Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2016 [40-31]

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2016

[40 – 31]

_

#40. Filipe Alvim
Beijos (Pug Records)

Romântico, cafona, sensível. Em Beijos (2016, Pug Records), primeiro álbum de inéditas em três anos, o cantor e compositor mineiro Filipe Alvim faz de cada composição ao longo do registro um fragmento marcado pela confissão. Entre sussurros melancólicos (“Você pensa que está bom / Mas podia estar melhor”) e versos essencialmente intimistas (“Você tem / O poder / Sobre mim”), a construção de um trabalho que parece feito para grudar na cabeça do ouvinte. Inaugurado pelos dramas e versos atormentados de Vida Sem Sentido, faixa de abertura do disco, o sucessor de Zero EP (2013) mais uma vez posiciona Alvim como personagem central de uma obra marcada pela desilusão. Enquanto os arranjos de guitarra se desmancham lentamente, revelando um som empoeirado, íntimo dos trabalhos de Mac DeMarco e outros românticos do rock atual, uma solução de versos amargos aponta a direção seguida em grande parte do trabalho. [Resenha]

_

#39. Wado
Ivete (Independente)

Depois de flertar com a música eletrônica em Samba 808 (2011), incorporar elementos da “bossa nova” no delicado Vazio Tropical (2013) – obra que conta com a produção do músico Marcelo Camelo –, além de esbarrar na crueza do rock que marca o raivoso (e ainda recente) 1977 (2015), o cantor e compositor alagoano/catarinense Wado regressa ao mesmo território dançante que serviu de base para a construção de obras como A Farsa do Samba Nublado (2004) e Terceiro Mundo Festivo (2008). Em Ivete (2016, Independente), nono registro de inéditas do veterano, um descomplicado jogo de vozes, rimas, batidas e ritmos que instantaneamente convidam o ouvinte a dançar. Dez composições inéditas em que Wado, inspirado pela voz e energia da cantora Ivete Sangalo – “Ivete é a musa a não ser alcançada, ela é norte, mas não é ela quem canta o disco” – mergulha de cabeça na sonoridade da Bahia e grande parte da cultura tropical que movimenta o Norte e Nordeste do país. [Resenha]

_

#38. El Toro Fuerte
Um Tempo Lindo Para Estar Vivo (Bichano Records)

Se a gente tivesse se conhecido quando era criança e fosse brincar de ciranda na casa da sua avó será que a gente percebia que a gente se dava bem?”. A poesia nostálgica da inaugural Se A Gente Tivesse Se Conhecido indica o tom melancólico que orienta grande parte do primeiro álbum de estúdio da banda mineira El Toro Fuerte. Depois de uma sequência de composições avulsas, o delicado Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo (Bichano Records) marca a estreia do trio João Carvalho (vocais, guitarra, baixo), Gabriel Martins (bateria) e Diego Soares (baixo, guitarra, vocais). São 10 canções marcadas pelo uso honesto de temas confessionais e existencialistas (Flagelo), histórias sobre romances fracassados (Mudança), além de um delicado passeio temático que tem início na adolescência (Se A Gente Tivesse Se Conhecido) e seque até o alvorecer da vida adulta (Quando seus pais). Uma imensa colcha de retalhos sentimentais que se espalha e envolve cada fragmento de voz presente no disco, delicado do primeiro ao último sussurro. [Resenha]

_

#37. ^L_
The Outsider (ANTIME)

Há dois anos, quando lançou o primeiro álbum da carreira, Love is Hell (2014), o brasiliense Luis Fernando, ou simplesmente ^L_, parecia caminhar em um terreno de pequenas incertezas. O canto torto de Justin Timberlake em My heart is a quasi-stellar radio source, a eletrônica suja, ancorada em diferentes regras e referências nostálgicas, ruídos e temas dançantes que pareciam transportar o ouvinte para diferentes cenários em um curto espaço de tempo. Um permanente ziguezaguear de possibilidades que assume um caminho ao mesmo tempo instável e coeso dentro do segundo álbum do produtor: The Outsider (ANTIME). Logo na abertura do disco, a versatilidade e o equilíbrio da crescente Phill Spector. Delicado resumo de toda a obra, a canção inicialmente alimentada por sintetizadores e ambientações brandas – um típico fragmento de Brian Eno em clássicos como Ambient 1: Music For Airports (1978) e Apollo: Atmospheres and Soundtracks (1983) -, lentamente se parte em um mundo de colisões e batidas instáveis. Ruídos, efeitos e encaixes certeiros que aproximam a obra da mesma cena eletrônica que abasteceu a cena britânica no começo dos anos 1990. [Resenha]

_

#36. JP Cardoso
Submarine Dreams (La Femme Qui Roule)

Eu conheci meus melhores amigos andando de bicicleta na rua / caindo e ralando os joelhos”. O explícito sentimento nostálgico que marca os versos de I Met My Best Friend Skipping Waves On The Beach parece dizer muito sobre o som produzido pelo mineiro JP Cardoso. Em Submarine Dreams (La Femme Qui Roule), primeiro álbum de estúdio do cantor, recordações calorosas da infância dialogam de forma sublime com a instrumentação montada de forma atenta para cada composição. Produzido em parceria com o músico Leonardo Marques, um dos integrantes da banda mineira Transmissor, o trabalho de apenas dez faixas cresce como um involuntário resumo de todo o universo de artistas que abasteceram o cenário norte-americano durante grande parte da última década. Nomes como Death Cab For Cutie (You never Let Me Ride), The Shins (We Don’t Have to Grow Up) e até grupos recentes, caso da banda californiana Best Coast (Crab Shells). [Resenha]

