar/  Com a própria solidão / Antes de viver a dos outros”, canta em Ninguém se Importa, um sadcore econômico, típico dos trabalhos de Elliott Smith, e que parece servir de base para toda a sequência de apenas 10 composições que recheiam o disco. Um som angustiado, intimista, proposta que acompanha o ouvinte até os últimos instantes do trabalho, vide a derradeira O mundo é um lugar bonito e eu não tenho mais medo de morrer – “Quanto mais me impediam de ser, mais eu ia sendo tudo aquilo que eu não podia ser”. [Resenha]

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#06. BK
Castelos & Ruínas (Pirâmide Perdida)

Batidas secas se espalham sem pressa em cima do uma base acinzentada, densa. Samples empoeirados se perdem ao fundo de cada composição, como se antigos discos de vinil dessem voltas em torno de uma sequência esquizofrênica de vozes e melodias. Claustrofóbicas rimas sujas detalham o cotidiano de uma mente sufocada pelo caos de qualquer centro urbano. Personagens, confissões e melancólicas histórias de superação dançam uma valsa lenta, torta, levemente descompassada. Em Castelos & Ruinas (Piramide Perdida), primeiro registro em carreira solo do carioca Abebe Bikala, sonhos, desilusões, delírios e tormentos pessoais servem de estímulo para a poesia intimista produzida pelo rapper. Uma clara extensão do mesmo som atormentado que o artista vem desenvolvendo como integrante do coletivo Nectar Gang, porém, mergulhado em um universo de temas e referências ainda mais complexas, pessoais, resultando em um trabalho essencialmente sombrio. [Resenha]

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#05. Bruna Mendez
O Mesmo Mar que Nega a Terra Cede à sua Calma (Falante)

Bruna Mendez parece seguir o caminho oposto de grande parte dos artistas originais da cidade de Goiânia. Longe da psicodelia, cores e parcial estado de leveza que abastece a obra de conterrâneos como Carne Doce e Boogarins, sobrevive na voz arrastada, versos entristecidos e melodias acinzentadas a base de cada canção assinada em parceria entre a cantora e Michelly Jardim. Retalhos melancólicos que se agrupam sem pressa dentro do primeiro álbum de estúdio da musicista, O Mesmo Mar que Nega a Terra Cede à sua Calma (Falante). Observado de forma atenta, Mendez parece se relacionar muito mais com a presente safra da música mineira do que com a essência colorida do som produzida dentro da própria cidade de origem. Difícil não lembrar do trabalho assumido pela cantora Jennifer Souza e os parceiros da Transmissor – principalmente no álbum De Lá Não Ando Só, de 2014. Mesmo a voz de Mendez, por vezes íntima do estilo de Elis Regina, soa como uma delicada interpretação da obra de Milton Nascimento pela eterna Pimentinha. [Resenha]

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#04. Céu
Tropix (SLAP)

Batidas e vozes minimalistas, sintetizadores carregados de efeitos, o baixo volumoso e guitarras sempre precisas, levemente dançantes, como uma delicada ponte para diferentes épocas e tendências da música eletrônica. Quatro anos após o lançamento do psicodélico Caravana Sereia Bloom (2012), Céu se despede do som enevoado de composições como Retrovisor e Amor de Antigos para investir em pequenos experimentos e temas sintéticos, marca do quarto registro de inéditas da cantora,Tropix (SLAP). Precioso em cada sussurro, batida ou entalhe eletrônico, o álbum, uma parceria entre a cantora paulistana, Pupillo, baterista do Nação Zumbi, e o músico francês Hervé Salters, traz de volta a mesma atmosfera letárgica incorporada no clássico Vagarosa, de 2009. Uma obra de limites bem definidos, estratégica, conceito explícito na confessional e crescente Perfume do Invisível, música de abertura do disco, e uma espécie de trampolim criativo para o ondulado de beats que vai do Trip-Hop de Bristol ao som atmosférico dos anos 1970. [Resenha]

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#03. O Terno
Melhor Do Que Parece (Natura Musical)

