Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 28/01/2011

Parafusa
Brazilian/Alternative/Indie Pop

 

A febre Los Hermanos já estava instalada no Brasil. Cada estado enviava o seu exemplar de novo grupo de salvadores do rock na tentativa de serem eles os novos reis da cena. Da fértil Recife sobraram bandas, que tentaram de todos os jeitos explodir para o restante do país com a mesma intensidade do grupo carioca. Nenhum conseguiu, mas no meio dessa batalha um quarteto trabalhado em delicadezas se sobressaiu em meio a tantos artistas tão comuns: o Parafusa.

Ao contrário de boa parte dos grupos que vinham inspirados pelo Mangue Bit em suas composições, o quarteto recifense formado por Juliano Ribeiro (Teclado), Tiago Araújo (Baixo), Lucas Araújo (Bateria), Diogo Andrade (Guitarra) ia buscar no rock e na MPB dos anos 70 referências para suas composições. O resultado dessa soma de sons do passado com toques de modernidade está em Meio-Dia na Rua da Hamonia (2004).

Em cada uma das doze composições viam-se claras as influências de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, assim como de Secos e Molhados, Mutantes da fase progressiva, Chico Buarque (por conta dos vocais) além de referências mais antigas como Beach Boys, Beatles e Jovem Guarda. Além do rock e da MPB vinham também composições dotadas de sons puramente atemporais e regionais. Há frevo, marchinhas de carnaval, música circense e ritmos nordestinos, todos aplicados sem que em nenhum momento soem artificiais.

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Nas letras o grupo se aventurava em contar histórias, sendo cada uma delas marcadas por algum ritmo diferente. Em Não sei dançar (Bailarina) vem com o conto de um homem apaixonado por uma bailarina que embalado por um ritmo circense tragicômico vai se aproximando da garota e escrevendo canções de amor para ela. Marchinha como o próprio nome já diz vem carregada de instrumentação festiva. No melhor estilo Chico Buarque vem A Dama do Porto, embalada por belos acordes de violão que lembram muito Minha História (Gesubambino), do álbum Construção (1971).

O grupo ainda fala de amizade através da nostálgica A história de Boi Tatau, que abre espaço para que cada instrumentista brinque com um curto solo de seu instrumento, com direito inclusive a trechos do hino-nacional dentro da composição. Para Quando Dormir vem embalada por um solo intenso de teclados, daqueles típicos de grupos da década de 1970. Sobra até espaço para o quarteto se curar de um coração partido em Vou Cantar Noutro Quintal, com uma letra curtíssima com direito a palavras de baixo calão e ótimos solos de guitarra e teclados.

Pouco após o lançamento do disco, que rendeu ao grupo boas críticas e algumas apresentações além de Recife, veio o anúncio do fim da banda. Seus integrantes seguiram dando continuidade em outros projetos, mas nenhum conseguiu atingir o mesmo patamar lírico da estreia do Parafusa.

Meio-Dia na Rua da Hamonia (2004)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Mombojó, China e Volver.
Ouça: A história de Boi Tatau

 

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.