_

#35. INKY
Animania (Uivo Records)

Quem já assistiu a um show da INKY —mesmo sem conhecer as canções da banda — sabe como é fácil ser hipnotizado pela eufórica performance do quarteto paulistano. Paredões de guitarras em um constante duelo com o baixo de Guilherme Silva, o ritmo frenético das batidas que se projetam como um alicerce para os sintetizadores insanos de Luiza Pereira. Interessante perceber em Animania (2016, Uivo Records), segundo álbum de inéditas do grupo, uma completa transposição da mesma energia das canções apresentadas vivo para dentro de estúdio. Sucessor do elogiado Primal Swag, de 2014, o novo registro cresce como a fuga declarada de uma possível zona de conforto. Parcialmente livre do conceito “eletrônico” que parecia direcionar o trabalho entregue pela banda há dois anos, o álbum de oito faixas cresce em um perfeito diálogo entre o uso de elementos sintéticos e detalhes orgânicos, efeito da ativa interferência de elementos percussivos e instrumentos de sopro que passeiam de forma expressiva ao fundo do trabalho. [Resenha]

_

#34. Raça
Saboroso (Freak)

De vozes e arranjos minimalistas, propositadamente restritos, Saboroso (Freak), segundo álbum de estúdio da banda paulistana Raça, sustenta nos detalhes a real beleza de cada composição. Músicas ancoradas em conflitos pessoais, medos e temas cotidianos que se destacam dentro do ambiente urbano, por vezes claustrofóbico, musicalmente incorporado pelo grupo – Popoto Martins Ferreira (voz e guitarra), Thiago Barros (bateria), Novato Calmon (voz e baixo) e Lucas Tamashiro (guitarra). Como a lancheira escolar que estampa a capa do disco logo indica, Saboroso, diferente do antecessor Deu Branco, de 2014, encontra em versos nostálgicos e histórias de um passado ainda recente um curioso ponto de partida para grande parte das composições. Não se trata de um álbum marcado pela saudade, como reforçou o vocalista Popoto em recente entrevista, mas “memórias de uma fase extremamente instável” de cada integrante da banda. [Resenha]

_

#33. Sammliz
Mamba (Natura Musical)

Como vocalista do Madame Saatan, Sammliz e os parceiros de banda passaram grande parte da última década brincando com as possibilidades. Versos cantados em português, diálogos com a música regional produzida no Norte do país, e todo um conjunto de experimentos que bagunçaram o ambiente restritivo e, muitas vezes preconceituoso, do metal brasileiro. Um verdadeiro ensaio para o som que cresce livre no interior de Mamba (Natura Musical), primeiro registro da cantora em carreira solo. Denso do primeiro ao último acorde, o álbum de 10 faixas — primeiro registro da artista desde Peixe Homem (2011), ainda como integrante da Madame Saatan —, mostra Sammliz em um ambiente dominado pelas guitarras e versos obscuros. Personagem central da própria obra, a cantora sussurra, grita, encolhe e cresce a todo instante, mergulhando em uma série de ambientações que atravessam o rock da década de 1970 e rivalizam com o som de bandas como Queens of The Stone Age. [Resenha]

_

#32. Hierofante Púrpura
Disco Demência (Balaclava Records)

“Seremos a banda do ano?”, pontua o coro de vozes ensandecidas nos instantes finais de Cachorrada. Ainda que o questionamento seja apenas um fragmento complementar à cômica narrativa assinada por Danilo Sevali, difícil passear pelas canções de Disco Demência (Balaclava Records), mais recente álbum da Hierofante Púrpura, e não perceber o registro como um dos trabalhos mais significativas da cena independente nos últimos meses. Resultado da ativa interferência de cada integrante da banda – além de Sevali (voz, teclados, guitarra), completa com Helena Duarte (baixo, voz), Gabriel Lima (guitarra, voz) e Rodrigo Silva (bateria) –, o álbum construído a partir de cinco composições extensas reflete o que há de melhor no material produzido pelo grupo de Mogi das Cruzes: a loucura. Em um intervalo de apenas 40 minutos, cada canção se transforma em um experimento torto, insano. [Resenha]

_

#31. M O O N S
Songs of Wood & Fire (La Femme Qui Roule)

Songs of Wood & Fire (La Femme Qui Roule) é um disco que se revela em essência antes mesmo que a primeira música, a instrumental Hunting You, tenha início. Do título bucólico – “canções de madeira e fogo”, em português –, passando pelo trabalho do artista plástica Jade Marra para a capa do álbum – um momento de afeto e proximidade de um casal –, cada fragmento da obra serve de indicativo para a poesia doce e arranjos sempre delicados de André Travassos na estreia como M O O N S. Mais conhecido pelo trabalho com o temporariamente extinto grupo Câmera, coletivo responsável por registros como o ótimo Mountain Tops (2014), Travassos faz de cada uma das canções dentro do presente álbum um registro de pura intimidade, leveza e melancolia. Composições marcadas pela dor, saudade ou mesmo ensolarados sussurros românticos, como se o cantor e compositor mineiro fosse capaz de interpretar diferentes personagens e suas histórias ao longo da obra. [Resenha]

_

[50 – 41] [30 – 21]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.