Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2011

Lê Almeida
Brazilian/Lo-Fi/Indie
http://www.myspace.com/lealmeida

Por: Cleber Facchi

 

Enquanto Céu, Lucas Santtana e Cidadão Instigado competiam pelo posto de disco do ano em todas as publicações musicais de 2009, o novato Lê Almeida, munido apenas de um singelo EP foi pouco à pouco combatendo o alto escalão da música alternativa e se instalando confortavelmente como um dos melhores daquele mesmo ano. Ressoando boas guitarradas distorcidas, vocais sujos e tomado pelo espírito do “Faça você mesmo”, o carioca resgatava uma temática há muito esquecido no rock nacional e fazia de seu álbum um dos mais pegajosos daquele período

O trabalho em questão é REVI, uma pequena coleção de oito faixas, gravadas pelo próprio músico em seu quarto e fazendo uso apenas de um microfone acoplado a um computador, com todos seus instrumentos captados com o auxílio desse mesmo mecanismo. Sujo do princípio ao fim e seguindo a lógica iniciada por Robert Pollard (Guided By Voices) nos anos 90, Almeida trouxe de volta um ideal há anos presente em terras tupiniquins, mas parcialmente esquecido: o de fazer música com afinco, mesmo em meio a tantas situações adversas.

Se na década de 1990 bandas como Pelvs, Brincando de Deus, Wry e Astromato, mesmo enfrentando os mais variados empecilhos (como a ausência de uma gravadora que os desse suporte adequado, custos altos para gravar um disco independente e equipamentos de gravação caseira deveras arcaicos) conseguiram dar formas a trabalhos gloriosos, como em plenos anos 2000, dotado dos mais variados aparatos tecnológicos alguém não poderia dar vida à sua própria música? É partindo desse ideal que o carioca faz de seu disco um conjunto de canções, que embora ruidosas (quase sempre de forma intencional), acabam por revelar um entusiasmo e um lirismo único.

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O trabalho conta com menos de 20 minutos, repleto de faixas que vão dos 40 segundos aos 3 minutos de duração, tempo mais do que suficiente para que o músico deixe escorrer seus versos e acordes tomados por uma sensação que se divide entre o nostálgico e o pulsante. As guitarras – quase serras elétricas recortando o miolo das faixas – invadem os ouvidos como se uma avalanche de distorções desabassem de súbito, expondo todas as tonalidades exploradas por Almeida em seu trabalho.

Entretanto é ao cantar em português que o músico tem seu grande acerto em REVI. O que poderia ser um pequeno registro chupado em sua completude do rock indie norte-americano, acaba por se converter em algo próprio, com o carioca fazendo de seu cotidiano o grande mote para suas composições. Entre homenagens ao cantor mineiro Beto Guedes (Canção para Beto Guedes), anseios sobre aquilo que o músico nunca teve (Nunca Nunca), problemas amorosos (Eu não vou acreditar) ou questionamentos de um jovem adulto (22 anos), Lê Almeida converte seus versos em algo grudento, pop e ainda sim sujo e específico.

Lançado em formato digital e vinil 7” através de uma parceria entre os selos Midsummer Madness – casa de alguns dos maiores nomes do rock independente carioca e nacional – e Transfusão Noise Records – especializado em trabalhos dessa natureza – REVI circulou rápido por grande parte da blogosfera, servindo de inspiração para que uma sequência de futuros trabalhos (todos tomados pela mesma estética lo-fi) fossem encontrados. Era apenas o princípio para que quartos se convertessem em estúdios, e adolescentes entusiasmados em músicos.

REVI EP (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Top Surprise, Looking For Jenny e Astromato
Ouça: Nunca Nunca

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.