Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 16/05/2011

Siba e a Fuloresta
Brazilian/Alternative/Folk
http://www.myspace.com/sibaeafuloresta

Por: Cleber Facchi

Uma das maiores provas da força e durabilidade estabelecidas pelo movimento manguebeat no começo dos anos 90 está no clássico moderno Toda vez que eu dou uma passo o mundo sai do lugar (2007), autoria do pernambucano Siba Veloso em parceria com a banda Fuloresta. Embora siga por uma via levemente diferenciada daquela escolhida por Chico Science e Fred Zero Quatro, o trabalho brinca com a mescla de sons, trazendo para dentro do disco uma sonoridade mais acessível que une elementos do maracatu, ciranda, samba, frevo e diversos aspectos do regional nordestino.

Ex-Integrante da banda Mestre Ambrósio e profundo pesquisador da música nordestina, Siba foi ao encontro de Cosmo Antônio (percussão), Biu Roque (bateria e percussão), Zeca (percussão), João Minuto (saxofone), Galego do Trombone (trombone), Roberto Manoel (trompete), André Tubista (tuba) e Mané Roque (vocais), simplesmente os maiores musicistas da Zona da Mata pernambucana, para que juntos recriassem um universo totalmente próprio, repleto de lirismo, regionalismo e vivacidade.

Enquanto Siba toma conta dos arranjos e se responsabiliza pela criação das letras que dão vida ao disco, o octeto que o acompanha assume com propriedade ímpar a criação de texturas quentes, repletas de nuances plurais, onde percussão e os arranjos de sopro dialogam em uma linguagem poucas vezes vista na música contemporânea. Dos mínimos e quase imperceptíveis ruídos de chocalho, aos fortes sopros de tuba, tudo soa de forma grandiosa dentro do álbum, transformando o que seria um singelo disco, em uma verdadeira festa popular.

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Como se não bastasse a profusão de músicos oriundos da Fuloresta dentro do projeto, Siba trouxe uma boa composição de parceiros para que estes abrilhantassem ainda mais o que já reluzia intensamente com o disco. Na quase mística Cantar Ciranda é a voz suave de Céu que se espreme por entre o corpo de percussão, enquanto em Alados, o toque suave das guitarras vem ecoado pela destreza de Lúcio Maia (Nação Zumbi), feito que Fernando Catatau (Cidadão Instigado) assume em Meu Time.

Assim como a instrumentação do trabalho chega carregada pelo toque regional, os versos não poderiam ser diferentes. Há desde o explorar de temas como o ocultismo em A velha da capa preta (“E a morte anda no mundo na forma de um esqueleto/ Montando um cavalo preto/ Pulando cerca e cancela”), quanto referenciais totalmente específicos, feito o encontrado Meu Time, faixa que lamenta o rebaixamento do time de futebol Santa Cruz (“Meu time foi rebaixado/ Pra terceira divisão/ Ninguém pode ganhar campeonato/ Se o juíz não tem mãe nem coração”).

Diferente do primeiro disco lançado em parceria com a Fuloresta – A Fuloresta do Samba, álbum de 2003 – Toda vez que eu dou uma passo o mundo sai do lugar se projeta como um trabalho melhor resolvido e instrumentalmente melhor coordenado. Em suas faixas torna-se perceptível um aspecto totalmente convidativo e festivo, como se todo o disco contasse com um caráter de ao vivo, mesmo sendo inteiro de estúdio, um registro mais solto, mas ainda assim compromissado. Um álbum feito para ser apreciado de forma ininterrupta da primeira à última faixa, para que haja uma entrega do ouvinte, assim como há a de seus compositores.

Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar (2007)

Nota: 8.7
Para quem gosta de: Mestre Ambrósio, Orquestra Contemporânea de Olinda, Eddie
Ouça: Meu Time

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.