O peso das guitarras, a clara evolução na construção dos versos e a busca declarada por novas sonoridades. Com o lançamento do segundo álbum de estúdio, em agosto de 2014, os integrantes d’O Terno deram um verdadeiro salto criativo em relação ao elogiado debut 66 (2012). Nada que se compare ao amadurecimento expresso nas canções de Melhor do Que Parece (Natura Musical), terceiro registro de inéditas da banda paulistana e um delicado conjunto de versos, referências extraídas de diferentes épocas e possibilidades que crescem do primeiro ao último instante do disco. Descomplicada e leve, como um típico produto radiofônico dos anos 1960/1970, a poesia de Tim Bernardes chega até o ouvinte desprovida de possíveis bloqueios. São músicas que detalham uma variedade de sentimentos essencialmente complexos (Depois que a dor passa), discorrem de forma cômica sobre os principais tormentos na vida de um jovem adulto (), e ainda visitam diferentes cenários de forma nostálgica, marca da sensível Minas Gerais, oitava faixa do disco e uma das mais belas homenagens já escritas para o estado que carrega o nome da canção. [Resenha]

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#02. Carne Doce
Princesa (Independente)

O caminho percorrido pelo Carne Doce em Princesa (Independente) está longe de parecer o mesmo do trabalho que apresentou a banda em 2014. Ainda que a essência psicodélica do quinteto de Goiânia seja preservada em cada uma das canções do novo álbum, sobrevive na poesia feminista de Salma Jô, sussurros intimistas e instantes de puro experimento a base do presente trabalho. Uma colisão de fórmulas, ruídos e temas propositadamente instáveis, como se para além de um possível amadurecimento e da famigerada “prova do segundo disco”, o grupo continuasse a se reinventar. Sem pressa, o novo álbum se espalha preguiçoso, detalhando cada fragmento de voz, batida ou acorde que escapa das guitarras de Macloys Aquino e João Victor Santana. Das 11 composições que preenchem o registro, quatro ultrapassam os seis minutos de duração, como se parte das ambientações testadas pela banda nas apresentações ao vivo fossem incorporadas em estúdio. Da abertura do disco, em Cetapensâno, passando por músicas como Carne Lab e Açaí, o grupo – completo com os músicos Ricardo Machado e Aderson Maia –, parece seguir em uma medida própria de tempo. [Resenha]

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#01. Mahmundi
Mahmundi (StereoMono)

Marcela Vale passou os últimos quatro anos colecionando hits. Do som empoeirado de Efeito das Cores, EP lançado em 2012, passando pelo R&B melancólico que cresce em Setembro, bem-sucedido registro de 2013, cada trabalho assinado pela cantora e compositora carioca parece estreitar a relação entre o pop nostálgico da década de 1980 e a som que marca o presente cenário. Uma colisão de ideias, melodias e vozes que acabou resultando em faixas como Calor do Amor e Sentimento – vencedora na categoria Nova Canção no Prêmio Multishow de 2014 –, base para a pequena “coletânea” que marca a homônima estreia da jovem artista. Das dez composições entregues pela cantora, apenas cinco foram produzidas especialmente para o registro – que conta com distribuição pelo selo StereoMono, casa de artistas como Jaloo e Boogarins. Quase sempre, Calor do Amor e Desaguar, resgatadas de Efeito das Cores; Leve inicialmente apresentada no EP Setembro, enquanto Sentimento, faixa de encerramento do disco, foi originalmente lançada em 2014. Canções já conhecidas do público fiel da artista, porém, musicalmente reformuladas, íntimas da mesma ambientação límpida que orienta o restante do trabalho.

De essência melancólica, intimista, cada faixa cresce como um delicado exercício de exposição sentimental. “Quando tudo terminar enfim / Meu desejo transformado em saudade Te espero, te espero, te espero / Não vá”, desaba Mahmundi em Azul, uma síntese de toda a tristeza que corrompe a obra. Em Eterno Verão, primeiro single do trabalho, uma extensão “comercial” do mesmo tom confessional e amargo que rege o álbum. “E é tão fácil, tão mágico, se perder no coração”, canta Vale enquanto guitarras e sintetizadores dialogam com o mesmo som pegajoso de Guilherme Arantes. [Resenha]

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[50 – 41] [40 – 31] [30 – 21] [20 – 11]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.